outubro 08, 2010

(Des)ânimo

Fechei a porta atrás de mim, sob o risco de encontrar o Fer a qualquer momento, entrando no nosso apartamento com a cara e a coragem – a coragem metida covardemente entre as pernas e a cara amassada de tanto chorar ao telefone.
 
Ou seja, entrei lá sem nada.
 
Para a minha sorte, a sala estava em perfeito silêncio. Desabitada. O Fer não estava – ou mais provavelmente, estava dormindo. Já passava da meia-noite e ele tinha ficado acordado toda a madrugada anterior, fumando com a Mia na sala, até muito depois de eu ir para o quarto. É. Deve estar capotado. Para piorar, ele costumava acordar mais cedo que eu – o Fer era funcionário de uma empresa nas redondezas da Av. Paulista. Era o programador mais tatuado que eu conhecia e um dos melhores também.
 
Não queria trombar com ele, não com aquela cara de quem estava com um problema bem maior do que deveria ter numa quarta-feira à noite. Mas, não, o Marcos não vai contar. Tentava me convencer, sentindo meu estômago ainda revirar, enquanto trancava a porta da frente do nosso apartamento. Quer dizer, eu espero que não. Aquela insegurança me tirava do sério. De repente, uma situação que nunca esteve lá muito sob controle, saía completamente das minhas mãos e ia parar nas da pior pessoa possível.
 
Ou segunda pior.

O que mais me incomodava era toda a rede de mentiras que aquela minha falta completa de vergonha na cara estava criando. Eu odiava ter que mentir para os meus amigos. E ainda assim, havia garantido para o Marcos que resolveria a situação eu mesma, seja tendo uma conversa sincera com o Sr. Namorado – até parece! – ou deixando a Mia de vez, o que também me parecia pouco provável àquela altura. Sou uma imbecil mesmo, puta que pariu, eu me xingava, indignada, enquanto deixava as chaves em cima do móvel da sala, sabendo que não ia conseguir cumprir com a minha palavra.
 
Temia a consequência disso também. As chances daquele rolo se emaranhar ainda mais pelas semanas meses anos seguintes e o Marcos, enfim, se encher e acabar me delatando por conta própria eram bastante grandes. Eu não ia ter mais um segundo de paz. E que diferença faz agora?, a minha mente protestou contra si mesma, desacreditada. O embrulhar de estômago me acompanhou por cada um dos muitos quarteirões que desci pelas calçadas sujas da Augusta até em casa, num desgaste emocional tão intenso que se fazia notar nos meus olhos. E nos meus movimentos.
 
Arrastei os meus All Stars surrados – que em algum momento, alguma vez, dois ou três anos antes, haviam sido brancos – pelo chão da sala e atravessei para a cozinha. Totalmente apática. Sentia o peso daquela confusão, que acabara de piorar mil vezes mais, se chocando contra o meu corpo. Puxei uma cadeira, tomada por uma impotência devastadora, e me sentei por alguns segundos no escuro. Que inferno.

Tirei o celular do bolso e coloquei-o indelicadamente na mesa, como se me livrasse da própria arma do crime. Maldito, encarei o telefone, toda infantil, com ódio. Apoiei um dos braços sobre a mesa e reparei na marca que a Mia tinha deixado mais cedo no meu antebraço. Vai ficar roxo. Deslizei os dedos sobre a mordida. E de repente, senti uma necessidade estranha de falar com a Mia. Só avisar, sei lá, que estava tudo bem – quando, na verdade, não estava. Não queria que ela soubesse de todo rolo que se seguiu à minha saída do seu apartamento. Não ainda.
 
E então, checando dez vezes a porra do destinatário, enviei-lhe uma mensagem descontraída.

