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abril 21, 2012

Don't want nobody to follow me...

O silêncio entre nós agora já não era mais constrangedor. Era uma quietude sincera, tranquila. Todas as nossas palavras – ou as minhas, pelo menos – foram gastas e não havia muito mais o que dizer. Restou uma compreensão mútua no ar, um respeito carinhoso. Ou talvez fosse apenas a exaustão depois de toda aquela tensão entre nós duas, não sei.

O relógio da cozinha ressoava na parede, conforme eu terminava um copo d’água – que a Mia me ofereceu antes de eu ir. Minhas pernas estavam apoiadas na beirada, sentada sobre o balcão, com os pés suspensos no ar. A uns 20 centímetros de onde nos beijamos, meses antes, e os dedos da Mia se enfiaram às escondidas no meu jeans enquanto sua mãe a chamava da sala. Para, afastei aquelas memórias bobas, distantes, pra quê entrar nessas, meu? E respirei fundo. De que me adiantavam nostalgias àquela altura? Era tudo, de repente, tão diferente.
 
Tirei as mãos da superfície do balcão, ignorando a saudade sensação repentina, e tomei outro gole do meu copo.

_Me diz... – a Mia perguntou, deixando escapar um riso breve – Cê tem algum problema com cadeiras?
_Olha... – eu ri – Podia até mentir, dizer que é rebeldia, mas eu só gosto de balcões.
_Balcões, mesas... – foi listando, fazendo graça, apoiada contra a geladeira, desatenta – ...pias.

É, isso, pensei e abaixei a cabeça, evitando olhá-la ali. Um sentimento estranho me cutucou. Desconfortável com aquela observação tonta dela, deixando escapar o quanto sabíamos uma sobre o jeito da outra. Suspirei. E a Mia ficou em silêncio também, logo em seguida, desviando o olhar de mim. Merda, preciso falar alguma coisa, minhas mãos dedilharam ansiosamente o vidro do copo, ou isso vai tomar proporções maiores do que teria sentido agora. Deixei o copo sobre o balcão e apoiei as minhas mãos, inquietas, contra a superfície fria – sem conseguir formular frase alguma. O silêncio cresceu e a Mia se moveu, colocando o próprio copo na pia.

_Você quer mais? – perguntou, agora por mera educação.
_Não, eu... – hesitei – ...já v-vou indo, mas valeu.

Preciso sair daqui, logo. Eu e ela nos olhamos mais uma vez, ainda quietas, e eu desci da pia num salto, sem muita força de vontade. A tranquilidade conquistada nos minutos antes já havia desaparecido. Só vai embora, cacete, repeti para mim mesma. Não queria prolongar aquele desconforto. Por mais filha-da-putice que fosse, todavia, de repente, era difícil deixar aquele apartamento. Deixar tudo o que fora nosso – perto do fim, não sei, os pensamentos se tornam mais apocalípticos. Como se não fosse mais vê-la; como se, no segundo em que passasse pela porta, já não seríamos mais as mesmas.
 
Ainda assim, caminhamos até lá. E a Mia a abriu, apoiando-se na madeira. Encostei contra o batente oposto e a observei na minha frente, por um instante. Então abaixei a cabeça, mais uma vez – enrolava, nitidamente, mas sem premeditar. Droga. A Mia tinha meias grossas no pé e as pernas descobertas, como sempre, naquele moletom que ia até o meio das suas coxas.

_V-você... – murmurei, subitamente confusa, e aí ergui o queixo novamente na sua direção – ...você acabou não me dizendo o, o que queria dizer. Sabe, como v-você vem se sentindo...
_Ah, sei lá, achei que já não fazia mais sentido... – sorriu meio à toa e respondeu, baixinho, cruzando os braços em frente ao corpo – ...você sabe, d-depois de tudo o que você disse lá no quarto e o que a gente... – nossos olhares se cruzaram, mais uma vez – ...combinou.

