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janeiro 14, 2013

Mono

_Aguenta aí, velho... – o Fer me pediu, se curvando sobre um canteiro – ...vou gorfar.

E não demorou dois segundos para que vomitasse, ruidosamente. Bem em frente ao prédio. Comecei a rir dos seus modos e o porteiro nos encarou como se o nosso legado ali fosse o pior de todos os moradores. De todos os tempos. Não sei nem como aconteceu, mas em algum momento perdemos a noção das horas e da quantidade de garrafas de cerveja. Ao ponto que nossas vitórias deixaram de sequer ser computadas. Seguimos jogando até ficar de noite e o bar ser invadido pelo movimento caótico de sábado na Augusta.
 
E foi aí que a minha carteira se esvaziou desenfreadamente.
 
Uma garrafa levou à outra e todo o dinheiro se foi. Os nossos cigarros também – primeiro o meu maço, depois o dele. E então decidimos ir para outro boteco, mais abaixo na Augusta, largando nossas companhias de mesa para comprar maços novos. Chegando lá, onde a princípio nem íamos “ficar muito”, decidimos mudar de cerveja para rum. O que é sempre um mau sinal quando se trata de mim e do Fernando.
 
Para piorar, estávamos enchendo a cara desde as duas da tarde. E o problema de beber por horas espaçadas assim, é que ficamos com aquela impressão de que estamos distribuindo o álcool com certa moderação. E é claro que a gente não estava. Eu menos ainda, numa ressaca acumulada da noite anterior. Aí, algumas doses depois, sem saber bem quantas, voltamos cambaleando para o apê. Escorados um no outro, numa demonstração bêbada de afeto. Como eu te amo, moleque – pensei, trançando as pernas Frei Caneca acima. E o Fer segurou meu braço, enquanto vomitava no jardim de frente do nosso prédio.
 
É. Muita classe.
 
Subimos e ele capotou de qualquer jeito no sofá. Segui até o meu quarto no maior silêncio que conseguia. E descoordenadamente tirei minhas calças, me livrando daquele jeans todo. Argh. Entre tropeços, fui até o banheiro com uma camiseta velha e o celular em mãos. E só quando larguei tudo na pia é que notei mais uma mensagem da Mia. Não tinha checado o telefone desde que a respondi dizendo que não podia. “Hum, q pena...”, ela mandou de volta, inconclusiva, horas antes. Sorri e tirei a blusa, depois a boxer, num lapso de consciência, sem nem perceber direito o que estava fazendo. Aí me meti no chuveiro para curar a embriaguez.

Sem sucesso. Conforme a água descia pela minha nuca, deslizando pelo meu cabelo e as minhas costas molhadas, a minha cabeça foi tomada pela Mia. Meio bêbada, irracional. A imaginando naquela noite. Como me esperava, como movia os lábios ao me escrever. Sentada sobre a sua cama, no quarto. Ou na sala? Não sei. Tinha ambas as minhas mãos na parede, inclinada sob o chuveiro, sentindo uma saudade imensa dela no meu corpo. Assim, de repente. Por que diabos não fui?, me arrependi, já fechando a torneira. Desliguei a água e saí do box, ainda consideravelmente bêbada.
 
Aí peguei o celular, antes mesmo de me enxugar, e a respondi – “qpena pq?”.
 
Então me sequei meio de qualquer jeito com a toalha e vesti a camiseta velha, chutando minhas roupas sujas para debaixo da pia. Sentia certa dificuldade em me mover com precisão. Voltei para o quarto tateando no breu. E me esparramei na cama, ainda fresca, num conforto de deitar sem roupa nenhuma me apertando. Nisso, o meu celular se acendeu na mesa de cabeceira. Ela tá acordada, pensei na mesma hora. Estiquei a mão e alcancei o telefone, o seu nome estava lá.
 
“Ta bebada? Kk ;)”. Podia senti-la sorrir em todas as ramificações nervosas da minha pele, nos meus pelos. Como uma brisa. Sentada em seu quarto em Higienópolis, enquanto eu encarava a tela deitada no meu. No escuro, ali, sentindo sua falta do meu lado. “Ñ inteerssa”, respondi, numa dislexia alcóolica. “Ta, sim kkkk” – o meu celular vibrou novamente. Ri ao ler, breve. E digitei de volta – “oq cv t áa fzendo ai?”. Acomodei as costas num travesseiro meio atravessado, erguido contra a cabeceira da cama.
 
