fevereiro 10, 2010

A casa da Mia

Parei em frente a um prédio chique de Higienópolis e me senti imediatamente deslocada. Isso não vai dar certo, pensei, metida num jeans surrado com meu All Star favorito – o que imaginei ser uma roupa apropriada para passar uma “noite com as meninas” vendo UFC. O problema é que eu nunca tinha ido na casa da Mia antes. Mal sabia direito onde era, tive que jogar o endereço no Google e descobri, um pouco tarde demais, que ela morava numa fucking mansão. Ou praticamente isso.
 
Assim, não que seja difícil morar melhor do que eu e o Fernando, não é?
 
Nosso prédio ficava no meio de uma das principais bocas da cidade – e definitivamente a minha roupa era mais apropriada para aquilo do que para aquele edifício imenso que claramente tinha apenas um apartamento por andar. Onde fui me meter? Depois de uma certa espera, a mãe da Mia atendeu a porta. Fala aê, sogrinha. Sorri. E ela fez uma imediata cara de desaprovação. Era uma dessas peruas que andam por aí com lenços caros no pescoço, as unhas feitas. Sabe? E eu certamente não era o que ela esperava ver ali.
 
Cruzamos o apartamento sem trocar uma palavra. Aquele lugar devia ter alas inteiras que eu nunca veria. Me levou até o quarto onde estavam as “meninas”. Eram seis, incluindo a Mia – todas aos berros com a televisão. Eu estava claramente atrasada. As lutas já haviam começado há algum tempo. Sentei ao lado da Mia no chão e me diverti observando as reações empolgadas do grupo a cada soco ou joelhada. Sempre achei que a Mia destoava das suas amigas do Mackenzie, mas rapidamente percebi que isso era só porque não as tinha visto daquele jeito.
 
Aquilo era diversão de primeira classe.
 
A quantidade de palavrões embriagados mal cabia entre as quatro paredes da salinha. E quando digo “embriagados” é de tanta latinha de cerveja e baldes de pipoca vazios espalhados pelo chão, chutados acidentalmente cada vez que uma das garotas gritava com a televisão. Eu não sabia porra nenhuma sobre UFC. Ou qualquer outro esporte – todo o meu pouco conhecimento sobre futebol foi adquirido contra a minha vontade por convivência com o Fer e o meu velho. Mas a Mia me explicava quem eram os lutadores, as regras, cochichando por cima do meu ombro e rindo da minha falta completa de referência.
 
As horas mergulharam madrugada adentro. Em um dos intervalos, me levantei para buscar mais cerveja na geladeira – o último de muitos engradados – e me perdi pelo apartamento por um instante. Essa bagaça é um labirinto. A cozinha ficava do outro lado da sala de estar e, em minha defesa, a porta estava posicionada em um lugar que não fazia o menor sentido. Debrucei-me sobre a geladeira e, sem que a tivesse ouvido chegar, a Mia me abraçou por trás – colocou os braços ao redor do meu pescoço, apoiando-os nos meus ombros.
 
_Precisa de ajuda... – perguntou, soando bêbada e feliz – ...aí?
 
Respirei fundo. Isso acaba comigo, mano. Todo aquele contato com ela, o jeito como era comigo. E acho que a Mia sequer se dava conta – mas o meu coração disparava, toda vez. Por mais casual que fosse. A gente andava nos encostando mais nos últimos tempos. Ela me abraçava, apoiava a cabeça no meu ombro, segurava a minha mão na fucking varanda dos outros. Era quase como se estivéssemos nos esbarrando inconscientemente. E isso era um problema – dada a incapacidade do meu coração de separar as coisas.
 
Não sabia o que pensar. Não depois da festa, e de como terminou. Sentia que ela tinha desenvolvido algum tipo de afeição por mim, mas que não chegava a ser romântica. Menos ainda sexual. Parecia meio, adolescente? Não sei. Sentia que, às vezes, a Mia me equiparava às suas amigas. E aí não entendia quando resolvia entrelaçar secretamente os seus dedos nos meus, por debaixo duma almofada, para que as outras não percebessem. O que você tá fazendo, garota? Eram todos aqueles sinais ambíguos demais – indiretos demais – pairando entre nós. E isso me enlouquecia. O vai-e-num-vai. Toda aquela discrição, porra. Num chove-não-molha o tempo todo.
 
Mas eu não queria que ela parasse.

15 comentários:

  1. Ah to adorando!!!!
    Comecei a ler esses dias e li tudo rapidinho...
    parabéns

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  2. Delicia!

    Deu ate vontade de estar vendo essa luta ai hauahuaha!

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  3. Mas essa Mia.... ou cavalga ou sai de cima do cavalo... kkkkk!!!

    Beijoos minha escritora Preferidaa!!

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  4. pega o comentário: "Mas essa Mia.... ou cavalga ou sai de cima do cavalo... kkkkk!!!"

    com as mudanças fiquei um tempão sem ler, algo que não pode voltar a acontecer... Abstinência, total, não mais..

    tá otimoo! (já falei, né? hehe)

    Sdds
    Rrr! ;**

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  5. Noelly é assim q a gente fala aki no sul!!!!


    Amoo esse blog!!!

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  6. Friends ♥ achei otima a expressão.. lembrei de MG (sou mineira)..

    vamos fazer um chat dentro do blog.. hehe

    Também amoo esse blog (e a dona)!!!

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  7. Concordo com o chat dentro do blog.... Sem falar que Noelly é uma deusa...

    rsrsrsrrs....

    Beijos!!!

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  8. Porra, tu arrasa pra caralho.

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  9. Esses contatos... É de matar qualquer um...

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  10. Leio pela terceira vez e meu coração ainda acelera :$

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  11. Nhom, adoro essa sequência na casa da Mia ♥

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