agosto 26, 2010

Ralo abaixo

Mais uma, pensei ao enxergar o fundo do copo recém colocado sobre a bancada e fiz um gesto para o atendente, sem pensar suficientemente a respeito. Aquela era a minha segunda dose e o tempo insistia em passar devagar. Cruelmente devagar. Não queria dar bandeira junto com a Mia, mas chegar bêbada em casa naquelas circunstâncias também não era a melhor das ideias. Infelizmente, eu não tinha outra estratégia para passar a porra do tempo. Olha a que ponto você chegou, me indignava comigo mesma.
 
Observava em pé o movimento deprimente do boteco, com metade do corpo apoiado contra o balcão. Argh. Levantei o olhar e o relógio na parede marcava cinco para a meia noite. Mais uma e eu caio fora, planejei. Um velho rabugento com a barba por fazer enchia o meu copo com o que seria a saideira de rum da noite – já com certa má vontade. A Mia estava no apartamento com o Fer há mais de meia hora. Eu sabia que ia precisar me controlar uma vez que chegasse lá em cima e, ciente de que aquela confusão frequentemente me tirava a racionalidade, sabia também que precisava parar de beber.
 
Virei a dose. Aquela seria, de fato, a última. Paguei o cara no caixa com as notas amassadas que tirei do meu jeans e me dirigi à saída com o maço de cigarros na mão, pretendendo enrolar mais alguns minutos na frente do prédio. Quando finalmente virei a chave na porta de casa, o meu celular já marcava quase meia-noite e quinze.
 
A primeira fresta aberta entre a porta e o batente, revelou um som alto vindo da sala. Milésima multa, previ, conforme terminava de empurrar a porta apartamento adentro. O Fer estava sentado no sofá, debruçado para a frente, como se mexesse em algo na mesinha de centro. Ele me viu assim que entrei e acenou, sem me dar muita importância. A Mia, ao seu lado, me olhou rapidamente e logo tornou a encarar o chão. Até aqui tudo bem, reforcei positivamente, como um mantra anti-vexame, enquanto me punha a atravessar a sala, esperando não ser muito notada.
 
_Falou parabéns? – o Fer me chamou, poucos passos antes de eu chegar no corredor.
 
Droga. Olhei para trás como se não tivesse entendido e ele sorriu para mim, colocando a mão na coxa da Mia – que estava só de calcinha e moletom no sofá.
 
_É aniversário dela, pô...
 
Pois é. Eu sei.
 
_Parabéns – respondi fingida, andando até o sofá, e a Mia se levantou brevemente para um abraço automático, ambas despistando o melhor que podíamos.
_Fuma um aí com a gente... – o Fer sugeriu.
 
Só então reparei o baseado na mão dele. Era isso que estava fazendo na mesinha.
 
_Não... – murmurei, querendo sair o quanto antes dali – Tô de boa.
_É aniversário da Mia, meu... Sério que cê vai dormir?! – ele riu – Fica aí um pouquinho, mano... Bolei agora, é só acender.
_Não, valeu... – resmunguei, me virando para retomar o caminho.
_Ela tá cansada, amor... – a Mia cochichou do lado dele – ...deixa pra lá, num precisa.
_É, e eu não tô muito afim... sei lá... Já bebi hoje também, vai me zoar.
_Ah, meu... qual é?! Cê anda muito chata! – ele reclamou e riu, de novo – Nunca fez mais nada com a gente! Pô, fuma aí... Só um, vai... pra comemorar!
 
O argumento até que não era ruim. Aliás, era melhor que o meu – se não considerarmos a verdadeira justificativa por trás do meu sono incomum às 0h da “madrugada”. Eu odiava mentir para o Fer. Olhei nos olhos do meu melhor amigo, ali, sendo todo simpático comigo e me detestei por andar tão cretina com ele nos últimos dias. Por um instante, a sua sugestão não me pareceu tão má ideia – e isso certamente envolve motivos maiores, digo, de teor alcoólico. Mas, ah... que mal poderia fazer? É só um.
 
Observei-o novamente e suspirei, dando-me por vencida.
 
_Tá.

11 comentários:

  1. conheço bem esse sentimento matador de imaginar a pessoa com outro/a.
    dói de um tanto que nem dá pra acreditar ser possível...

    que dó dela.

    e dó do fer bobinho.

    ai.

    fico mal com FM.

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  2. A mia está sendo muito cretina na minha opinião...

    blog está d+

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  3. Caralho, uma cena aí me lembrou de algo que já vivi, me transportou pra lá e me arrancou uma lagriminha de nostalgia...

    Parabéns por conseguiu despertar isso nas pessoas, gata.
    =*

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  4. ai gente tambem quero chegar em casa e encontrar meu melhor amigo e a pessoa que eu gosto me esperando na sala com um beck :~
    mas nao assim, pra ver os dois desaparecerem trancados em um quarto mais tarde, né...

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  5. Que situaçãoooo! :(
    Poxa, a FM não presta e talz, mas também não merece passar por tanto :/

    Ta muuuuito boa a história! *O*

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  6. conheço bem esse sentimento de imaginar a pessoa com outro/a.
    dói de um tanto que nem dá pra acreditar ser possível...

    que dó dela. +1

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  7. ai eu acho que isso não vai dar certo.

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  8. Sem palavras, a descrição da situação retirou qualquer comentário.
    Parabéns pelo texto

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  9. ela nao merecia isso meu e a mia só brincando com os sentimentos dela
    ta d mais o blog

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  10. Meeuu,
    "Tengo miedo" do que pode acontecer na sala depois desse biriri.
    Até que ela tá se saindo bem, mas vai saber como vai reagir a qualquer troca de carinho entre o Fer e a Mia. A Devassa pode surtar a qualquer momento.

    Ela super deveria ter fugido com a Mia depois do beijo. Sabe, não ter dado a chance da Mia pensar que o Fer tava no apê esperando.

    Sou a favor de um sequestro. hahaha

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  11. OH GOD!
    #tenso isso hein!

    eu não seria coerente e certo que faria merda, ainda mais se estivesse bebada.

    boa noite cinderela pro fer e o resto é só alegria

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