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agosto 09, 2010

Dia de folga

O lado bom de se apresentar à labuta quase diariamente com cara de merda e olheiras descomunais é justamente essa facilidade que eu tinha de mentir sobre o meu estado de saúde. Digo, quando metade do trabalho já está feito e estampado na sua cara não é necessário muito esforço para soar realmente convincente.
 
_Não estou me sentindo bem – eu forcei uma voz pesada, levemente ofegante, apoiada no batente da sala dele antes de sequer terminar de entrar.
 
Meu chefe levantou os olhos e observou a minha expressão arrasada de quem não tinha dormido a noite inteira por causa de uma porra de um SMS e depois passado o dia todo numa agonia interna por causa de uma garota, sem saber realmente que era disso que se tratava. E aí... simpatizou comigo. Beleza! Contive um sorriso e abaixei a cabeça para não dar bandeira, a fim de consolidar a minha patifaria.
 
O relógio do meu celular mal marcava 16:30 e eu já era uma mulher livre, a caminho do metrô. Vinte minutos depois e eu dava as caras na estação Consolação, vestida com a minha jaqueta preta e um lenço palestino colocado de qualquer jeito em volta do pescoço – não me sentindo nem um pouco doente. A tarde estava linda, ensolarada e fria pra caralho. Êê São Paulo, pensei com carinho, enquanto descia contra o vento gelado da Augusta, enfiando as mãos no calor confortável do bolso da frente do meu jeans.
 
O estúdio ficava umas quadras para baixo, dentro duma galeriazinha, e tinha vista para a rua através de uma janela imensa no segundo andar. Subi as escadas, cantarolando “Gimme Danger” na minha cabeça, realmente feliz por ter decidido ir. A cadeira onde a Mia estava ficava de lado para a escada. Entrei e dei de cara com ela só de calça, sentada ali, segurando a blusa nas mãos. Com os peitos e todas as outras tatuagens assim, descobertos. Puta merda. Assim que pisei para fora da escada, ela me olhou e sorriu – enquanto eu babava ao ver ela assim em plena luz do dia. Daquele jeito.
 
Uau.
 
Me aproximei e a cumprimentei, num impulso imprestável, segurando atrás da sua cabeça com os dedos entrelaçados em seu cabelo, e dando-lhe um beijo cheio de vontade a dois milímetros da sua boca. Aí puxei uma cadeira e sentei de frente para ela, me acomodando ali para desfrutar do que possivelmente seriam as melhores horas da minha vida, acenando um “alô” desinteressado com a cabeça para a tatuadora.
 
_Sofrendo muito aí? – eu sorri para ela.
_Não, tá de boa... Por enquanto tá dando pra levar – ela respondeu, indiferente à dor, e me sorriu de volta – Só quando chegar na costela, aí vai ser osso.
_E o que é?
_Cê não viu? – ela estranhou, rindo.
_Não... Deixa eu ver... – levantei e caminhei para trás da cadeira dela, do lado oposto da tatuadora, que rabiscava qualquer coisa na lateral das suas costas.
 
De um lado, estavam as flores de cerejeira, que começavam no ombro e desciam pela sua pele até um pouco depois de onde supunha-se estar a lateral da sua calcinha – e que me torturavam toda maldita vez que a Mia aparecia de shorts no apartamento. Agora, do outro lado, embaixo de toda aquela sujeira de sangue misturado com a sobra de tinta preta, a tatuadora traçava uma série semelhante de flores, quase espelhadas e que também deslizavam do seu ombro até o alto da sua coxa.
 
_Não é a mesma, é? – eu perguntei, observando as pétalas diferentes.
_Que a de cá? Não, não, é outra – riu – Tá ficando bonita?
_Tá – fiz uma pausa, como se analisasse – Só essa parte aqui em cima que... não sei, tá estranha.
_O quê?! – ela se agitou, preocupada, e a tatuadora foi obrigada a interromper o processo – Que parte?!
_Essa aí em cima, meu, o contorno tá meio torto... parece grosso... – me sentei, de novo, na sua frente e não me aguentei ao ver sua expressão de desespero; aí comecei a rir – ...tô brincando, trouxa. Relaxa.
_PORRA, MANO, QUE SUSTO!
 
