outubro 13, 2010

Hangin’ on the telephone ♫

A sexta-feira chegou excepcionalmente rápido, acelerada pelo tanto de trabalho acumulado que me aguardava no estúdio quando eu finalmente decidi dar as caras por lá. Três horas extras forçadas na quinta-feira, argh, e sossego algum na manhã seguinte. Pura exploração laboral. É assim que vocês tratam uma funcionária recém-recuperada de uma enfermidade seríssima, seus porcos insensíveis?! Aquilo era uma violência contra a minha pessoa, um absurdo. Mas, tá, que se dane, dei de ombros, lá pela terceira xícara de café do dia – sentada na pia da cozinha do trampo, em uma pausa longa-demais para quem estava reclamando da sobrecarga horária.
 
O fim de semana tá logo aí, eu pensava, me autoconsolando.
 
Estava, na verdade, a uma hora e meia dali. E trabalhando daquele jeito, como uma coitada duma mula de carga, ele chegaria antes ainda. Argh. O lado bom era que o estresse me impedia de mandar mensagens para a Mia o tempo todo. E considerando a minha mais nova consciência – também conhecida como Marcos –, certa ponderação até que funcionava ao meu favor. O que significava cinco ou seis SMS por hora ao invés de vinte. Já o lado ruim era que, , era chegada a sexta-feira. E isso, por si só, não podia ser bom sinal na minha vida.
 
“Vc vai hj neh? ;)”. Olhei de relance para a mensagem da Mia, com o celular apoiado na pia, e não soube como responder. Eu precisava de um plano – qualquer plano. Mas minha mente, agora, divagava sobre as bolinhas de ar que se formavam no meu café, numa análise cromática sobre a tonalidade amarronzada que saía do líquido preto. Que coisa esquisita. Uma vez que se esgotaram as bolhas e todas as minhas possíveis desculpas para continuar procrastinando ali, desci as escadas mais uma vez para buscar as provas de uma sessão que deixei imprimindo na máquina do estúdio. Voltei com uma pasta cheia à minha mesa e sentei-me sem vontade alguma de começar, já grudada mais uma vez no celular.
 
Há duas horas, entre uma mensagem e outra da Mia, o Gui me ligava, empenhado em uma campanha telefônica para que eu o acompanhasse na Bubu naquela noite – o que obviamente estava fora de cogitação. Eu não estava tão desesperada assim.
 
_Só vai ter homem lá, mano! – eu repetia, brava, já na terceira ou quarta chamada que ele me fazia naquela tarde.
_Meu... você me dá bolo atrás de bolo, porra, cê não tem poder de decisão. Foda-se que só vai ter homem! Só vamoooos... – ele cantava ao celular e eu podia imaginá-lo dando pulinhos de insatisfação do outro lado da linha.
_Não, meu! Não quero!
_Cê não tá toda namorandinha aí com a outra, caralho?! Que diferença faz se só vai macho?
_Simplesmente porque não vou pegar ninguém, não quer dizer que quero ficar olhando um bando de macho sem camiseta... – argumentei, segurando o aparelho contra o meu ombro, enquanto minhas mãos se ocupavam com as fotos – ...homem é um negócio muito feio, mano. Tudo amontoado e suado, naquele forninho, se pegando. Credo, não! Não! Não dá.
_Aaai, que exagero, como se fosse tão ruim assim...
_Gui, já fui na Bubu de sexta... Não dá. Sério! – eu enfatizei, indignada com a insistência dele – Vamos em outro lugar, porra.
_Ah, meu, eu já vou tá em Pinheiros, vai... É do lado. Que custa, sua piranha?!
_Não. Não, não, não. Não!
_E cê tá sendo injusta, pô, sempre cola umas meninas lá...
_Gui, NÃO!
_Ahh... você vai. Você vai e ponto final.
 
Então, ele desligou. Antes que pudesse ouvir o trigésimo “não”. Aí eu, por minha vez, redisquei para a Marina, com quem eu havia falado há menos de uma hora, e ela já atendeu com aquela voz desagradável de quem não quer nada comigo.
 
