_E então...?
A Mia me encarou, impaciente com o meu silêncio. Merda. Eu não vou conseguir. Tinha os braços cruzados, em pé na minha frente. Sequer pareciam os mesmos braços que me abraçaram semanas antes. Sua boca já não era a mesma, o seu corpo parecia não me conhecer mais. E por um instante, a observando ali, num par de calças largas demais e com uns fios de cabelo se soltando dum rabo frouxo, me ocorreu que eu nunca tinha amado ninguém daquele jeito. Completamente idiota por ela. E eu, eu estava cansada.
_Olha, eu... e-eu sei o que cê tá pensando... mas as... as últimas
semanas não... não foram... – ela começou a se enrolar numa desculpa não
solicitada – ...não é como... como se...
_Mia, na boa... – a interrompi – ...para.
Ela se calou, me olhando de volta.
Agia como se não fôssemos eu e ela, a uma distância estranha de si
mesma. Mas a sua presença ainda me amolecia, ia tirando a força dos meus
joelhos. Cacete. E eu tentava, insistia, me forçando a parecer
mais forte do que eu realmente era naquele momento –contraditoriamente feliz
por estar perto dela e com uma dor maldita no coração. As palavras sumiam de
mim e eu restava ali, impregnada pela dúvida. Hesitante.
Não. Eu, e-eu preciso fazer isso.
Engoli seco e respirei fundo:
_Escuta, é simples assim... – a encarei, séria – ...você sente
alguma coisa por mim?
_... – suspirou – ...não faz isso.
_Sente, Mia?!
_Eu... e-eu... – abaixou o olhar para o chão, meio pega de surpresa – ...não sei, e-eu...
_Não amor, Mia – a interrompi – Qualquer... qualquer coisa, porra. Sente? – a observava, com um nó no estômago – Já sentiu?!
Podia ver os seus olhos formarem um “sim” machucado – as
sobrancelhas franzidas, consternadas. Me observando de volta, apenas me
olhando, em pé na sua frente. Fica comigo, garota, meu coração implorava. E
as lágrimas já começavam a apertar a minha garganta. Tinha vontade de a
alcançar, de a beijar mais uma vez. Mas me continha. Será que era eu que
imaginava, que via o que queria? A sua boca continuava em silêncio, na
mesma covardia de todos aqueles dias. Se omitindo de nós duas. Pelo
amor de deus, fala.
_Você... v-você tem que entender, e-eu... – murmurou por fim, hesitante – ...eu amo ele.
_Tá bom, Mia.
Balancei a cabeça e me virei para ir embora, eu não preciso ouvir essa merda.
_Espera! – ela me segurou pela mão – É isso?!
_Mia... – senti o meu peito esmagar e o meu coração endurecer, me irritando – ...e-ele, ele não tá nem aí para você. O Fer, porra, ELE NÃO TÁ NEM AÍ! EU... – a encarei, levantando a voz – ...EU TÔ AQUI!
_É que... – ela suspirou, confusa – ...n-não sei, e-eu...
_Me escuta, por favor... – me aproximei dela, pressionando sua mão contra o meu peito, o meu coração, e falei baixinho – ...eu quero ficar com você, eu... e-eu amo você. E eu quero ficar do seu lado, porra. O q-que a gente tem é tão bom, você sabe que é. E e-eu, eu quero fazer a gente dar certo!
_...
_Mia... por favor.
_E-eu, desculpa... – os seus olhos encontraram os meus, marejados, quase como quem se despede – ...e-eu preciso tentar com ele.
Minha expressão mudou, de repente. E eu a senti diminuir dentro de
mim.
_Bom, então você vai perder nós dois... – respirei fundo, enxugando o rosto de qualquer jeito – ...na boa, cê não vale a dor de cabeça. Não mais, pelo menos.
Dei um passo para trás e me virei, me afastando antes que o meu
coração partisse ali, bem na sua frente. Não tenho mais nada para fazer
aqui. Não ia exceder os dois minutos que tinha prometido – pra ela e
pra mim mesma. Não queria mais arrastar aquela merda. E sim – podia ter falado
mais. Ter dito o quanto a amava, me declarado cem vezes, a lembrando de tudo o
que vivemos, me humilhando, implorando, podia ter contado da traição do Fer. Mas
não importava mais. Você, eu. Ele. Todos nós nos traímos, de
um jeito ou de outro. E agora tinha acabado. Finalmente, tinha acabado.
E eu... não sentia porra nenhuma.
A Mia me encarou, impaciente com o meu silêncio. Merda. Eu não vou conseguir. Tinha os braços cruzados, em pé na minha frente. Sequer pareciam os mesmos braços que me abraçaram semanas antes. Sua boca já não era a mesma, o seu corpo parecia não me conhecer mais. E por um instante, a observando ali, num par de calças largas demais e com uns fios de cabelo se soltando dum rabo frouxo, me ocorreu que eu nunca tinha amado ninguém daquele jeito. Completamente idiota por ela. E eu, eu estava cansada.
_Mia, na boa... – a interrompi – ...para.
_... – suspirou – ...não faz isso.
_Sente, Mia?!
_Eu... e-eu... – abaixou o olhar para o chão, meio pega de surpresa – ...não sei, e-eu...
_Não amor, Mia – a interrompi – Qualquer... qualquer coisa, porra. Sente? – a observava, com um nó no estômago – Já sentiu?!
_Você... v-você tem que entender, e-eu... – murmurou por fim, hesitante – ...eu amo ele.
_Tá bom, Mia.
Balancei a cabeça e me virei para ir embora, eu não preciso ouvir essa merda.
_Mia... – senti o meu peito esmagar e o meu coração endurecer, me irritando – ...e-ele, ele não tá nem aí para você. O Fer, porra, ELE NÃO TÁ NEM AÍ! EU... – a encarei, levantando a voz – ...EU TÔ AQUI!
_É que... – ela suspirou, confusa – ...n-não sei, e-eu...
_Me escuta, por favor... – me aproximei dela, pressionando sua mão contra o meu peito, o meu coração, e falei baixinho – ...eu quero ficar com você, eu... e-eu amo você. E eu quero ficar do seu lado, porra. O q-que a gente tem é tão bom, você sabe que é. E e-eu, eu quero fazer a gente dar certo!
_...
_Mia... por favor.
_E-eu, desculpa... – os seus olhos encontraram os meus, marejados, quase como quem se despede – ...e-eu preciso tentar com ele.
_Bom, então você vai perder nós dois... – respirei fundo, enxugando o rosto de qualquer jeito – ...na boa, cê não vale a dor de cabeça. Não mais, pelo menos.
E eu... não sentia porra nenhuma.