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março 06, 2013

Corazón coraza

Na manhã seguinte, senti doer cada músculo do meu corpo – num lento despertar dos sentidos. Minha cabeça era devorada pela ressaca. Por que diabos inventei de tomar tanto vinho? Ao contrário dos destilados, com porre de vinho eu não tava acostumada. Me destruía completamente. E para piorar, sentia minhas pernas fracas de toda a atividade na madrugada anterior, a pele calejada de hematomas e mordidas nas costas, chupões no pescoço, roxos nas pernas e marcas do lenço torcido nos pulsos – de quando a Clara resolveu se vingar.
 
A sensação geral era tinha sido atropelada por um caminhão. Tô ficando velha, lamentei, passando as mãos no rosto sentada à beira da cama. Caralho. Me bateu uma crise um dia antes de fazer 25. Uns outonos antes, pensei, teria levantado só com uma ressaca leve e ido contabilizar as marcas no espelho, achando graça. Olhei para o lado, para a Clara adormecida ali. É. Mas uns outonos antes, sorri, eu não tinha você. E virei para frente, colocando o rosto entre as mãos novamente. Essa garota vai me matar, puta que pariu.
 
Me enchia o peito duma felicidade boba estar assim com ela, viver as coisas ao seu lado. Juntei forças para me levantar. E fui até a mochila largada no canto do quarto, pegando uma cueca qualquer e a vestindo, após um banho rápido naquele chuveiro gelado. Então coloquei o único jeans que tinha levado e uma regata branca. E deixei o quarto, à surdina. Saí na rua, andando algumas quadras até encontrar o que parecia ser um café.
 
Gesticulei. Fiz mímica. Gastei o todo meu espanhol fajuto para comprar un café de la mañana. E a atendente riu – repetindo desayuno algumas vezes. Finalmente entendi que era a mesma coisa. Comprei o que deu com uns pesos que a Clara tinha, apontando o que pareciam ser uns sanduíches e pegando dois cafés para viagem. Fiz o que pude para garantir que não tivesse carne nos lanches, mas saí sem muita certeza de que a garota realmente tinha me entendido. O bairro era ainda mais bonito durante o dia. Voltei observando as ruas, tentando não me perder. E a Clara ainda estava dormindo quando cheguei, vinte minutos depois.
 
Sorriu ao abrir os olhos e me ver parada ali, com dois cafés na mão – “vou ficar mal acostumada assim”, murmurou. Comemos em cima do colchão e ela se divertiu, implorando para eu repetir como tinha pedido tudo aquilo no café. Achando graça, me escutando balbuciar aquele espanhol ruim. E em menos de meia hora, estávamos saindo pela porta. Tínhamos muito para ver – de uma estranha flor de metal a um palácio não tão rosa, uma avenida muito larga.
 
Andamos o dia inteiro. Os meus favoritos foram os murais de artistas de rua dedicados ao Quino e a estátua da Mafalda, ao lado da qual sentei e pedi pela primeira vez na viagem toda que a Clara tirasse uma foto. Almoçamos num restaurante em San Telmo e como já beirava as 16, tomamos mais vinho. “Estamos na Argentina”, justificamos o tempo todo, que se dane. E aí pedi para a Clara me levar em algum estúdio de tatuagem – queria um rabisquinho internacional. Entramos no primeiro que achamos e eu fiz um “33” quase nas costas da mão, em homenagem ao vinho, em cima do pulso ainda marcado daquela madrugada.
 
Nem uma hora depois, movida pelo meu entusiasmo com a Pequena Notável mais cedo, a Clara me arrastou até uma livraria alternativa do bairro, com pilhas caóticas de livros empoeirados por toda parte e que era administrada por um casal de caminhoneiras. Que animal. Absolutamente todos os lugares que a Clara me levava me empolgavam, numa vontade de ver, de viver tudo que podia ali.
 
_Eu gostava de vir aqui... – me contou, baixinho, cumprimentando de longe uma das sapatas – ...quando era nova, com uns 11, 12 anos. E minha mãe, em negação, achando que eu era hétero.
 
Olhei para ela, achando graça. Aí peguei um livro que estava numa grande cesta de palha no chão, em promoção. Parecia meio de sebo, com as bordas detonadas. Era de poesias. A Clara seguia adiante, buscando pelas prateleiras mais ao fundo para ver se me achava um Quino original – em espanhol. Folheei as páginas com certo interesse em ver quanto daquilo eu conseguia entender.
 
Inicialmente, os poemas eram curtos e simples. Me pareciam o tipo de coisa que a Marina ia gostar de ler. E pensei em levá-lo de presente para ela. Até que, na página 79, as linhas finais de um dos poemas me prenderam, estranhamente.

