Começa.
Começa com um olhar na balada. Depois, uma conversa cheia de
segundas intenções e, enfim, um convite imoral. Os acontecimentos se aceleram
progressivamente até a pista de dança, bem-acompanhada até o chão. Numa rapidez,
tudo converge contraditoriamente para o silêncio – aquelas quatro paredes dum pequeno
apartamento paulistano, a meia-luz sugestiva, as intenções subentendidas. Três
garotas. E a música começa, lentamente, despindo-as uma a uma. Camisetas e
vestidos no chão, alças de sutiã escorregando, braços descobertos, zíperes se
abrindo e, pouco a pouco, os beijos esquentam a pele. Numa indecência compartilhada.
Shame, such a shame…
I think I kind of lost myself again…
Começa, na verdade, com um olhar em meio a uma tarde lenta. Mais
lenta que a música no quarto acima. Você deixa seu rosto escapar em segredo
para o lado, mesmo quando não deveria, e acaba por vê-la. Progressivamente, as
batidas do seu coração aceleram. A lentidão te irrita, o silêncio te incomoda.
Você sente o que não quer e, então, procura sons mais altos. Para ensurdecer o
barulho que vem de dentro do seu peito. Procura qualquer coisa que te faça
perder os sentidos – e encontra as curvas perfeitas no meio do caminho.
Say, say my name…
I need a little love to ease the pain…
I need a little love to ease the pain…
As pontas dos seus dedos percorrem as curvas de uma, enquanto a
língua da outra desliza pelas suas. Continuamente. Vocês se movem juntas, sem
pensar muito a respeito, e deixam o álcool desinibir o resto. Pelos molhados,
peles suadas. O gosto delas na sua boca. Velha de guerra, você sabe o que fazer
para prolongar as horas, perder os sentidos, a porra do fôlego, de novo e de
novo. E faz exatamente isso – como se fosse parte da sua própria natureza.
'Cause it feels like I've been…
I've been here before...
Por dentro, todavia, você está cansada. Física e emocionalmente
cansada. Cansada de tardes como aquela, mas cansada também de noites como esta.
Cansada de agradar uma, duas, três ou quantas mais vierem. E elas vêm, uma após
a outra na sua vida. Todas elas – menos a que você tanto quer. Ela, não.
Ela não vem. E no fim do dia, a sua cama continua sempre vazia. Dia após
dia. Uma hora você simplesmente se cansa e, antes que perceba, está de novo nos
braços e nas pernas, nas bocas de outras.
You are not my savior…
But I still don't go…
Que se dane. Que se dane toda essa baboseira romântica –
você pensa. Mulher alguma é melhor do que mulher nenhuma. Não é como se você
tivesse algo melhor para fazer enquanto a espera, ali, sem perspectiva alguma,
sofrendo por detrás de portas fechadas e corredores estreitos, incertos demais.
Com elas, é fácil. É gostoso. É descomplicado, você se convence. E ao menos, você se diverte.
Passion's overrated anyway…
Say, say my name…
Então, você troca as pernas que viu sentadas sobre a pia naquela
tarde pelos dois pares de coxas que agora se entrelaçam no seu corpo. O nome – aquele
nome – continua na sua cabeça e em cada mulher que você coloca na sua cama.
Te perturbando. Insistentemente. No entanto, pouco a pouco, toda a intensidade
e os dedos e o sobe e desce e os toques e os arrepios e as línguas e a
endorfina e aquele gosto salgado de suor fazem você esquecer. Esquecer do nome,
esquecer dela, esquecer de porque você está ali, afinal. Você se perde em cada
centímetro de pele descoberta. Você perde a cabeça.
I could fake it...
But I still want more…
E aproveita cada segundo daquilo.
I think I kind of lost myself again…
I need a little love to ease the pain…
I need a little love to ease the pain…
I've been here before...
But I still don't go…
Say, say my name…
But I still want more…
Adoro o seu blog!!! Cada vez melhor a história!
ResponderExcluirAté que enfim, consegui ser a primeira a comentar!!! rss
nossa!! arrasou!
ResponderExcluirCá vim, esperando um post sexual (embora bem escrito, como sempre) e você me surpreendeu novamente! As passagens, as dúvidas e o desenrolar do pensamento da personagem foram tão inteligentes, tão bem construídos que me tiraram o fôlego. Devo admitir que, para um escritora tão jovem, me incomoda o fato de você encabeçar a lista das minhas favoritas. Parabéns e obrigada por alimentar esse blog tão delicioso, volto sempre ávida por mais um pouquinho! ;-)
ResponderExcluirMuito lindo o texto... E ótima escolha de música também...
