Na sexta daquela semana, por outro lado, veio a má notícia: era o
meu aniversário.
Argh. Chamem de inferno astral, de azar sazonal, digam
que é azedume, me acusem de ser rabugenta, que seja – mas eu sempre me
fodia nos meus aniversários. E esse ano não parecia que ia ser diferente. Trabalhei
como uma condenada a semana toda numa série de ações publicitárias. E de todos
os dias em que podia cair a maior gravação da porra da campanha toda, é claro
que tinha que ser na sexta. Odeio aniversários.
Meu despertador tocou às 5 da manhã para que eu chegasse a tempo
no set, que ficava pra lá de Interlagos. Amanheci tão sapatão quanto todos os
outros dias da minha vida – com a diferença de que, agora, eu podia me dizer oficialmente
viada. Aquela era a minha 24ª volta ao redor do Sol. E começou sem nem uma
droga de luz, pisando para fora de casa enquanto ainda estava escuro para ir
pegar a primeira de três conduções.
Inferno.
Meu azar em aniversários era tanto que, com o tempo, parei de comemorar.
Não falava para ninguém, não fazia festa – sequer colocava nas redes sociais. Então,
naquela manhã, quando finalmente cheguei no estúdio onde seria a gravação,
quase duas horas de trânsito depois, tratei de ficar bem quieta para que nenhum
colega meu descobrisse. Deus me livre ser vítima duma festinha de firma,
pensei, toda amarga, enquanto colava o cronograma na parede do set.
As únicas pessoas que sabiam da infeliz data eram as já que me
conheciam há tempo suficiente – como a Marina, com quem eu tinha um
acordo de “comemorar” fora de época. Ainda assim, ela foi a primeira a me
enviar um SMS de manhã, me desejando um “feliz não-aniversário”. Ha-ha, engraçadinha.
Passei o resto do dia de um lado para o outro, resolvendo pepino atrás de
pepino. Absolutamente tudo o que podia dar de errado naquela merda de gravação,
deu – é óbvio. Desde ator atrasado a objeto de cena faltando e
iluminação quebrada bem no meio da tarde.
Para piorar, o buffet esqueceu de mandar uma porra de opção
vegetariana, apesar dos meus insistentes pedidos duas semanas antes, então fui obrigada
a sobreviver o dia todo a base de amendoim e de cigarro. Vai tomar no cu. Lá
pelas 6 da tarde, numa das minhas pausas para fumar, senti o meu celular
vibrando. Era uma mensagem da Clara, escrita inteira em caps lock – “ENTÃO
C Ñ IA ME CONTAR Q EH SEU NIVER, EH ASSIM??! PORRA KKKK”. Era só o que
me faltava. Respirei fundo e meti o telefone de volta no bolso, frustrada, desejando
que aquele dia acabasse logo. Mas espera, estranhei, como diabos ela sabe?
Peguei o celular de novo e disquei, já furiosa:
_PODE PARAR! – ordenei.
_Parar o quê, mano?!
_Fernando, eu não quero festa!
_Mas do que cê tá falando? – ele riu do outro lado da linha, nitidamente culpado – Que festa, meu? Eu, hein... Hoje é algum dia especial por acaso?
_PODE PARAR! NEM VEM!
Todo ano, mano. Todo maldito ano, eu pedia a mesma coisa. E
todo ano, um atrás do outro, o Fer me ignorava e organizava uma noite de
bebedeira com os nossos amigos. Cacete. Mais cedo naquela semana praticamente
implorei para que ele não fizesse nada e expliquei que estaria ocupada. Mas o
fato de a Clara ter sido informada no meio da tarde sobre a data só poderia ter
o dedinho fofoqueiro do Fernando envolvido. Ah, desgraçado.
_Fer, é sério, eu vou trabalhar até tarde, mano – resmunguei – Já
são seis e a gente num tá nem perto de acabar aqui...
_Deixa de ser cuzona. Vem logo pra casa e a gente vai tomar umas, vai.
_Não posso! Tô numa puta gravação importante, meu. Não dá, real!
_Foda-se. A gente espera cê sair...
_Fer, não dá. Não sei nem que horas vou chegar em casa, porra... Provavelmente só de madrugada!
_Velho, é seu aniversário! – ele argumentou, indignado – Fala pra sua chefe aí que é uma emergência e vem tomar umas com a gente, meu. Vai! Comprei um whisky pro cê... Pode ser só nós, a Mia já tá vindo aí...
Ah, pronto. Agora é que eu não quero mesmo.
_Não vai rolar, Fer. Desculpa. Eu nem tô bebendo direito, meu... –
o desencorajei – Deixa quieto, sai só vocês. Hoje não rola mesmo...
Contrariado e meio brincando, entre um xingo e outro, o Fer me
desejou feliz aniversário e então desligou. Ufa.
_Parar o quê, mano?!
_Fernando, eu não quero festa!
_Mas do que cê tá falando? – ele riu do outro lado da linha, nitidamente culpado – Que festa, meu? Eu, hein... Hoje é algum dia especial por acaso?
_PODE PARAR! NEM VEM!
_Deixa de ser cuzona. Vem logo pra casa e a gente vai tomar umas, vai.
_Não posso! Tô numa puta gravação importante, meu. Não dá, real!
_Foda-se. A gente espera cê sair...
_Fer, não dá. Não sei nem que horas vou chegar em casa, porra... Provavelmente só de madrugada!
_Velho, é seu aniversário! – ele argumentou, indignado – Fala pra sua chefe aí que é uma emergência e vem tomar umas com a gente, meu. Vai! Comprei um whisky pro cê... Pode ser só nós, a Mia já tá vindo aí...
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