Diabo. Vê-la sorrir, ali, me quebrava as pernas de tal forma – que elas realmente pareciam se recusar a sair. É a Mia, porra. A Mia! Toda a minha segurança naquilo, no que fora até a sua casa só para fazer, do nada, perdeu a força. Ali, já tão na linha da porta. E o que foi mesmo, hein, que combinamos? A sua boca respirava, entreaberta, a meio metro de mim. O seu corpo, a sua pele. E por um segundo, longo demais, os meus olhos se fixaram nela, hesitantes. Tão óbvios, inferno, que ela percebeu.
 
Respirei fundo, a encarando.

E ela me observou de volta, apoiada contra a porta. Tinha as mãos escondidas atrás do corpo, sutilmente, como se esperasse – um movimento, um gesto meu. Qualquer um bastaria. E eu quis – toda a nossa história até aquele momento, todas as dificuldades, as falhas minhas, tudo o que conversamos na meia hora anterior sumiram da minha mente. Por um milésimo de segundo. Ah, como o quis. Estava deixando tudo para trás e de forma tão consciente – me odiava por isso, em partes. E ela me olhava, à espera.

_É... é-é melhor eu... – hesitei, virando o corpo na direção do corredor – ...eu ir.
_É... – suspirou – ...é melhor.
_É. Certo.

Fui. Mas não antes de ouvir a Mia dizer um “se cuida” ao fechar a porta. Por que diabos dizer para eu me "cuidar" ao invés de se despedir de vez? Como quem se preocupa, como quem continua ali. Não como quem realmente diz adeus – e isso me tirava do sério. Argh. Andei até o elevador, sentindo o meu coração ser atropelado pelas minhas emoções. Quando foi que decidi por isso?! Um a um, comecei a descer os andares dentro do elevador. 

Desgraça

Um desespero fora de controle tomava conta de mim, a maldita da imprevisibilidade do nosso futuro. De quando a veria de novo, de como tudo seria dali em diante. Devia ter beijado ela mais uma vez. Passei a mão no rosto, agoniada. Só uma vez. Me irritava, descontando em gestos impulsivos. E a minha respiração me sufocava progressivamente, inferno. Aquela era a Mia. A minha Mia, caralho! A garota que eu amei por tanto tempo, a única que importava na porra da minha vida, na droga do meu coração. Mas que... que merda!

Deixei o elevador me sentindo uma idiota. O que eu tô fazendo?! Não queria voltar atrás –  com todas as minhas forças, não queria. Inferno. O sentimento, o mesmo sentimento de quando a Mia era minha, a sua boca, o jeito como me segurava, me enchiam a cabeça violentamente. Contra a minha vontade. E assim que passei pelo portão de entrada, pisando na rua e alcançando um cigarro no maço, me bateu um arrependimento quase estabanado, uma vontade de retirar cada uma das minhas palavras. Não posso fazer isso, eu não consigo. Tirei o cigarro da boca, voltando cinco passos apressada até a guarita e pedi que interfonasse de novo, eu precisava subir. 

O guarda entrou e... não. Merda!

Não. Eu não podia fazer aquilo. Não era justo com a Mia, comigo, com a porra da Clara. Puta que pariu, mas que droga. O meu corpo parecia brigar com a minha racionalidade, fixado na ideia de tê-la de novo. Por um breve momento que fosse. Só um beijo. Caralho, não. Não! Um beijo e eu mudava a porra do rumo da minha vida de novo. De volta para as bordas do namoro dela, sua vida com o Fer no quarto ao lado. Não. Não dá mais. Dei um passo para trás. Eles ainda estão juntos e eu... não, chega.

_Ela disse que a senhora pode subir... – o porteiro ressurgiu, me avisando.
_Não... – relutei – ...deixa.

33 comentários:

Ma disse...

