- »

julho 20, 2010

Boa vizinhança

Num impulso, tirei o celular do bolso mais uma vez. Pois é. Tem vezes em que a gente escolhe pisar na jaca – ir lá e meter o pé bem de propósito. E essa começava a se tornar uma delas. Num misto de amargura e orgulho. Eu não precisava sequer transar. Que se foda. Só queria sair de perto daquele inferno de apartamento e ocupar a cabeça com qualquer coisa que não fosse a presença do Fer.
 
Ou a ausência da Mia.  
 
Onde cê se meteu, porra?, observei a tela por um instante, sentindo uma rejeição incômoda, sem entender onde tinha errado. Tudo o que me passava pela cabeça, depois de me despedir dela na porta do Mackenzie, era quando a veria de novo. Ou quando nos falaríamos mais uma vez. E quanto mais horas se passavam sem qualquer sinal dela, que aparentemente não podia digitar nem cinco ou seis palavras na porra do telefone, mais eu me sentia insignificante. Sem saber, de repente, o que fazer com o quão perdidamente apaixonada eu me sentia depois de tudo o que aconteceu entre nós. Caralho. Meu coração doeu no peito, incorrespondido. E eu encarava obsessivamente a droga daquela caixa de mensagem. Ainda vazia. Como você consegue, Mia? Passar a noite comigo e ir encontrar ele assim?, senti uma angústia apertar minha garganta. Voltar para os braços dele enquanto a sua pele ainda tem as marcas das minhas mãos? Por todas as horas que passamos contra os tacos de madeira no chão do seu quarto, com o gosto da minha boca na sua? Como se não tivesse sido nada?
 
E sim, parte de mim queria se vingar. Eu só não sabia ao certo qual – se era a autodestrutiva ou a que desesperadamente tentava me preservar. Que se dane. Fechei a caixa de mensagens, numa decisão amarga, e comecei a rodar a minha lista de contatos.
 
O problema é que eu estava sem um puto no bolso e isso reduzia consideravelmente as minhas possibilidades. Passei nome por nome, sentada na calçada em frente ao prédio. Que situação. Por mais que eu estivesse magoada, outro lado de mim não queria cometer os mesmos erros do passado. Não podia mais atropelar os sentimentos dos outros como fiz com a Roberta. Ou a Dani. E achar alguém que não fosse uma completa má escolha naquela lista não era assim tão fácil. Sem contar a famigerada e gigantesca chance de desligarem bem na minha cara.
 
Não. Não. Não. Não. Definitivamente não. Não. Não. Não. Talvez.
 
Foi quando os meus olhos pararam sobre a Thaís, uma amiga que morava a poucos quarteirões dali e que eu não via desde a última festa do apartamento. Era a companhia ideal para aquele sábado. Ela morava perto dum boteco de sinuca na Peixoto Gomide. E não – nós nunca tínhamos ficado. Apesar de às vezes, sim, darmos em cima uma da outra. Era tudo sempre meio que na brincadeira. A Thaís gostava de flertar com todo mundo e eu nunca sabia se ela estava levando a sério. Então fazia o mesmo. E os nossos rolês geralmente acabavam com nós duas tropeçando de bêbadas numa sarjeta ou pegando outras pessoas – era descomplicado.
 
Quatro toques do telefone e ela atendeu, como se tivesse acabado de acordar.
 
_Fala, sapatão... – achei graça, rindo da sua voz de sono – ...que cê tá fazendo?
_Velho, nem sei... Tava capotada aqui no sofá.
_Não quer ir jogar umas aí embaixo?
_Opa – ela riu – Agora?
_Já tô na calçada, mano. A hora que cê quiser.
_Vamos.
 
Ótimo. Levantei na mesma hora, já me sentindo automaticamente melhor. E antes de devolver o celular ao bolso, sem pensar direito, digitei um “qria te ver, meu...” sincero para a Mia.

14 comentários:

Anônimo disse...

ahammm a primeiraaa.....
Meu, muito garota-macho-comedora-abaladora esse post....
gAMEI

Bastard

Anônimo disse...

aaah. non acredito. a ação ainda fica pro próximo??? sacanagem.

Liz M. disse...

porque, né, tô rindo desesperadamente com "Oi, tô afim de comer alguém e você é o que tem pra hoje!"

(me recuso a comentar o começo do post, rhum! hahaha)

Juliana Freitas disse...

to na lista >>venimimGFM<< shaushaushausasuaus qqr dia ,qqr hr..... adro ver como ela pensa!!!

Talita disse...

Mel muito foda to rindo aqui sozinha,não prestar tbm é digno neh..rs

Anônimo disse...

Hahahahahahahahahahahahahahahaha
vc é a pessoa mais imprestável do brasil..... olha o post........ perfeitoo

disse...

Hum, adoro a praticidade que a Fm tem pra resolver os seus problemas... o foda é que nem sempre o jeito mais fácil é o melhor, mas bora lá viver pq o que importa mesmo é o momento hahahahahaha, pena que depois sempre bate o medo, a insegurança e a angústia de estar sozinho mas pra FM isso nem faz diferença, pq o seu lado filha da puta e o seu alter ego mais filha da puta ainda sempre falarão mais alto. Ótimo post Mel, como sempre...

Anônimo disse...

ta complicado ler esse blog no dia de hoje! estou literalmente no papel da protagonista deus!

Bianca S. disse...

Nossa, tava sentindo saudades disso. FM TEM MAIS É QUE SAIR DA FOSSA! HAHAHHA. <33

Rayssa disse...

achei uma vibe muito Gabriel Pensador,sabe?
'2345Meia78!
Tá na hora de molhar o biscoito!
Eu tô no osso mas eu não me canso!
Tá na hora de afogar o ganso!' (NotaMusical)
tipo,ele passa pelo alfabeto todo
HAUAHHAUHA viso que só lendo aqui dnovo pra comentar que entendi a resposta da Mia HAUAHUA ain dells

Pri Araújo disse...

"Sempre tem uma Mia na história"

Meu, antes ela já não consegui pegar outras meninas sem pensar na Mia imagine agora, mas sei lá né... não custa nada tentar. ;)

PS.: SMSs hahaha

Lu disse...

O que seria mais cobiçado: ser um no. no telefone da Devassa ou o próprio celular da Devassa? Só por curiosidade ... :)

i. disse...

puuts, post foda !

matt. disse...

Devassa faz jus ao ''nome''. ;D