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janeiro 27, 2011

Flashbacks urbanos

Os semáforos já haviam parado de funcionar, piscando inertes em meio à madrugada. Aquela luz amarela se acendia, toda cheia, num contorno redondo, e depois se apagava. Aí piscava de novo, forte. De repente, sabe. Diante dos meus olhos, incansável, a observava indo e vindo. Fechava as pálpebras, sentada confortável no banco de trás, e sentia que o mundo cintilava ali de fora para dentro de mim. Encostada na porta, o rosto no vidro frio, sonhando acordada com os detalhes daquela noite com a Mia. Um segundo, e eu estava de novo contra a parede do banheiro; os ladrilhos de um lado e ela do outro. O meu corpo latejava junto com o sinal; as luzes amarelas, piscando. Numa memória sensorial.

O carro andou, mas meu pensamento não se movia. Sempre que saía da casa da Mia parecia que a minha mente não queria deixá-la – e ficava voltando. Podia vê-la, maravilhosa, descendo na minha frente, no fundo da minha imaginação. Viramos a esquina e os lábios dela encostaram na minha barriga. Senti um arrepio. Abri os olhos e vi a cidade se mover do outro lado do vidro; aí de repente, mais um beijo.

Meu deus

Podia senti-la como se estivesse ali, comigo, mas continuava sozinha. O táxi seguia pelas ruas escuras de São Paulo, nenhum ruído lá fora ou aqui; os nossos sons contra as paredes do banheiro enchiam os meus ouvidos, a minha cabeça. E eu divagava. Mais uma esquina, mais um beijo; a língua dela corria do meu umbigo até mais... mais embaixo. Suspirei, com a ponta do dedo entre os lábios. E me ajeitei no banco, desconsertada. Os olhos da Mia me observavam da altura das minhas pernas... me abaixei e a beijei; o seu gosto voltou à minha boca. Mais uma esquina, mais uma.

As suas mãos seguravam o meu rosto, perto do seu; sentia os meus joelhos contra o piso frio, abri os olhos. Reconheci a Augusta. Estamos chegando. Os meus dedos escorregavam por entre as coxas dela; ainda estávamos quarteirões demais para baixo. Passei a mão numa mancha que se escondia na lateral do meu pescoço e, a tocando, quase podia sentir a Mia me machucando. Mais um semáforo e minhas pernas se apertavam entre si, com saudade da sua boca.

A rua continuava cinza, desabitada. E eu sorri. Lembrava de cada palavra, cada movimento, por mais mínimo que fosse; cada segundo. E queria mais. Desesperadamente, queria mais – daquilo, de tudo. Dela. Era sempre, sempre ela. Na minha cabeça, me invadindo daquele jeito. Logo, no entanto, se acabaram as esquinas – e se acabaram, também, os beijos.
  
_Pode encostar aqui, vou descer ali perto do... – pedi ao taxista, apontando um bar cujo nome não me recordava, desistindo de dizê-lo.

Contei os reais no meu bolso e enfiei o troco atrás da calça ao sair. Entrei no boteco sujo e pedi um maço de cigarros para o dia seguinte – tinha esvaziado o meu com a Mia, horas antes. Por que sexo é diretamente proporcional à nicotina? Saí novamente na calçada, puxando um dos cigarros para fora do maço, e esperei para atravessar a rua. Coloquei o filtro na boca, conforme passava pela linha desenhada no asfalto, entre as duas faixas. Um carro vinha, bem ao longe, sem riscos.

Cheguei ao outro lado já acendendo o cigarro e guardei o isqueiro mais uma vez no bolso, enquanto caminhava em direção à Frei Caneca. A noite estava nublada, mas agradável, de um jeito bem paulistano. Um bêbado qualquer mexeu comigo – com uma cantada cretina – e eu o ignorei. Segui andando. Virei a esquina em direção ao meu prédio, sem vontade alguma de que aquela noite acabasse, ainda que já estivesse caindo de sono.
 
Quando entrei no apartamento já eram mais de quatro da manhã. E assim que me enfiei na cama,  exausta, senti vontade de falar com a Mia. Antes que percebesse, os toques sucessivos da chamada ao telefone começaram a cortar o silêncio do meu quarto – ecoando como vibrações indiferentes na minha mente vazia, que sequer se deu conta do que estava fazendo. Acompanhava lentamente a borda da cama com a ponta do dedo, sentindo a textura do lençol. E não percebi, em momento algum, que a Mia poderia, de fato, atender.