Depois escorreguei pela mesa, afundando o rosto cansado nos meus braços, cruzados sobre a tábua e ainda ligeiramente gelados do frio que fazia lá fora. Eu tô fodida, suspirei com pesar. E inspirei. Inspirei fundo e expirei mais uma vez, lentamente, tentando me livrar dos meus fantasmas. Que grande merda. Então, senti o celular vibrar na superfície da mesa. Levantei os olhos por trás do meu braço, esticando-o para pegar o telefone. E abri a mensagem diante do meu corpo, que continuava debruçado sobre a mesa da cozinha.

“Hahaha eu disse q vc ia congelar! Da prox vez te empresto meu moletom se vc ñ for tão cabeça-dura ;) e qro ir dormir tbm mas to aqui no chão da sala ainda... ñ consigo parar de ouvir o cd e pensar em vc, pqp”.

Abri um sorriso na mesma hora.

14 comentários:

  1. Nada melhor que as palavras certas, pra o pensamento ter um segundo de paz, depois das besteiras feitas, e as palavras finais de Mia, foram...o que ela precisava...Ou não.rs

    Ed - João Pessoa - PB.

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  2. Nada como uma msg liiindaaa pra afastar os problemass!!

    Ahhhhh, Viva o amorrrr!! \0/ \0/

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  3. Essas paixões são tão ridículas e boas!

    A FM pode estar fodida, mas saber que a Mia respira a faz sorrir. #digno!

    =B bise!

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  4. Own, tão lindo! Eu quero que o Fer descubra logo e elas fiquem juntas, poxa. Vai, Mel, continua. ):

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  5. Quero guardar a Mia num potinho só pra mim. E a FM também. ):

    Owwnti...

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  6. Olha, ainda na paranoia...coisa fofa sempre vem seguida de coisa merda pra Devassa.
    #tensa

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  7. Quem diria que a Devassa ia ficar nessa situação, hein?
    Tanta gente na agenda e a mensagem vai logo pro melhor amigo do Fer. Tá, de repente essa é uma forma de encorajá-la a conversar com a Mia e depois, dependendo do que sair da conversa, ela falar com o Fer. Agora mais alguém tem o poder de determinar que o jogo acabou, então a pressão é maior.
    Não que eu ache que a Mia tenha condições de resolver algo agora, afinal ela tá curtindo essa essa coisa toda com a Devassa, mas será que ela já parou pra pensar no Fer? Acho que pra ela, nesse momento, não seria nada fácil trocar o namorado por uma garota, principalmente porque eles são amigos e moram juntos. Vai levar um tempinho pra ela se acostumar com a situação.

    A história é incrível e envolvente, isso se comprova com as pessoas estarem sempre ansiosas pelo próximo post e olha que já chegamos no post 200.
    São 200 posts pra mais de 214 mil acessos. Parabéns, Mel.

    Noellyhot, vem cá!
    Hoje temos 222 motivos pra comemorar. Happy b'day, baby!

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  8. Me perdi total nesse final. Muito lindo *-*

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  9. ando precisando tanto de uma mensagem dessas. haha

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  10. maiis de 15 min pra conseguir ler o post...hj tah tenzzzoooo

    terminou mto perfo *_*

    mto PTM DRM pra tds nós nesse feriadaum ;)

    BGS @Tucca_xD @denise_jacoby and cia

    MUAH

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  11. Ai meooo Deos, cara a FM tá numa situação complicada e mto estressante, tadinha. Como minha vó dizia né, "Deus escreve certo por linhas tortas" se pá essa é a oportunidade que a FM precisava pra abrir logo o jogo com o Fer, embora saibamos que isso ñ vai acontecer. Bah velho, nada como o carinho e a atenção de quem nós amamos pra acabar com a tensão e o desespero, nem que seja por 5 min. Mel, parebéns pelos ótimos textos, cada dia q passa me torno mais tua fã. Bjo ;* E óh, PTM DRM ever ahahahaha

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  12. Muito bom , show de bola

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  13. Mesmo com a choradeira do post anterior, este daki eh melhor =D

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