Chorandinho mais uma vez ahahahahahahahahahah
Durante a leitura meio que quis ir pro final do post pra saber o que ia acontecer! HAHAHAHAHA desesperada, tão acelerada quanto ela. PQP :(

Aaaaaaaaaaaaaai por que iiiiiisso? :{
hahahahahahahah Foi tão... Awnnn o comecinho na cozinhaaa, porrrrr quêêê? Mundo cruel! :(


1bj!

Anônimo disse...

Agora o bicho vai pegar !ou melhor a Fm hahaha.eita tou dividida pq nao gosto de voltar atras,sou orgulhosa.Mas a fm é mestra em ser contraditoria.

beijjjjj dona Melissa.
ps:sinto que teremos uma abstinencia profunda apos esse post ;).

Anônimo disse...

porra, melissa! nao precisa ser tão homeopática assim, né? logo nessa parte??? mas vai, toma aqui um comentariozinho pra encher seu egoooo e ver se vc se apressa a postar logo o próximo! hahahaha.

adoro qnd vc descreve essas angústias da protagonista. dá pra sentir direitinho. mas cara, nem adianta tentar despistar com esse final de "nao, deixa" aí. é a FM, ela é o ser mais umpulsivo do mundo, ela vai subir!

aguardo o proximo. ;)

• the girl fucking Mia • disse...

Nããão, não terão! Já escrevi metade do próximo, antes mesmo de começar este... vai entender, rs ;)

Anônimo disse...

Tá brincando né?! Como você para numa parte como essa??!! Ah FM sobe lá e come logo a Mia de vez! Hehehehe... Chega de sofrimento né! Tudo tão perfeito na cozinha e na porta e a FM teeeem que sair :@ bocó...

Bia disse...

Maybe - Kelly Clarkson, pra esse post aí!S2 Mt, mt bom, Mel! Parabéns!

Anônimo disse...

Nada como começar o dia com post novo....Olha, haja passiflora. Escritora quer matar leitores do coração... Love it! JT.

Anônimo disse...

Aquele momento em que vc ja elogio tanto que até Falta palavras de tão bom!... já falei mas vale falar de novo o jeito de escrever é perfeito! Quanto a história ... meu Deus tanto de um lado quanto do outro... até eu que sou a racionalidade em pessoa ja teria agarrado!....kkkkkkkkkk.... pelo amor ! ...kkkkkkk...

Anônimo disse...

FILHA DA PUTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA SOBE ESSA PORRA LOGO! AAAAAAAAAAAAARRGH

thereza ohana sanvés disse...

meeeeeeeeeeeeeeeu, como assim??? mas que tentação do caralho hein? ptz. mas sei lá pensando por um lado positivo foi bom ela não subir... acho que se ela subir e acontecer alguma coisa vai dar alguma merda... ou não... sei lá. SÓ SEI QUE EU QUERO O PROXIMO LOGO MEEEL! ><

Anônimo disse...

VOOOOOOOOOOOOOOOOOLTA FM!

#TeamMia

Anônimo disse...

"Don't want nobody to follow me...except maybe you"
quem sabe desta vez a Mia não toma uma atitude e segue a FM,neh?

Ianca' disse...

Fiquei tão nervosa nesse post, tão apressada, tão tensa, que li palavras soltas dos parágrafos mais abaixo ainda não lidos, vez ou outra, só pra ver se aconteceria o que eu desejara, que aflição. FAZ A MIA FALAR, MEL!
Cara, o clima paira entre elas tão naturalmente, owww destinooo, faz as coisas acontecerem pq já tá na hora!

Ótimo post, Mel D:
Preciso/necessito de outro.

Mila D. disse...

É tudo tão humano, na FM.
Ao mesmo tempo que ela tem certeza de que acabou, que mudou, ela revive tudo em pensamento e já nao tem tanta certeza.
É como nos relacionamentos da vida real. Mesmo quando sofremos e queremos parar, largar, vendo todas as evidências de um insucesso... Pagamos pra ver.

Anônimo disse...

Quanto sofrimento nos últimos parágrafos :(

Anônimo disse...

