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fevereiro 26, 2011

As maçanetas

Sabe quando se está dormindo tão, tão fundo que se tem a impressão inconsciente de estar submersa? Pois lá estava eu, num túnel escuro de sono, afundada no breu. Uma caverna dentro da minha própria cabeça. E foi quando, bem lá no fundo, ouvi um barulho. Bem distante. Foi de repente, como se fosse algo estalando. Cléc-cléc. Um movimento mecânico. Me virei, pesada, para o outro lado, mas algo continuava em movimento, não muito longe de mim. Eu podia sentir ali, em algum lugar, por ali, mesmo que não prestasse atenção.

Outro ruído.

Começou a me puxar, no sentido contrário do túnel, me tirando do escuro, do sono profundo. Inconscientemente, passei a mão no rosto e o virei mais para o lado, me afundando contra o encosto azul marinho. A textura do sofá contra a minha pele parecia rude, mas estava gostosa, confortável. Então, veio mais algum barulho, de leve. Alguém disse, eu acho, disse alguma coisa. Sem muita vontade de ser ouvido, falou baixo.
 
E aí, de novo, mais um estalar. Cléc-cléc. Recuperei a consciência no segundo deles – abri os olhos e ainda estava no sofá. O cômodo estava bem mais escuro do que quando adormeci. As paredes estavam apagadas, em tons de cinza e marinho, imóveis e silenciosas. Que horas são? Me mexi com preguiça para o lado, tirando o celular do bolso com certo esforço e acendi o visor por um instante. 3:59. Dormi demais, que merda.

Coloquei o telefone no chão, próximo às chaves. Continuava com sono, meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão. O efeito Augusta. Me ajeitei para a esquerda, virando os braços e encarando mais uma vez o encosto, me preparando para dormir de novo. Só que aí ouvi mais um barulho, um pouco mais ao longe. Deixei os olhos abertos de novo, não resisti – a luz da cozinha estava acesa agora, notei. E a porta encostada, deixando escapar apenas uma fresta, um feixe de luz, no teto da sala. Suspirei, incomodada por ter sido acordada, meio sonolenta. As minhas pálpebras pareciam pesar a todo custo para baixo.

De repente, a luminosidade aumentou, cutucando os meus olhos cansados. E ao reabri-los, notei que a fresta estava bem maior do que antes. A porta, calculei. Uma movimentação quase silenciosa acontecia em frente a ela, no corredor. Tentei segurar a respiração por alguns segundos, a fim de ouvir o que diziam, mas não escutava nada além de passos que pareciam não sair do lugar. A sala estava mais silenciosa do que o comum para uma sexta à noite. Talvez tenha chovido, supus e senti um vento mais friozinho entrar pela janela, encostando nos meus braços. Isso explicaria a ausência de bêbados e baladeiros pelas calçadas da Frei Caneca.

_Mas eu qu... – ouvi alguém sussurrar, do nada.
 
O Fer? Talvez. Não consegui entender a frase toda. E não sabia quem estava com ele, mas estavam conversando. Por favor, desejei, qualquer pessoa menos a Mia. Meu coração acelerou, esquisito. Por favor, por favor. Seguiam cochichando alguma coisa, frente à cozinha, eu não conseguia acompanhar. Estava baixo demais. Pareciam se mover às vezes. Prendi a respiração novamente, em silêncio no sofá, tentando não ser notada ali.

_Não, deixa aí... Amanhã voc... – a outra pessoa cochichou.
_Vai estragar se eu deixar aí!
_Tá, vai lá, mas... – observei a porta se movendo, no teto, e escutei alguém mexendo na geladeira.

Aí nenhum ruído, por um instante.

_Ô... Cê quer o resto da Coca aqui? – ouvi, agora claramente, num tom bem mais alto, o Fer perguntar, aparentemente de dentro da cozinha.
_Não... – aí ela respondeu e, merda, era mesmo a Mia – ...o que cê tá fazendo aí?! Vem logo!

Poucos segundos depois, após mais alguns passos, ouvi o interruptor clicar e todo o cômodo ficou novamente escuro.

_Eu tava guardando lá, meu... – ouvi o Fer dizer, cochichando – ...você largou em cima da pia, porra.
_Shhh!

A essa altura, eu não estava mais conscientemente segurando a minha respiração, mas já não respirava. Os passos se seguiram, um atrás do outro, tentando não fazer barulho pelo corredor. E do nada, um pequeno estrondo. O idiota trombou na porta do quarto. Devia estar bêbado, o que só piorava tudo. Ambos riram, se contendo, e eu ouvi o som vir de longe. Bem baixinho. Escutei, então, a maçaneta se abrir e fechar novamente, no fim do corredor. Aí todo o som sumiu do apartamento. Completamente.