Fala que tá pensando em mim, vai, garota.
 
Mas a resposta não veio de imediato. O silêncio no apartamento tornava os arredores ainda mais lentos. E eu observava fixamente o celular nas minhas mãos. Até que a tela se acendeu – “eu? nada, so imaginando...”, disse. Ah, é? Imaginando o quê?, li, conforme a minha mente disparava. Eu, ah, eu, sim, pensava nela. Nas formas como a sua cintura se encaixava nos meus dedos. Sabe? O jeito como sua barriga se dobrava sobre mim. Imaginando-a de todas as formas mais magníficas, e sujas. Imaginava. O seu contorcer, o seu gosto. Cacete. Numa vontade desgraçada de que viesse dormir comigo naquela noite. E me torturava sem conseguir parar de pensar na sua boca, no seu cheiro. Inebriada pelo álcool e um tanto confusa nas sensações, misturando a realidade com as memórias dela. Os seus movimentos, os lençóis bagunçados. O som dela respirando no meu pescoço, subindo no meu ouvido. E também o som dela quando ia perdendo o fôlego, se descontrolando, puta merda. Os sons de quando gozava na minha boca. Nos meus dedos, nas minhas pernas. Quase podia sentir a tensão das suas coxas contra as minhas. Me arranhando as costas, me mordendo inteira. Os meus pensamentos começaram a se sobrepor. Os toques, seus beijos na minha mão antes de dormir, num carinho quase adormecido, a sonolência, o estar juntas, os recomeços lentos, os orgasmos, nossas manhãs no apartamento, os cigarros divididos e baseados bolados, os seus olhos vermelhos, pequenininhos, quando ela ria, chapadas a tarde inteira, à toa, numas conversas gostosas, numas não-conversas também, as nossas línguas uma na outra, suas pernas sobre a pia da cozinha e o seu olhar quando a Marina veio – “as melhores”, ela repetia na minha mente, arqueando as sobrancelhas para mim. E aí vinha o piso frio contra nossos corpos, o seu apartamento e as luzes da Sarajevo, o frio na calçada da Augusta, ao seu lado; o calor e os meus dedos dentro dela, meus lábios nos seus – a umidade, o sal que lambia da sua pele, nosso suor se misturando, nuns movimentos lentos. Ou nem tanto. A minha pulsação começou a aumentar, já me contorcendo naquela porra daquela cama. Imaginando-a, perdendo a cabeça, me pedindo para que fosse mais forte. Nos comendo contra o sofá. Contra a parede, contra o seu colchão. À exaustão, vez atrás de outra. Sem conseguir nos largar, desgraça. E imaginava a sua mão onde estava a minha, naquele quarto escuro. Entre as minhas coxas.

E como se eu tivesse levado tempo demais para responder, chegou mais uma mensagem da Mia. Tirei a mão do meio das minhas pernas e a abri, já sem fôlego – “...oq vc podia ta fazendo, se tivesse aqui”, continuou. Ah, pra puta que pariu. Quis morder o travesseiro com suas reticências, agora completas. Subindo pelas paredes de vontade dela. A sentia em mim e me retorcia com o respirar quente dela entre as minhas pernas, afundando em cada uma das sensações irreais que me sucediam. E demorava-me, solta na cama, extasiada e bêbada; com a porta do quarto fechada. Em todo o meu corpo, o sangue parecia correr bruto. Peguei o celular de novo, num impulso, e disquei o seu número, os meus dedos ininterruptos; pouco me fodendo para o quão baixo era aquilo. Até que ouvi a Mia atender, do outro lado da linha.
 
_M-me conta... – me adiantei e disse, um tanto ofegante, prestes a explodir com o mero som da sua voz – ...me conta, porra... o que eu podia tá fazendo.

29 comentários:

Anônimo disse...

MIAAAAAAAAAAAAAA AE HAHAHAHAHAHAHAHAHA vish. <3

Anônimo disse...

