…of the ones we love.
(Björk)
O meu lance com a Thaís não era um lance. Tecnicamente a gente não tava
ficando – apesar de vez ou outra acabarmos na cama, por pura falta de algo
melhor para fazer vergonha na cara. A real é que a maioria das vezes
que eu ia no seu apartamento era pra evitar a Mia no meu ou pra fumar um.
Ficava à toa, rolando no chão com o Bruce e conversando, enquanto ela desenhava
tatuagens para alguma cliente. Ela tagarelava sobre qualquer garota que estava
afim e eu reclamava sobre a minha vida. A gente se entendia.
E sim, ocasionalmente, quando dava vontade, a gente se pegava também – até
porque, né? Nunca vi dois grelos grudar tão bem desse jeito, puta merda.
Naquele anoitecer de domingo, todavia, me atracar com a Thaís talvez não tenha
sido a melhor das ideias. Estava um calor dos infernos. E se o ventilador já
não estava dando conta de nós duas ali paradas – imagina quando resolvemos nos
comer bem no meio da sala. Caralho. Sentia o suor escorrendo
pelas minhas costas enquanto eu a fodia, passando das suas coxas para as minhas
quando a gente as encaixava, pingando da sua testa no peito assim que ela subia
em cima de mim, me fodendo também, e escorregando sob a minha mão na sua pele. Cacete. Eu
soltava o ar pela boca, cozinhando de calor, esfregando o antebraço no rosto
para me enxugar como dava, antes de a lamber perna adentro – a chupando até
molhar a cara toda, de novo. Sacanagem.
Gozamos até não sobrar mais fôlego nos nossos pulmões – e em cada músculo do
nosso corpo –, aí largamos nossas pernas e braços sobre o chão por alguns
minutos. Até conseguirmos juntar força para nos mover ou sequer falar qualquer
coisa. Como pode essa desgraça foder tão bem assim? Senti meus
músculos tremerem por dentro, sem saber ao certo se os tinha os forçado por
tempo demais ou se a culpa era dos orgasmos. Deixava a minha mente afundar em
si, ainda chapada, sentindo cada centímetro do meu corpo.
A Thaís se levantou e desligou a TV, acendendo a luz da sala. Foi até o
banheiro. E eu me despertei daquele estado de relaxamento, virando para
alcançar o maço sobre o sofá. Aí soltei o corpo de novo no chão, exausta.
Acendi um cigarro e soprei a fumaça em direção ao teto. Ouvi a descarga e, pouco
tempo depois, a porta do banheiro se abriu. Observei a Thaís caminhar até uma
caixa de som, colocando algo para tocar e vestindo a mesma camiseta de horas
antes no corpo, enquanto eu tragava preguiçosamente. Assisti aquele pedaço de
pano cobrir parte das suas tatuagens. Ela tinha uns braços fortes e o corpo
grande, caminhoneira. Geralmente usava um boné para trás, mas naquele dia
estava sem, com a franja curtinha jogada sobre a sobrancelha.
Veio até onde eu estava e subiu em cima de mim, me olhando imprestavelmente.
Mordeu meu pescoço, num beijo molhado. E eu achei graça, rindo da nossa falta
de limite. Ela ergueu a cabeça e sorriu, perguntando do que eu estava rindo, já
achando graça também. “Nada”, respondi. E ela se moveu lentamente
para frente, na minha direção, me dando um beijo de desgraçar a cabeça. Aí
largou o corpo ao meu lado, me roubando o cigarro por um instante.
_Essa música é animal, escuta – pediu, encarando o teto
junto comigo.
Cantarolou duas ou três palavras. E eu prestei atenção no
som, pegando o cigarro de volta, tragando mais uma vez.
_É Björk?
_É. Já tinha ouvido?
_Essa não – soltei a fumaça, aos poucos – Faz uma cota já que não ouço Björk,
nossa. Ouvia muito antes.
_Hum, sei – ela riu, me zombando – Quer dizer que agora cê ouve “outras
paradas”, então...
_Cala a boca... – a empurrei para o lado, rindo – ...não é, é só que... sei lá,
me lembra alguém.
_Quem?
_Ah! Uma mina aí que eu saía, ano passado...
Me senti estranha, por um instante, ao responder.
_Ixi. Quer que eu tire?
_Não – sorri – De boa.
E foi aí que o Bruce, que até então estava capotado na cozinha, passou andando
por nós – daquele seu jeito idoso e meio cego – e, num equívoco, levantou a
pata para mijar sobre um vaso de planta, onde acidentalmente estava escorado o
celular da Thaís. Ops. Num só pulo, aos berros, assisti minha
amiga levantar correndo. E comecei a gargalhar, enquanto o Bruce abanava o
rabo, sem entender porra nenhuma.