“Gostei de
te conhecer ;) E dsclp por ñ ter subido, rs!” – o meu celular apitou nos meus
ouvidos, ultrassensíveis com aquela ressaca, e os meus olhos cansados se
esforçaram para ler a mensagem da Patti ali. Eram 8:15 e eu não tinha dormido
nem três horas. Argh.
Com o raciocínio consideravelmente prejudicado,
tentei conciliar aquelas poucas palavras com o que me restava de memória da
noite anterior. O que não era lá muita coisa – tinha um buraco de tempo na
minha cabeça. Recordava-me de ter voltado para a pista com a Patti e de termos
dançado, agarradas uma na outra. Mas depois disso não tinha nada. Zero.
Não. Espera...
Uma lembrança meio confusa dela encostada numa parede suja da
Augusta me veio à mente, como um flash rápido. Nossos corpos pressionados um no
outro, nos beijando. Uns dois segundos de memória, não era o suficiente para eu
me lembrar do contexto todo. Subimos a
Augusta juntas?
Reli a mensagem, agora mais desperta, e tentei encaixar as peças
soltas, mas o desfecho daquela noite permanecia vago. Por que ela não ficou? Sentia como se estivesse esquecendo algum fato
importante. Não vou lembrar. Nem a pau. Por outro lado, a parte que eu,
sim, lembrava me fazia sorrir – e apesar da ressaca, o meu humor estava
sensacional. Quis responder logo para a Patti, mas precisava urgentemente
esvaziar cada shot consumido no Vegas da minha pobre e pequena bexiga.
Levantei da cama, com a mesma regata amassada da noite anterior, e
apertei as pernas até o banheiro. Virei a maçaneta e, bam, porta
trancada! Ahh, filho-da-mãe... Bati
na porta, pedindo pro Fer sair. Assim que percebeu que estava nas redondezas da
privada, meu corpo se deixou levar pela empolgação e eu estava prestes a fazer
xixi ali mesmo. Tentei mais uma vez a maçaneta, já pulando de um lado para o
outro em pleno corredor, e – nada. Aquela merda continuava trancada. Inferno. Ouvi então a descarga e pensei,
agora vai. Mas nada, de novo. Um minuto se passou e nem chance da
maçaneta abrir. Soquei então a porta com a lateral da mão, numa tentativa de
apressar o meu colega de quarto.
_VAI LOGO, PORRA! – gritei, apoiada no batente – TENHO QUE MIJAR!!
Uns segundos depois, a porta se abriu e eu dei de cara com... a
Mia.
Claro. Me movi para
passar, mas ela não se mexeu, bloqueando a droga da porta com o corpo. Estava
com aquela cara de poucas ideias e vestida apenas num camisetão cinza
desbotado. Só me faltava essa agora. A
encarei, sem paciência, e aí tentei passar mais uma vez, agora pelo outro lado.
Ela continuou imóvel. Ótimo, vou mijar na
calça, suspirei, ainda que não as tivesse usando.
A desgraçada estava fazendo de propósito. Olhei para ela de novo, impaciente
com aquele seu joguinho, e ela me encarou de volta, como se eu lhe devesse
alguma coisa. Numa afronta silenciosa de você-sabe-que-o-que-você-fez-ontem-foi-inaceitável.
Argh. Minha bexiga estava prestes a explodir.
_Licença, eu preciso mesmo usar... – disse, grosseiramente, me forçando
banheiro adentro pelo espaço estreito entre ela e o batente da porta.
Abaixei a cueca e sentei no vaso, assim que entrei. Ia levar
quatro segundos, no máximo, tamanha a urgência que eu já estava. A Mia ficou ali,
por um instante, parada na porta, ainda me olhando feio. Quer assistir? Fica
à vontade, a encarei de volta. Até que uma hora saiu, me deixando sozinha
no banheiro – para voltar correndo
para os braços do Fer, revirei
os olhos, com certa implicância.
Dei a descarga e então continuei com meu dia – o que envolvia
procurar minha Carteira de Trabalho, sair de casa de estômago vazio só para não
dividir a cozinha com o casalzinho-lixo e ir
pedir demissão. Vamos
que vamos.