Ela gritou comigo e a tatuadora lançou um olhar de reprovação na minha direção. Apoiei meus pés num banquinho que estava sobrando ao lado, cruzando as pernas e ainda achando graça.
 
_Deus – eu ri – Não acredito que cê caiu nessa, é a piada mais velha do planeta!
_Vai se foder – a Mia riu também e me bateu com a blusa que estava em sua mão – Não, sério agora... O que cê achou?
_Vai ficar linda, meu... – pisquei para ela, sincera.
_É? – a Mia sorriu de volta – Cê é a primeira a ver...
 
Ela me olhou, satisfeita. E eu me senti especial. É tão mais fácil assim, garota, só eu e você. De repente, tudo era descomplicado, tudo estava bem. Não importava mais se eu era ou não a primeira opção para acompanhá-la. Só importava que fosse eu quem estivesse lá.

17 comentários:

Glaucia disse...

" Era tão mais facil assim, so eu e ela "...

Nem precisa dizer nada neh...

Amei o topico

Gica disse...

AEEEEEEEEEEEEEEEEEEHH!!
Primeiraaa... (¬¬)
Awnn que linda elas......
EU QUERO MINHA TATTO ,AGORA!!
(E eu quero alguem para ir no estudio comigo...... alguma cantidata?)

*-*
Te voglio pio bene Mel!!

Anônimo disse...

Adoro a Mia, ela consegue ser super delicada sem ser nem um pouco fresca!
Team Mia!

Tá na hora delas se acertarem...

Gica disse...

(Deeeer, demorei tanto escrevendo o comentárioo que deixei de ser a primeira.... :'(

Talita disse...

Acordar a essa hora e ler um post todo fofo assim salva qqr segunda feira da chatisse..

Anônimo disse...

Poxa que fantasia heim? Um estudio de tattoo... hm*

Pri Araújo disse...

E dá pra acreditar que algumas horas atrás ela estava putinha e pensando o que responder pra Mia via SMS?

A distância abre espaço pra vários questionamentos e várias interpretações erradas. É muito legal isso de que quando estamos perto da pessoa que gostamos tudo passa, tudo fica lindo, todas dúvidas somem... Fica tudo perfeito.

Júlia Gallant disse...

Também gostei muito desse, Mel. :-) E a tattoo parece linda!

Jamile disse...

amei esse post, adoro essas conversinhas bobas das duas, a Mia é toda fofa =) hahaha

Anônimo disse...

fer fer fer fer...

Anônimo disse...

fer tem q morre.....credo não gosto dele
ai vcs pergunta e aquele anonimo do outro post atraz falando mal do fer sim sou eu o msm.kkkkkk

Marina disse...

Pois eh... nem contra, nem a favor do Fer, lembrando q ele dá suas puladas d cerca e sabe-se lá se ele morre de amores pela Mia.
Fazer tatuagem virou cantada agora haushuas. Se eu soubesse tinha me aproveitado disso na época q fiz a minha ¬¬

Anônimo disse...

eu quero que todo mundo que comenta ai que não tá nem aí pro fer tenha seu dia de fer. quer mesmo. só pra sentir na pele como é bom.

• the girl fucking Mia • disse...

Galera, vamos manter em mente que essa é uma história de FICÇÃO, ok... No hearts have been broken ;)

Anônimo disse...

to só esperando meu dia chegar de ser igual o fer SE chegar porq eu me garanto ^^ .mais se chegar fazer o q né aceitar de boa .ruim eu sei q é mais o fernando não e nem um santinnho tmb né.
é anonimo ai de cima o dia que chegar minha vez eu te conto como foi viu ?ok preocupa não kkkkkkkk
IGUAL EU FALEI ANTES SE CHEGAR PORQUE EU ME GARANTO haushaush'

B. disse...

Nao eh se garantir..a mia gosta do fer, mas amor eh uma coisa q nao da pra impedir! torço pros 3 ficarwm bem no final =)

Marina disse...

Rachei com a Mel querendo acalmar os animos da galera huasuashuahs