_Alô?! – ouvi sua voz sonolenta do outro lado da linha.
_... – arregalei os olhos, caindo atrapalhadamente na real, tentando entender o que se passava.
_Alô?! Você... – insistiu, baixinho – ...tá aí?
_Ahm. Oi?
_Hum... – ela pareceu respirar fundo, como se já estivesse quase dormindo – ...oi.
_Oi – repeti e apertei os olhos imediatamente, arrependida, assim que percebi que aquele era o terceiro “oi” de uma conversa de cinco segundos.
_Tá tudo bem? – perguntou, lenta e feliz  – Aconteceu alguma coisa?
_Tá... não... e-eu só... – me enrolei para me justificar – e-eu... não sei, na verdade. Desculpa, não pensei direito... – ri, brevemente – ...não sei porque liguei.
_Ahm... – ouvia ela rir do outro lado – ...sei.
_Muito ridículo dizer que eu já tava pensando em você?
_Um pouco... – ela riu, de novo.

Sorri, sem lhe dizer nada.

_Onde cê tá?
_Em casa já... – continuei, com a cabeça apoiada no travesseiro e falando tranquila – ...sabe, você me deve um maço.
_Devo? – ela achou graça.
_Sim. Com juros.
_Hmm... – a ouvia, como se ela fosse adormecer a qualquer momento – ...p-pode deixar que vou pagar.
_Oi? – perguntei, sem entender a última parte.
_Oi...
_Oi – eu ri.

37 comentários:

Nah disse...

Esse blog é viciante,quero sempre mais..rss

minduh disse...

ai, meu deus..

essa hora, esse calor... essas coisas.

Anônimo disse...

"Porque o sexo é diretamente proporcional à nicotina?" - isso que eu sempre me perguntei usahusah'

pra variar, mais um post genial. sério, ainda vou surtar lendo o que tu escreve Mel *-*

@a_lips disse...

Pra mim é proporcional as unhas.. Pqp não consigo parar de roer :(

Bom..bom o post!

Anônimo disse...

Gosteeei ! Vai ter mais? :) porfavoooor

Letícia disse...

Fico todo dia na espera de mais, mais e mais, viciei ! *--* Amo esse blog! (:

• the girl fucking Mia • disse...

Vai, siiim... Provavelmente amanhã! ♥ Muito obrigada pelos comentários e pela paciência, lindas(os)!

Anônimo disse...

Eu que agradeço pelo post, lindaa !

Isa Gratão disse...

Tem gnt bisbilhotando a vida dos outros pra escrever seus post né?! Mel querida ficou ótimo o post de hoje. Esse jeito q vc escreve meio sensual não ao ponto de ser erótico, mas o que o erotismo fica só na nossa cabeça, fascina qualquer um. Parabéns

Amanda disse...

Acho fantástica a maneira como tu descreves os sentimentos da FM e eu queria muito um postzinho especial onde a Mia narrasse pra que pudéssemos ver a história com o ponto de vista dela.
Elas são duas lindas, mas felicidade assim nunca dura tanto, né? Vamo ver...

=*

Looop disse...

Adoro quando o post vem assim, cheio de detalhes *.*
PARABÉNS pelo post, talento, criatividade...
Bj

Milk :D disse...

Com tanta frase linda fica dificil escolher qual eu vou tatuar

Beth Gibbons disse...

nossa, delícia, q detalhes...
amei..

Carol disse...

Adoooro!!!
Nuss...

Unknown disse...

Que feio, jogando lixo no chão.
FM é minimamente responsável pelos alagamentos paulistanos.

=P

Ianca' disse...

Ca-ra-lho!

Andrea de Lima disse...

a Cogumela falou o que eu ia falar!a FM SEMPRE joga cigarros ou o plastiquinho no chão. feio, feio. sabemos que ela tem como desculpa uma quase-licença-poética, mas continua sendo feio. mas, de qualquer forma, post delicioso. até daqui a pouco ;*

Anônimo disse...

Mel, seu sobrenome é perfeição!

Dynha disse...

Poxa Mel... a cada "episódio" isso se torna mais viciante...
o Fucking Mia deveria virar um seriado... #FIKDIK...