_Mas o que cês vão fazer? – eu insisti.
_Ficar em casa, meu... – ela respondeu, impaciente – Por que você inventa de sair comigo nos piores dias?! Já falei que não dá, hoje não dá.
_Não sou eu que “invento”, meu! Não é minha culpa! Ela que meteu o aniversário dela na sexta, porra! Eu sei lá porque não fez na terça logo de uma vez! Qual é a vantagem de morar em São Paulo se cê não aproveita que tem balada todo dia? – revirei os olhos – Vai, por favor... Eu preciso de gente confiável do meu lado hoje, Marina, eu não posso aparecer naquela droga e fazer mais merda ainda. Por favor, meu... Qualquer coisa!
_Mas precisa ser comigo?! Que saco, chama outra pessoa!
_Não, cê sabe que eu só confio em você – disse, como se fosse óbvio.
_Eu vou estar ocupada, sinto muito, gata. Procura outra babá pra você.
_Nããão... – eu choramingava – O Gui quer me arrastar pra Bubu, meu... Eu não quero ir, só vai ter marmanjo lá. No-jen-to. Não dá, não dá.
_Mas você também, hein?! Quer sair de qualquer jeito, “oh! pelo-amor-de-deus!”, mas quer ficar escolhendo, né?
_Não! Não quero! Com você, eu saio. Pra qualquer lugar. Qualquer lugar. É só escolher. Juro. Pode até levar a outra mina aí junto, mas vamos... Por favooor, vamos! Por favor!
_“Pode até levar”... – ela riu, me ironizando – Não, a gente não vai sair... Desencana.
_Ah, mano, é sexta-feira! Porra, Má, sério que cê vai ficar de mimimi?! Vamos fazer alguma coisa!
_A Bia não gosta de dar rolê, meu.
_Quem não gosta de dar rolê?
_Ela prefere ficar em casa, ver filme, fazer um lance de boa, cozinhar. Sabe? Aí a gente fica juntinha, meu.
_...
_Alô?!
_Desculpa, eu dormi por um segundo.
_Vai à merda.
_“Vai à merda”?! Cê se ouviu falando? Quantos anos vocês têm? Cinquenta?!?! Ah, pelo amor de deus, Marina... ficar “juntinhas”, ver filme, cozinhar, fazer um “lance de boa” em plena sexta à noite... cê parece a minha mãe se fosse lésbica, porra! Que deprimente, mano... Puta que pariu.
_Olha, você não tá conseguindo nada desse jeito...
_Tá, tá. “Perdão”. Mas vamos sair?! Por favor, meu... um boteco, happy hour, qualquer coisa! Vejo até filme com vocês!
_Tá louca?! Eu não vou te chamar para ver filme com a gente! – ela riu, de novo – E outra, a Bia também não gosta quando chama gente, e-ela...
_Mano, essa mina tá te escondendo ou o quê?! – a interrompi – Ela não gosta de nada, porra!
_Não começa. Viu... preciso trabalhar agora, depois a gente se fala.
 
Fim de ligação. Simples assim, como se fosse algo irrelevante e que eu pudesse discutir com ela em algum outro momento. Que ódio. Menos de vinte segundos depois, o Gui me liga:
 
_Olha, eu dei uma olhada no site e vai tocar o...
_Gui, eu não vou na Bubu. Não vou e acabou. Escolhe outro lugar.
 
