...let
me, let me, let me get what I want this time.
(The Smiths)
A Patti me seguiu, em meio àquele mar de gente dançando pós-punk,
segurando a minha mão. E os olhos dos amigos dela nos seguiram também, entusiasmados,
nos observando à distância em meio à pista. Nos olhavam ainda, com uma dose a
menos de empolgação e umas quatro a mais de whisky, os olhos castanhos da Mia. Merda.
Não vou conseguir nada aqui, me
frustrei, não com essa plateia toda. Então
puxei a Patti pela mão, numa decisão rápida, e entramos no banheiro. Os
amplificadores tocavam o que me parecia ser The Smiths. Tinha só duas pessoas na
nossa frente na fila. Longe da roda de amigos, a Patti se tornou mais quieta e
eu perguntei se ela estava bem, sozinha ali comigo. Ela disse que sim. E me
zombou:
_Então era isso que cê queria me mostrar? – riu.
_Isso – eu ri também – Gostou?
_Do banheiro?
_É.
_Olha... Não sei.
_Mas cê viu os ladrilhos que bonitos?
_Muito, verdade. Tem razão.
_Não é? Passei a noite toda querendo te trazer aqui, meu... – brinquei – ...sabe, é um lugar especial pra mim.
_Sei. Traz várias lembranças, né?
_Várias.
A gente se divertia, enquanto esperava. Até uma das cabines vagar.
Finalmente. Fechei a porta atrás de mim e a Patti me olhou, agora menos
confiante. Como se, de repente, estranhasse a situação. Encostei em um dos
lados da cabine, apoiando um dos pés contra a parede atrás de mim. E ela ficou
do outro lado, segurando com ambas as mãos a garrafa, com um restinho ínfimo de
cerveja, um tanto insegura em seus movimentos. Não fiz nada, a esperei. Ela parecia
nervosa com a possibilidade de realmente nos beijarmos – me lembrava, de certa
forma, a Mia de muitos meses antes.
Ela sorriu para mim. E observou em volta, passando os olhos pelas
quatro divisórias que nos cercavam naqueles dois-metros-por-um bem mal iluminados.
Ficamos quietas ali por alguns
instantes. Terminei de virar a minha cerveja e me curvei para apoiar a
garrafa ao meu lado, no chão. Então ela me olhou de volta.
_Isso é estranho... – a Patti sorriu, um tanto desconfortável.
_Por que estranho?
_Ah, não sei... mas é – disse, sem desgrudar os braços e a garrafa da frente do corpo – Não achei q-que eu... s-sei lá.
Ela começou a rir, sem saber o que fazer ali comigo. Aí desviava o
olhar e eu a observava, com calma. De repente, agora, parecia constrangida pela
minha presença. Tirei os olhos de cima dela e abaixei a cabeça, encarando o
chão junto com ela. Tinha as suas pernas encostadas contra a parede, grudadas uma
na outra e tensas, nuns shorts rasgados que revelavam metade do que parecia ser
uma âncora tatuada na parte de cima da sua coxa. Seus dedos se alternavam, dedilhando contra o vidro suado da
garrafa. Então respirou fundo.
_Ei, cê quer ir? – comecei a rir mais uma vez, achando graça no
seu nervosismo.
_Não, eu... – ela riu, abaixando a cabeça com vergonha, e a ergueu logo em seguida – Será que... sei lá... a gente não pode só dizer que se beijou?
_Pode – respondi e sorri para ela – Como cê quiser, meu.
Mas aí não se moveu em direção à porta. Pelo contrário, ela ficou.
E eu a esperei decidir. Passou algum tempo encarando os nossos pés, próximos
uns dos outros no chão, hesitante. Ela com um All Star preto e eu com o meu coturno
surrado. O som da balada entrava abafado dentro da cabine. Ela me olhou de
volta e riu, ainda nervosa. Escuta, se
você não vai fazer nada, declarei terminado o seu tempo, então eu vou,
garota.
Desencostei da parede, me movendo na sua direção. E escorreguei os
meus dedos por cima dos seus, retirando a garrafa das suas mãos, a levando para
trás do meu corpo. A Patti inspirou fundo no mesmo segundo, tensa. E me olhou –
levei a outra mão até o seu rosto e ela fechou os olhos, deslizei os dedos pela
sua bochecha, depois os seus lábios. O mais devagar possível. Aí me aproximei do
seu corpo, descendo a mão até a sua cintura. E a beijei.
(The Smiths)
_Isso – eu ri também – Gostou?
_Do banheiro?
_É.
_Olha... Não sei.
_Mas cê viu os ladrilhos que bonitos?
_Muito, verdade. Tem razão.
_Não é? Passei a noite toda querendo te trazer aqui, meu... – brinquei – ...sabe, é um lugar especial pra mim.
_Sei. Traz várias lembranças, né?
_Várias.
_Por que estranho?
_Ah, não sei... mas é – disse, sem desgrudar os braços e a garrafa da frente do corpo – Não achei q-que eu... s-sei lá.
_Não, eu... – ela riu, abaixando a cabeça com vergonha, e a ergueu logo em seguida – Será que... sei lá... a gente não pode só dizer que se beijou?
_Pode – respondi e sorri para ela – Como cê quiser, meu.