Diziam:
 
“Porque eres mía
Porque no eres mía
Porque te miro y muero y peor que muero
Si no te miro amor, si no te miro

Porque tú siempre existes dondequiera
Pero existes mejor donde te quiero
Porque tu boca es sangre y tienes frío

Tengo que amarte amor, tengo que amarte
Aunque esta herida duela como dos
Aunque te busque y no te encuentre
Y aunque la noche pase y yo te tenga
Y no

E não sei bem por que, mas meu coração acelerou. Fechei o livro, em silêncio. E olhei por cima das prateleiras, a Clara estava ao longe. Pensei em devolvê-lo ao cesto – mas parte de mim queria levar. Não para a Marina, nem para mim. Cacete. Relutei, subitamente apegada àquelas páginas.

24 comentários:

Anônimo disse...

Mel, minha linda mel. Eu quero maais :D rsrs por favor, não custa. rsrs

Anônimo disse...

"Porque tú siempre existes dondequiera"

NÃO ADIANTA FUGIR, FM! A MIA ESTARÁ EM TODO LUGAR QUE VOCÊ ESTIVER HAUHAUAHUAH #TEAMMIA

Apesar de estar amando a Clara e a Argentina e etc rs

Juliana Nadu disse...

...Porque te miro y muero
Y peor que muero
Si no te miro amor
Si no te miro...

eu acho que já senti isso uma vez...

...Tengo que amarte amor
Tengo que amarte...

#tenso

ps: cadê o Feeeeeeer!??!?! não era nesse?!?! rs

Bárbara Leão disse...

Tava tudo muito lindo...
Por favor!!!!
CHAMEM UMA MÃE DE SANTO PRA MANDAR ESSE ESPÍRITO OBSESSOR VOLTAR PRAS PROFUNDEZAS DE ONDE NUNCA DEVERIA TER SAÍDOOOOOO!!!
Clara, traz o clima bom dessa viagem de volta POR FAVOOOOOOOR!!!!

Anônimo disse...

Blergh, Mia, Mia, Mia...tava demorando...rs

Anônimo disse...

Aaaah, ela pensou na Mia...que lindo.. este poema combina muito bem com ela mesmo... Lindo, lindoo... volta logo pra Mia..

Anônimo disse...

Chega de Clara, manda logo a MIA. É ela que interessa!

Bruna disse...

Nossa Mel...
não é que vc apavorou com esse poema... lo siguiente!!
Mandou muito mesmo!

Olé tú y tu arte de manejar las palabras y las mentes de los que te leen hasta donde quieres!
;)

Pathy disse...

Tenho que concordar com a Bárbara Leão.. "Clara, traz o clima bom dessa viagem de volta POR FAVOOOOOOOR!!!!" <3
Foco FM, FOCO! Não se perca, porra!

P.S.: Desculpa, mas é a Clara na Argentina. é muito amor genteee u.u

@livia_skw disse...

Sempre Mia Mia Mia! Poxa Mel, não corta o clima bacana que tá rolando na Argentina com a Clara.

Amei o poema <3

Anônimo disse...

Fiquei sem palavras e sem reação... Ahhh... tô confusa gente...q nem a FM!! Mia ou Clara... ou Mia e Clara.. ainda não consegui me decidir...se é q precisa né... aiai... Vida díficil!!
Mel obg pelo presente incrível assim numa quarta-feira para alegrar a semana!! ;-)
(ANA CURI)

Anônimo disse...

bring the MIA back! =)

Anônimo disse...

Bolão... Quem acha que é pra Mia e quem acha que é pra Clara? k

Flavs disse...

O poema é lindo, mas nao sei nao. rs

Ana Paula disse...

Alguns outonos antes e eu não estaria me sentindo assim...Uns outonos antes eu não tinha você. HUMMMMMMMMMMMMMMMMMM Clara s2

Davi Oliveira disse...

Ameiiiii o poema mel :)
lindo mesmo eheheh

Anônimo disse...

podem me julgar, mas mel, deixar pra gente imaginar como foi a noite delas foi MIL vezes melhor do que contar tim-tim-por-tim-tim. adorei! foi uma surpresa ótima o post de hoje, principalmente pela Mia de volta, de alguma forma.

Anônimo disse...

LEVA O LIVRO E DÁ PRA MIA!!!

Anônimo disse...

Aaaaaahhh, delicinha!
Lembrou da Mia, claro! Não adianta, é uma ligação cármica entre as duas.
E quando for a hora, tudo dará certo.
Fm + Mia

Ianca' disse...

Nossa cara, mostra a foto aí da FM, po hahahahha

Meu coração deu uma pontadinha de alegria com o poema, sempre será a Mia. o/

----
E desculpa só ter vindo agora, mas vim na lan só pra ler, mudei e ainda tô sem net. Não aguentei esperar, tá maravilhoso!

Anônimo disse...

Mia encosto <3 love it

• the girl fucking Mia • disse...

Não! rs Na próxima semana dentro da cronologia da história!! (:

Dea disse...

e agora, josé?

Camyla disse...

A Mia, até calada, estraga tudo u.u
tava amando o clima, apaixonada pela Argentina, aí lá vem ela --'
Da pra mandar ela pro Iraque com o Fernando, não? Kkkkk :D
brincadeira :x