Fiquei sozinha na sala e, por um segundo, não me mexi – não conseguia. Parada, as costas contra o estofado do sofá e os olhos silenciosos no teto, inquieta. Respirei fundo. E então, me levantei. Sentei no escuro e acendi um cigarro, sem pensar. Deixei o maço e o isqueiro em cima da mesa de centro e olhei para a televisão apagada. Eu simplesmente não sabia o que fazer.

18 comentários:

Milk :D disse...

aaaaah meu deus D:
a Mia tinha que estar lá ? tinha ? aaah

Ekatomber disse...

impressionante como após um esbórnia bem dada, no caso em questão nem tanto, o peso da realidade não cai, desaba.

Tatiana Farias disse...

A Mia é uma safada, sacaneando a FM desse jeito... eu até gostava dela, mas assim não dá né, fica nesse vai e vem com o Fer e a coitada sofrendo...

Beijo, Mel :*

Anônimo disse...

SEGUINTE: tá na hora da TGFM resgatar o amor próprio. Não vejo na postura da Mia, nada além de uma certa atração. Sentimento, não vejo vindo dela. Sério, antes eu até tentei dar uma chance, mas agora a TGFM só se ferra e qdo Mia estalar dedo, ela derrete. TGFM merecia dar o acolta por cima. Já nem me importo se Mia vai fica rou não com Fe.
Beijos
eu piro nos seus pots

Anônimo disse...

que bosta...a mina com o cara la no quarto...:/

Anônimo disse...

Que post bom pqp !

Célia Matos disse...

Mel M., definitivamente vc é uma cronista...sabe manter suspense, prender o leitor e ainda manter a atração de quem lê...Sou sua fã.....e olha que eu leio muitíssimo. Menina vc é o show....que talento!

Monica disse...

Mr. Brightside feelings...


mas que caralho a Mia ainda estah fazendo com o Fer...


pqp...

FM precisa fazer uma pressao basica tbm gente!


e tenho dito...

R. disse...

:(

Anônimo disse...

Que Caralho a Mia com o Fer!
A Mia tem que SFD agr!

jamile disse...

a FM não tem mais amor própio, o que restava foi transferido e aumentado no que ela sente pela Mia. não parece mas a FM fodona de antes. deixou de pegar a menina por causa da mia, a mia tá pegando o fer atras dela e ela tá aí sofrendo? Mel para de fazer a FM e as leitoras sofrerem! dá um jeito nessa Mia ou faz a Marina dar uma acordada na FM heim.
hahahha beijo =))

Marina disse...

Ha... me divirto com a desgraça alheia haha =x

Dea disse...

eu punha fogo no puteiro! na verdade, não, faria um dramalhão. eles sabiam que a FM tava no sofá, por isso o silêncio. então, eu levantaria e entraria no quarto fazendo barulho e batendo a porta. mas assim, na mesma intensidade com a qual eu me imaginaria metendo a mão na cara da Mia. sério, é muita filhadaputice! aí eu ligava pra Marina e diria: tou indo aí. e sairia bem afetada, fazendo barulho pela casa, pra Mia ficar bem ciente de que ela é uma idiota. não quero mais as duas juntas, hunf.

Fanny Mencato disse...

a frase q se formou na minha mente e que qz gritei em vóz alta na sala de aula assim q terminei de ler essa postagem: QUE PUTA!!
imaginei a vontade de sumir ou de entrar no quarto e esquartejar os dois da GFM.
parabens pelo blog sua forma de escrever é viciante :)

Pathy disse...

FilhadaPutice é pouco.. Porra mia, eu ainda tinha esperança nesse romance Louco!! =(

Quero a FM de volta, toda mala e sem sentimentinhos pra cima da mia!! :@


Belo Post mel!!

Pathy disse...

Já ia me esquecendo.. Quem ganhou a parada la que a Noelly tava sorteando?? :D

Anônimo disse...

aneeem mel, fazendo as meninas lerem seu blog no meio da aula... HAHAHA claro né... o tanto que vc escreve bem e o jeito que vc prende a gente na história. Ninguém consegue segurar a vontade de ler!!

Sou sua fã demaaais!!
Beijãao

'duuda disse...

sério, essa mia só dando uma pancada na cabeça, vou te dizer!
i need some more, mel ):
quickly, AAAAA!
aiuheoiauhe
beijo!