setembro 25, 2011

Redirecionando

Tá. Olha, eu já ia agir daquele jeito de qualquer forma. Aquela era a minha noite e eu tava com um fogo desgraçado na raba. Então, não, não é como se todos os vai-e-vens de sem vergonhice lésbica na pista fossem mero capricho meu. Eu estava feliz pra caralho, porra, e queria beijar todo mundo mesmo – fosse a garota que estava dançando entre eu e a Thaís ou a amiga da Lê que saiu para fumar comigo lá pelas tantas da madrugada. Que se dane.
 
Contudo – e este é apenas um mínimo detalhe –, o fato da Mia estar lá, digamos, a tão poucos metros e com aquela cara de merda para mim, tornava cada má decisão um tanto mais divertida. E eu estava, acreditem, fazendo com que ela visse e reprovasse cada uma delas. 
 
_Cara, nem a pau que cê superou essa mina...
_Ah, cala a boca, Lê! – ordenei, resmungando, conforme pegava dois shots de tequila do balcão.
 
É. Decidi que aquela noite merecia um passe livre. Mas depois de uns 4 meses sem beber direito, bastaram uns dois shots para eu já estar falando mais alto do que nunca e abraçando todo mundo que cruzava meu caminho. Lá pelas duas da manhã, quando o Gui chegou, todo atrasado, cercado dos seus amigos do teatro, pulei em cima dele com tanta empolgação que caímos os dois no chão. Entre a multidão de pés e a sujeira do Vegas. E quanto mais barulhenta e sem noção eu ficava, mais a Mia se incomodava comigo.
 
Que se foda. A verdade é que naquela noite tinha, ali no rolê, uma hétera muito mais interessante do que a Mia vinha sendo naquelas últimas horas, com suas viradas de olho e cortes categóricos às minhas tentativas de integrá-la nas minhas conversas com o Fer. Era amiga de um amigo nosso. Uma ilustradora duns vinte e poucos anos. Em quem eu, após me perder por diversas vezes na boca de outras garotas na pista, tinha encanado de uma maneira que só é possível quando se tem mais tequila do que sangue correndo pelas veias e tudo parece ser uma epifania. Como se fosse a porra do destino.
 
Todavia, apesar dos meus nada modestos esforços, eu ainda não tinha conseguido a beijar.
 
Com ambas as tequilas em mãos, retornei para o seu lado num círculo de pessoas a poucos metros de onde o meu círculo de pessoas estava. Dei um dos copos para ela e viramos tudo de uma só vez. O álcool desceu queimando pela minha garganta, enquanto uma música qualquer do Billy Idol ressoava nos amplificadores da balada. Eu a olhava, insistentemente – e ela se aproximou do meu rosto, apoiando-se no meu ombro, para me provocar e perguntar, brincando, se eu estava querendo embebedá-la com segundas intenções.
 
_Olha, o que eu quero com você... – respondi em seu ouvido, já um tanto insolente devido à bebida – ...eu quero fazer sóbria, para lembrar de cada segundo.
 
Ela se enroscou em mim, se aproximando ainda mais enquanto me escutava, e a sua boca relou de raspão no meu pescoço, desgraçada. Antes de sorrir e se afastar do meu rosto, me negando com a cabeça. É – esse era o nível de flerte que a gente estava. Mas eu gostava, puta que pariu. Disse então que eu estava me achando. E eu dei de ombros, ela começou a rir. Nos divertíamos. Volta e meia, no entanto, os meus olhos cruzavam acidentalmente com os da Mia, a poucos metros de nós. Cada vez mais desconfortável.
 
Qual o seu problema, garota?
 
A Lê trocava ideia com o Fer na rodinha ao lado e a Thaís já tinha sumido, em algum momento, correndo atrás duma butch recentemente descomprometida e que mais estava interessada em fazer ceninha para a ex-namorada do que em genuinamente ficar com a minha amiga. Drama sapatão. Enquanto isso, eu e o meu probleminha da vez nos encontrávamos em mais uma rodada, com duas cervejas em mãos.
 
Ela se chamava Patti. Tinha um piercing no septo, o cabelo preto jogado para o lado, um sotaque mineiro e umas tatuagens old school que estavam me tirando do sério. Sorria na minha direção, rindo de qualquer coisa que eu tinha falado. E eu me perdia por um segundo no jeito da sua boca. Tomei um gole, já ultrapassando a metade da garrafa, numa tentativa fracassada de esfriar a cabeça. Não rolou. Então fiz graça para ela, arqueando brevemente as sobrancelhas:
 
_Vamos dar uma volta comigo, vai?
 
E ela riu, balançando a cabeça.
 
_Não dá, eu sou hétero... – repetiu, como se eu não a tivesse ouvido nas últimas dez vezes que se antecederam.
_Todo mundo é... – retruquei – ...até não ser mais, né.
 
E mais uma vez, ela riu, me olhando. Começava a ganhar certo carinho por mim – acho. E eu, certa confiança. Ela deu um gole na sua cerveja e olhou para o outro lado. Então me aproximei do seu ouvido, fazendo graça – “é pra eu ir embora?”. “Não”. “Não?”. “Fica aqui”, respondeu, esbarrando a mão na minha e eu entrelacei os meus dedos nos seus. “Então vem comigo, vai?”. “Onde?”. “Dar uma volta”. E ela balançou a cabeça, de novo. “Quero te mostrar uma coisa”, insisti. “Que coisa?”. “Vem comigo que eu te mostro”, ri e ela riu também, ainda de mãos dadas comigo.
 
Aí me observou por um instante, hesitante, e deixou escapar um sorriso – “tá”.

14 comentários:

  1. "Todas vocês são até não serem mais" É BEM ISSO MESMO.
    Ai, FM, esperta. Tô precisando demais de uma dessa na minha vida. Cadê?
    Quero mais!

    =*

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  2. até eu com dó da menina Mia assistindo esse ritual de acasalamento HAHAHHAA

    go ahead!

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  3. A FM é areia demais pro meu caminhãozinho. A Mel também. Meu deus do céu, garotaaaas... apaixono!! Post baphonico!

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  4. Iiiiiiiiiiiih 'Meu primeiro amor - Parte 2'
    AAAAAAAAAH continua, por favooorrrrrrrr!

    Muito bom! Muito bommmm! Mais mais mais mais maiiiiieeeessss!

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  5. Mel, parabéns. Você escreve lindamente beem!

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  6. Uau!
    Bem que a FM podia dar uma ajudinha pra todas as minas que estão indecisas e vão se descobrir agora, pra que professora melhor que a Fm?


    Parabeeeeeeeeens Mel
    show!

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  7. Pelo menos dessa vez, Mel, faz a FM quebrar a cara, pls!?! :)

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  8. Aiiiiiii meldels!! comofaz pra aguentar até amanha!!? vc é muito má viu dona Mel!

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  9. A entrada já foi apreciada, agora falta o prato principal...hehe

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  10. Patrícia: está querendo
    FM: vai conseguir
    Eu: quero ver

    Mel: não demore! =D

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  11. ah nao meu, num faz a pobrezinha quebrar a cara!! ela so sofre nesse blog pelo menos nessas ela tem que se dar bem kkkkk

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  12. Uma substituta da Mia u_u

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