Saí na calçada da Augusta, acendendo um dos últimos cigarros
do meu maço. Conforme soltei a fumaça pro lado, checando o celular, me dei conta
de uma mensagem da Mia que não tinha visto – “vai ta sozinha hj? :3”. O ar na rua estava abafado. Dei mais um
trago e digitei de volta, “ñ, desci com o
fer pra augusta.. acho q vms pro apto dps”. Aí pausei por um instante, com
os olhos na mensagem, apoiada contra a parede imunda do lado de fora do boteco.
Me sentia estranha falando com a Mia depois da madrugada com
a Clara. Pois é. Entre isso e o fato de que o Fer provavelmente ia
dormir em casa, recusar devia ter sido fácil – mas não foi. Nunca era. Não
aprendera a lidar com o interesse da Mia. E a verdade é que eu gostava, gostava
de cada palavra sua que encontrava caminho até a minha caixa de entrada, me
convidando para ir ficar com ela, aparecendo de surpresa na porta do meu
trabalho, me beijando entre um pega e outro dum baseado, num vai-dar-merda
impagável. Podia me enganar o quanto quisesse, e não só a mim, mas
bastava seu nome aparecer na tela que meu coração acelerava.
Argh.
Mas enviei a mensagem. Dane-se.
Não tinha como encontrá-la, pelo menos não naquela noite. A última coisa que me
passava pela cabeça era dispensar o Fer por uma trepada com a sua namorada – ainda
que o canalha do meu amigo estivesse levantando do seu banco para ir dar uma
volta com a nossa companheira de mesa em um canto do bar. Isto é, fora da
minha visão. Cê nunca superou, hein, dei mais um trago, achando certa
graça na cena, a bronca que tomou quando te peguei com a Júlia em
casa.
Me divertia a discrição do Fer de quem come quieto, observando
de longe, fora do bar. E não me importava se ele dava uns beijos em qualquer
garota, de tempos em tempos. Ainda mais agora, depois de tanto tempo e águas
passadas, quem era eu para achar ruim? Não conseguia sequer dar conta ou
entender a complexidade dos meus relacionamentos, dos meus sentimentos, que
dirá os dos outros. Mas me divertia.
Soltei a fumaça para baixo, num último trago, e apaguei o
cigarro na parede do bar. Aí entrei de novo. As mesas de sinuca ficavam ao fundo,
numa espécie de porãozinho aberto a uns 5 degraus do piso de entrada. Desci as
escadas e peguei meu copo, que já estava formando uma poça na lateral da mesa. E
fiquei trocando ideia com o tal do Max – enquanto o Fernando beijava a amiga
dele contra a parede, segurando a lateral do pescoço dela com as mãos tatuadas,
no corredor escuro que ia pros banheiros.
Dei uma olhada e virei de costas para eles, começando outra
partida com o cara. Fingindo que não tinha visto.
_Vamos lá, mais uma...
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