Passei pelos dois no corredor, meio sem saco, e fui até o quarto
do Fer. Vasculhei seu armário, procurando a caixa em que ele guardava sua
reserva de dinheiro do mês. Normalmente a colocava ali em cima, mas desta vez
eu não estava encontrando. E olha, antes que me acusem de estar fazendo uma
ceninha – não, não era como se eu estivesse brava com a Mia. Dane-se a Mia. Eu estava pouco me fodendo para ela
agora. O que me incomodava era ainda me ver em situações daquele tipo, sentia
uma indisposição desgraçada de ficar por perto.
Não acho a
droga da caixa. Fechei a porta do armário e o Fer apareceu na porta.
_Meu, cadê sua grana?
_Na gaveta... – ele murmurou, apoiado no batente – ...tá aí do
lado. Pra quê cê quer?
_Vou fazer um corre... – disse, me curvando sobre a cômoda – ...eu
paguei tudo na última.
_Tá. Mas pega lá embaixo, viu, não vai aqui em cima que o cara tá
vendendo tudo zoado essas últimas... – reclamou, coçando um dos braços – ...e cê
não quer comer aí com a gente antes?
_Não, tô de boa.
Balancei a cabeça, enquanto vasculhava suas gavetas com toda aquela
minha delicadeza – fazendo um pouco de barulho. O Fer ficou me olhando revirar ainda
mais o caos do seu quarto. Assim que encontrei a porra da caixa, me perguntou
se o dinheiro dava, se certificando de que estava tudo certo antes de ir tomar
um banho rápido. “Tá, sim, vai lá”. Contei as notas e as coloquei no bolso, atravessando
o corredor de volta para a sala. A Mia continuava no mesmo lugar que 5 minutos
antes, me olhando passar.
Que seja.
Ela podia me olhar o quanto quisesse. Eu não estava nem aí. A real
é que eu sequer pensei na Mia nos últimos dois ou três meses. E mesmo quando me
via forçada a encará-la, deslizando atrás do Fer pelos cantos do apartamento,
como naquela tarde, ainda era diferente. O sentimento tinha mudado. Se tornou
um grande nada, o nosso relacionamento inexistia. E a gente sequer se falava.
Isto é... até então.
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