'duuda disse...

ai gente, preciso parar de atualizar isso aqui toda hora, fico nervosa
hahahahaha
ta demais, mel, sério!
beijo

Anônimo disse...

Ontem fui no show do D2 e eu lembrei da nossa autora hahaha. Só eu e uma amiga sabíamos cantar ELA DISSE, aeae \o/. Balanço de amor é assim... ;)

Ma disse...

Só uma coisa: Apaixonada por 'Flashbacks Urbanos'.
Fim.

Unknown disse...

Valeu a pena esperar. =)

Andrea de Lima disse...

não entendo pq vc não coloca comentários no Oh baby. ou tem e eu não sei? :O whatever, entendi tudo agora. não precisa agradecer, viu? a piscina já foi o suficiente, hahahahaha! brincadeira. MESMO! imensamente lindo o post do beijo, meu. tão perfeito quanto o vídeo, cada qual na sua perfeita inocência.

besos e até qualquer dia ;*

• the girl fucking Mia • disse...

Não tem, flor! :(

E não coloco por um motivo meio infantil: não tem muitos acessos no "Oh Baby, Coffee!" e acho desmotivante a falta de comentários em blogs.

Portanto, prefiro postar lá como se estivesse escrevendo só para mim mesma ou para as pessoas a quem se referem os posts...

Mas claro que preciso te agradecer, meu!! hahahaha Tirando eu e a dona musa inspiradora, você foi a maior colaboradora desse último! O que eu faria sem você? ♥ hahaha

Buenas... Considere o post de lá comentado (aqui). Obrigada, fofa! Até amanhã!!

Beijos!
;*


ps. E, PESSOAL, AGUARDEM UM POST AQUI NO FUCKING MIA AINDA HOJE... TÔ ESCREVENDO. ;)

Marina disse...

apologia a drogas, cigarro e bebida, bem bonito :P

• the girl fucking Mia • disse...

E sexo, né... que absurdo. ;)

Marina disse...

e promiscuidade... como pude eskecer hahaha
alguem enganou a gente dizendo q postaria hoje Oo

• the girl fucking Mia • disse...

Sem esquecer os palavrões e a homossexualidade, claro. ;) hahahahaha

E não enganei, eu bem tentei! Ontem, até bem de noitinha, mas não estava fluindo de jeito nenhum... retomei o post agora, vamos ver se sai! ;*

Marina disse...

eiii.. homossexualidade e palavrões são assuntos liberados pq m envolvem (H)

a intenção foi boa, mas eu não dormi esperando por ele =/
#pegadinhadomalandro, eu ñ dormi, pq ñ dormi, mas fikei esperando

Anônimo disse...

Os posts viraram semanais, quinzenais ou mensais? Quanta demora em postar.

Anônimo disse...

Ai ai realmente não podemos esquecer do sexo e homossexualidade *-* HAHAHAH

• the girl fucking Mia • disse...

Marina, nesse caso... Preciso justificar que acho a liberdade de fumar, beber, consumir e dormir com quem quiser tão bonita quanto a homossexualidade e palavrões. Apesar de não fazer muitas das coisas que aparecem no blog, coloco todas essas categorias no mesmo nível, porque acho lindo mesmo o livre-arbítrio. E porque o que o conceito do que é um modo de vida "correto" me incomoda um pouco :)

Aiiin, desculpa se te deixei esperando :( o post novo acaba de entrar, espero que goste! :) :)

E, anônimo, a freqüência das postagens sempre foi de acordo com a minha inspiração e disponibilidade para escrever. Não leve a mal... please. :)

Obrigada a todos que leram/comentaram ♥

Anônimo disse...

( the girl fucking Mia ) levo a mal não. É que ficar determinado tempo sem ler tua história se torna um martírio p/ mim. Afinal, é foda!
Mas de boa, valeu. Vou tentar ser mais paciente. ;)

• the girl fucking Mia • disse...

Aww, que fofa(o)! ♥
Vou tentar postar mais também... sorry :/

Marina disse...

Ihhhhhhhhhh eu jah vi essa história, janeiro no ano passado vc postou 30epokos posts em janeiro (se ñ m engano). Deixei acumular, passei um tepinho lendo td =P

Anônimo disse...

( the girl fucking Mia ) é fofa tá.
Façamos o que dissemos então, eu tento ser paciente e tu postar mais. Quites!

Beijão..