Muito foda, sério. Quem nunca passou por isso né...

francielli# disse...

esquentou o negocio

francielli# disse...

esquentouuuuuu

Dea disse...

quando vc me perguntou se eu achava "demais" a masturbação e eu disse que não, estava errada, porque esse post foi, sim, DEMAIS! se tornou um dos meus preferidos. se escrita, a cena já me fez derrubar a maçã que eu, inocentemente, mordia, vista (ou vivida) me faria des-man-char! hahahahaha! narração impecável. situação incrível. AMEI-Ê!

Anônimo disse...

Fuckin' hot!

Anônimo disse...

RESPONDE MIA!!!!!!!

Anônimo disse...

fogo na periquita <3

Anônimo disse...

Telesexo...a gente vê por aqui.
Fucking Mia é o que há!

Pathy disse...

Quem nunca? HAHAHAHAHAHA
E eu lendo no serviço, pensa numa sala que esquentou. 66'


P.S.: Ianca não leia esse post. é só +18 kkkkkk

Anônimo disse...

Pra que vou ler "50 tons de cinza" se tenho fucking mia???????

Hahaha

#pegafogogeral

Anônimo disse...

Eita porra...

Fernanda disse...

E o povo lendo 50 tons de cinza!!! Isso foi DEMAIS!!! Muito bem escrito! :P Amei, e pelo amor, não demore com a continuação!!!

Anônimo disse...

MDS, SOCORRO

Anônimo disse...

Cara fiquei sem ar hoje no trampo por causa desse post, porra Mel só você meu, só você mesmo pra fazer isso com a gente e ainda parar bem aí? Vai ter muitos comentários esse post merece um outro, não acha? Como gratificação! (eu sei, eu sei é pedir demais, mas a coisa tá feia aqui, vou prender a respiração até você postar o próximo - morrendo asfixiada já - por favor posta logo *---*) Ahazou Mel, como sempre, cada vez melhor!

Diii disse...

Awesome!

Mia é do caralho!

Ianca' disse...

QUE NÍTIDO!!!!!!
Que sexy, que delicioso, que fantástico. PUTA QUE PARIU. Post extremamente excitante, pera, vou ali tomar uma água...

Ianca' disse...

Ow Patricia, não consegue me esquecer nem comentando? Esse post foi tudo, aff

Juliana Nadu disse...

Como é que pode vc não gostar de escrever esse tipo de post!?!??!

vc é mestra...

e falando em "50 tons de alguma coisa" minha amiga me disse que esta no meio do livro e a autora não chegou nem perto de uma historia erótica!! shusahsuah


Mel nada que vc escreve fica vulgar pelo contrario é DELICIOSO!!

adorei...

Anônimo disse...

Meeeeeeuuuuu Deeeeussss MIAAAAA!

Anônimo disse...

Me desculpem pelo mal jeito meninas....mas....
PQP!! Tem coisas q só um palavrão descreve...Muitoooo FODA!!
Mel vc arrasa p variar...obg pelo post lindíssimo...e pelo amor de Gesuizzz não demore a postar o próximo...#tendoUmTreco
A Mia aparece e eu tb me derreto... F<3M!!
(ANA CURI)

Anônimo disse...

Só digo uma coisa pra esse post: puta que pariu.

Meu, que demais!!!!!!!!!!!!

Babaloodeuva disse...

É impressionante o que um sms da Mia é capaz de provocar na FM e em todas nós. Que delicia de post. Aplausos como sempre perfeito

Anônimo disse...

Mel, cê é mesmo ótima!
Narração impecável... e a história continua muito, muito bem escrita. Bacana demais toda a naturalidade (:

A Mia desse jeito enlouquece qualquer uma, gente!

Iully Desidério disse...

A arte de ler tudo num ar só. Mel, um dia eu morro por sua causa.

Gabs disse...

P-U-T-A Q-U-E P-A-R-I-U.
Nem vou falar mais nada. G.G kkk

Anônimo disse...

"E imaginava a sua mão onde estava a minha. Entre as minhas coxas." Morri.
Ressucitei.
"Me conta... me conta... o que eu poderia estar fazendo." Morri de novo.

Anônimo disse...

10 dias????

Davi Oliveira disse...

Tou completamente rendida.. eu criei um blog com a minha primeira historia entre mulheres mas a tua escrita e completamente hipnotizante.. leio um texto teu e um meu e apetece me apagar o meu loool continua a escrever Mel. Parabens tens um oti,o blog e mais uma fa ehehehe Eu :p
Beijinhos