Nãoooooooooooooo, não pode continuar assim. Quase tive um infarto lendo, parecia minha vó gritando com a TV, eu mandando a FM voltar lá e beijar a Mia. Aii meu coração é fraco, não faz isso.

Amanda disse...

Melissa, como tu fazes isso, héin? Eu odiava a Mia e de repente tô completamente apaixonada, tô até quase esquecendo a Marina.
Por mais que as coisas com a Clara sejam ótimas e calmas, não adianta... É pacífico demais justamente pela falta de sentimentos. Não adianta a FM tentar negar esse furacão que ela sente pela Mia. Ela PRECISA ouvir o que a Mia sempre sentiu, porque eu também preciso. Bota essa mulher pra correr atrás da FM na rua, puxar pelo braço e tacar um beijo e levar pra cama, porque tá na hora.
Tô esperando pelo próximo. Corre , que eu sou exigente hahahahaha

Parabéns, parabéns. Tu és demais!

@carolcastr disse...

OMG!!
Sobe FM, pohaaaaaaa!
Não mata a gente do coração!!

Anônimo disse...

Anem mel, vc escreve bem demais, revivi todos os momentos e sentimentos com a FM agora! :))

Mia, corre atrás dela logoo!!!

Juliana Nadu disse...

sobe............................


mt foda! >.< era td o que eu imaginava... =D

Pathy disse...

Não é possivel que a Mia vá ficar calada sempre, porra Mel, faça essa mina falar meu! =/
E tomara que a FM suba, pq eu subiria, na verdade não desceria sem ter dado o "último" beijo.. não teria mesmo! HEHEHEHEH

TekaSak disse...

SOOOOOOOOBEEEEEE!!!!!!

Bruna disse...

Aaaaaahhhh... sobe logo!!!

Gabi disse...

gente, q agonia!!! ai meu coração!

sobe logo, FM! ou desce logo, Mia, e vai atrás dela! tanto faz, desde q elas fiquem juntas...

Anônimo disse...

meu deeeus, é a Mia! Sobe looooogo!

Julliana disse...

Sooobe logo FM , a Mia está te esperando ;

bru disse...

se ela subir vai dar merda, e se ela não subir também vai dar merda. na dúvida eu ficaria na merda, mas com um beijo da mia.

c' disse...

ah mel qe confusao mental cara. FM foi muito forte em nao ter agarrado ela na cozinha e nem na porta. Eu no lugar dela nao teria conseguido. Mas nao teria conseguido msm. Pelo menos um ultimo beijo né. Mas e a mia gente, qe nunca fala nada? Como assim " eu achei qe ja nao importava mais"? Claro qe importa, óbvio qe importa. Todas qerem saber oq vc sentiu e sente de verdade pela fm minha filha, pelamor né. Num guento com a Mia nao. Mas e agora mel, oq acontece? ela sobe? nao sobe? Como assim vc parou logo nessa parte? Apesar de eu qerer muito qe a FM suba, e qe tudo aconteça, eu penso se ela subir e tudo rolar ela vai ficar nas mãos da Mia de novo. Ai complica. Mel, nao nos mate do coraçao, posta logo por favor. ps: odeio comentar por esse cel pq ele nao comeca novo paragrafo. Ai fica tudo junto e meio sem sentido. uó.

Anônimo disse...

Não fogeee, FM!!!
Sobe lá e dá um puta abraço pelo menos!
Mel, mos matando desde sempre...

Anônimo disse...

kd mia? sua hs meu........corre lah na fm.....
meeeeeeel vc eh terrivel......como pd uma historia tao perfeita?????????
bjbjbj

Gabriele disse...

putz senti a nostalgia daqui,ao som de Beat Your Heart Out e tudo

Anônimo disse...

Tá ficando previsivel demais, ela não sobe pega um metro tem sempre um pentelho p ela distrair e discrever e bla bla bla bla

Anônimo disse...

FM, sobe, pelo amor!!
Deixa o pau quebrar, menina.