ResponderExcluirNão sei porque eu ainda insisto em querer respirar normalmente depois de ler o Fucking Mia. É impossível!
ResponderExcluirNão sei explicar, mas falava disso ontem com uma amiga. De todas as sugestões que nunca são mostradas explicitamente.
Se fosse um filme, essa cena seria toda em câmera lenta, com uma ou outra narração - talvez da parte em que ela fala de todas virem "menos a que você tanto quer".
Perfeito!
OMG...isso foi INTENSO!!! *-*
ResponderExcluirestou sem palavras, amei! amei a musica, amei o texto, amei tudo. post perfect! concordo com a liz fikei sem ar, Mel!!! to td arrepiada..uau!
Muito intenso. Me tocou profundamente.
ResponderExcluirParabéns, Mel! Assim como a Cris, vim esperando algo diferente (também bom) e me surpreendi. Muito legal o jeito que abordou o assunto e o post introspectivo e reflexivo. A trilha sonora também completa o texto e fica um conjunto deveras viajante haha.
ResponderExcluirBah, todo mundo esperando uma coisa absolutamente sexual e tu vem com isso. Muito bom.
ResponderExcluirFez a música encaixar perfeitamente.
noossa!! achei uma das melhores postagens!! "cansada de agradar uma, duas, três, quantas vierem." nossa, essa coisa de ter umas pessoas passageiras e querer só uma intangível é realmente algo recorrente entre todas nós u.u adorei a postagem, muito mesmo. além de adorar o blog hehe
ResponderExcluirIncrível como sempre. Muito, mas MUITO bem escrito. Entrar na cabeça da protagonista e ver o drama e a decepção dela, querendo mudar mas no momento sabendo aproveitar.
ResponderExcluirA cada post admiro mais o teu jeito de escrever, e mais quero ler :)
LINDO! Eu li ouvindo a música e tava até sincronizado! rs
ResponderExcluirParabéns Mel ;)
Noosssa, muito bom. Palavras nunca são só palavras né? DEMAIS.
ResponderExcluirsó reforçando todos os comentários merecidos..no mínimo perfeito e intenso.
ResponderExcluireu entendo o lado da FM, mas ainda acho que mesmo gostando de alguém, se esse alguém não te acha merecedor de esforço, simplesmente não vale a pena..e a Mia, sei lá, eu entendo que ela pode estar confusa...mas não parece que é confusão, parece que é imaturidade mesmo, espero que eu esteja sendo precipitada xD
beijos, e continue escrevendo tão bem assim :D
E ainda tem gente que me pergunta por que gosto tanto do blog...
ResponderExcluirRealmente, ler ouvindo a música foi perfeito!
“Mulher alguma é melhor do que mulher nenhuma”. Só não é melhor do que a mulher que tanto quer.
Acho que o pior de toda essa situação é que se superestima tanto a pessoa desejada ao ponto de, às vezes, pessoas fantásticas passarem despercebidas ou não receberem o devido valor.
ARREPIEI
ResponderExcluirai, Mel... imagina o ensaio DESSE post!
ResponderExcluirMel por favor apaga todos os comentarios da tatá...ela só fala merda!! ahuahauhauha
ResponderExcluirbjss
saudades
Ela não ama a Mia :(
ResponderExcluir/pareicomvcs!
#decepcao
Muito bom. A trilha dos posts é sempre perfeita. Nem vou falar parabéns de novo pq senão vai começar a ficar redundante hahaha.
ResponderExcluirSabe, tinha um certo receio do que encontrar aqui hj... De novo, errei! Mel, que lindo! Vc. pintou artisticamente a cena e a mente... Parabéns!
ResponderExcluirAmo Massive Attack ! Arrasou, dissolved girl rocks total !
ResponderExcluirTodos os posts a cima falam o que vou repetir agora, mas vou repetir rs, a três dias conheci seu blog e não consegui parar de ler, e essa parte em especial ficou maravilhosa, vc conseguiu transmitir todos os sentimentos dela, quer dizer as outras distraem mas ainda não são ela, mas são melhor que a depressão, e o não saber como ter ela :S aaaa, sei como é isso :S
ResponderExcluirNão importa quantas vezes eu leio esse post, eu sempre me arrepio!
ResponderExcluirUm dos meus preferidos...