Desliguei o telefone, já impaciente, de saco cheio daquela insistência toda. Respirei fundo e aí redisquei mais uma vez para a Marina:
 
_Você é uma chata, sabia?! – comecei a despejar no ouvido dela, indignada, assim que ela atendeu – Quando eu mais preciso de você, cê vai e faz isso comigo, meu?! Vira as costas e vai lá ver filminho e cozinhar com essa “Bia” aí! Mano, não dá para vocês fazerem isso amanhã?? Ou melhor, faz no domingo! Domingo é que é dia de se entediar até a morte, não sexta!
_Essa conversa já acabou. Quer parar?
_É só hoje, Má... Só hoje. Eu juro. Eu só preciso que passe essa droga desse aniversário. É do lado de casa, mano, eu preciso ir pra bem... bem... bem longe!
_Vai pra Bubu, oras.
_Ah, tá! É só subir a Rebouças, Marina.
_Você não vai subir a Rebouças nesse frio do cacete! Eu duvido.
_Mesmo?! – perguntei com todo meu sarcasmo, ciente da minha capacidade de fazer merda como ninguém.
_Ok, talvez você suba... – ela admitiu – Mas não dá. Hoje não dá, flor, já combinei. Sinto muito.
_Marina, por favoooooooooooor... Por favor! Por favor! – comecei a repetir a fim de vencê-la pelo cansaço.
_Olha, até entendo... – ela seguiu falando, por cima da minha voz, me ignorando – ...porque eu sei que não adianta eu falar para você simplesmente não ir, que você vai acabar aparecendo por lá, já que você é uma imbecil mesmo... – ela teorizou, enquanto eu a detestava do outro lado da linha – ...e claro que eventualmente isso vai sobrar para mim, de um jeito ou de outro. Mas, ainda assim, vou te dizer “não” e aceitar o risco.
_Eu te odeio, você sabe que eu te odeio – apertei os olhos, fazendo birra.
_Ahh... Eu te odeio também, meu amor – ela riu.
 
Desgraçada.
 
Quando desliguei o celular, eu continuava sem um plano decente do que fazer comigo mesma naquela noite, a Mia seguia sem resposta e o relógio da parede já se aproximava perigosamente das seis... Ô diabo.

15 comentários:

  1. Isso é muita maldade com ela, meu, tadinha. HAHAHAHAH

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  2. ahhh eu odeiooo quando meus amigos querem me levar na bubu de sexta >.<
    super entendo a FM nisso!!
    tomara q ela se comporte no aniversário hehe
    e brigada por postar mels :D
    bjs

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  3. Ihuuuull..
    vai ter que ir ver um monte de HOMEM se pegando!!kkkkkkkkkkkk

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  4. HAHAHAHA vai dá merda :x
    Post muito bom e rico *-* Thanks Mel :*

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  5. "-Desculpa, eu dormi por um segundo."

    RI ALTO HAHAHAHAHAHA
    muito bom o post, sério!

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  6. =) AHUAHAUAHU! Total sem noção, se convidando para ver filme e segurar vela para a Má. Só a FM mesmo.

    Acho que a Bubu seria divertida e definitivamente ¬¬ Não entendo essa aversão a homens. Só porque eles são previsiveis, primitivos, burros, incapazes de conquistar positivamente uma guria e seres não confiáveis com uma alavanca descontrolada entre as pernas. #nãoentendo!

    x) bise!

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  7. miNHA teoria se comprova: é 1 coisinha boa pra Devassa e 1- merdas na sequencia....rssrsr

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  8. ain me senti com 60 anos agora uashdiuahsduihasduiha

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  9. ohhhhhhhhhhhhh, já tava com saudade do post....

    Pra variar, cada vez melhor. #FATO

    Amooooooooooo 8X...

    @Edflavia_ems

    Sou fã do seu blog, sou fã do seu conto...Sou fã da Fuckin Mia...

    #MomentoBregakkkkkk

    P.S= Mas é pura verdade...

    #rindoteclasdemaquinasdeescrever

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  10. Adoro diálogos..rsrs - Devassa mimada fato# (2)

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  11. Ela está irritada porque o Gui não para de ligar, instir e tá enchendo o saco dela, só que ela tá ligando e enchendo o saco da Marina exatamente do mesmo jeito.

    Bom, do jeito que ela é vai arrumar um jeito de fugir do aniversário, nem que tenha buscar por uma solução na agenda do celular.

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  12. ela vai pq ela eh fraca e pessoas fracas merecem se fude hasuhausshsa

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