As semanas se passaram. E àquela altura, eu já estava trabalhando
na produtora há quase um mês. Mais do que jamais tinha trabalhado na vida – o que
quase me fazia sentir saudades do meu emprego anterior. Quase. Não
conseguia decidir se era pior morrer de tanto tédio num cargo fácil ou me acabar
em um que eu realmente gostava.
As horas extras eram quase diárias. E foi numa dessas que eu me
vi, às nove e quarenta da noite, sozinha com a minha chefe. Trancafiadas numa sala
terminando, no caso dela, uma pilha de orçamentos para autorizar e, no meu, um checklist
infindável para a gravação da manhã seguinte. Não trocávamos muitas palavras
além do necessário. Mas o meu celular vibrava o tempo todo sobre a mesa. Aí eu
o checava, fazendo uma expressão séria, como se fosse de trabalho – enquanto
lia as mensagens da Clara secretamente, perguntando o que a minha chefe estava
usando.
É.
Nos divertíamos com a crush platônica que eu mantinha por aquela
mulher foda, que nunca em um milhão de anos me daria bola, sentada a menos de
dois metros de mim. Ali, no seu terninho descolado, com cara de poucas ideias e
gata, pra caralho. Eu a olhava de relance. Então descrevia o que estava fazendo
por SMS e inventava cenários em que eu a interrompia, em que chegava nela. Aí a
Clara me sugeria outras estratégias, me encantando naquela sem vergonhice
compartilhada. “Vou ser demitida, mano”, a respondi, segurando o riso, “por
justa causa”. E o meu celular vibrou de novo, assim que o coloquei sobre a
mesa – “mas vai valer a pena? eh isso q importa rss”.
_Então... – a minha chefe comentou, de repente, e me observou de trás
de alguns papéis empilhados – ...qual é a sua, afinal?
_Hum?! – ergui a cabeça, sem ter escutado direito.
_“Qual é a sua”... – repetiu calmamente e ergueu os olhos por um instante, me encarando mais uma vez, antes de voltar a rubricar o documento que tinha em mãos.
_A “minha”?
_É... – riu, focada no papel que lia, com uns anéis prateados nos dedos – ...tá rolando uma aposta entre todo mundo na produtora.
_Uma aposta?!
_Se você gosta de meninos ou meninas...
Comecei a rir na mesma hora, na minha, e ela me observou achar graça.
Hum. Chuta. Me ajeitei na cadeira – onde estava largada
trabalhando – e passei um dos braços por cima do encosto, a encarando de volta.
Ainda que talvez não devesse. Notei umas manchas sutis no seu braço, quase como
umas sardas, dessas que vêm com anos de sol.
_Não se preocupa... – ela continuou, enquanto assinava a parte
inferior de uma das páginas – ...esse tipo de comentário é comum por aqui.
_Não tô preocupada, só... – sorri e minha chefe subiu os olhos novamente na minha direção – ...curiosa. Para saber em qual dos dois você apostou.
_Eu?!
Ela riu e eu a arqueei as sobrancelhas, como se a desafiasse a me
dizer. Sentia-me como se dividisse um cômodo com a Catherine Keener em “Your
Friends & Neighbors”, do Neil LaBute. Que era como metade das minhas
fantasias começavam, de toda forma. Cacete. Aquela mulher era maravilhosa.
_Bom... – ela fez pouco caso – ...eu acho que você gosta das
meninas.
Deslizei um pouco na cadeira, a observando com naturalidade.
_E você? – achei graça e comecei a brincar com um isqueiro que
estava sobre a mesa, passando-o entre os meus dedos, sem deixar de prestar
atenção nela – Gosta?
_De meninas?
_É.
_Hum. Sou casada com o meu sócio... – ela me respondeu, sem parecer se incomodar com a pergunta – ...há quase quatro anos. Mas fui “heteroflexível” por uns anos, por assim dizer, quando era um pouco mais velha que você... – brincou – ...acho mulheres muito complicadas, não é pra mim.
_Olha... – a encarei na pilantragem – ...se cê quiser, dá pra descomplicar facinho, viu.
Não consegui evitar um meio sorriso impensado, imprestável. Numa
confiança que transparecia sutilmente nos meus gestos. Ela riu.
_Você parece dar trabalho às suas meninas... – comentou e arqueou
as sobrancelhas, brevemente, voltando os olhos aos documentos que segurava em
mãos.
_Eu? – achei graça – Não.
Nem um
pouco...
_Hum?! – ergui a cabeça, sem ter escutado direito.
_“Qual é a sua”... – repetiu calmamente e ergueu os olhos por um instante, me encarando mais uma vez, antes de voltar a rubricar o documento que tinha em mãos.
_A “minha”?
_É... – riu, focada no papel que lia, com uns anéis prateados nos dedos – ...tá rolando uma aposta entre todo mundo na produtora.
_Uma aposta?!
_Se você gosta de meninos ou meninas...
_Não tô preocupada, só... – sorri e minha chefe subiu os olhos novamente na minha direção – ...curiosa. Para saber em qual dos dois você apostou.
_Eu?!
_De meninas?
_É.
_Hum. Sou casada com o meu sócio... – ela me respondeu, sem parecer se incomodar com a pergunta – ...há quase quatro anos. Mas fui “heteroflexível” por uns anos, por assim dizer, quando era um pouco mais velha que você... – brincou – ...acho mulheres muito complicadas, não é pra mim.
_Olha... – a encarei na pilantragem – ...se cê quiser, dá pra descomplicar facinho, viu.
_Eu? – achei graça – Não.
Meeeeeeeeeeeeeeeu, post GÊNIO. Um dos seus melhores! De longe!!! A sutileza e como tudo ficou nas entrelinhas, consegui imaginar direitinho as duas conversando num estudio sozinhas , o resto da empresa em silêncioe de noite... demais demais demais demais. Como você consegue, Meeel?? Amei muito!! Adorando a provocação com a chefa, rsrss
ResponderExcluirPqp. Catherine Keener!!! *-*
ResponderExcluirNossa, ñ sei se foi vc ou se é a chefe, mas me deu um caloorrrr lendo isso aqui... FIQUEI TENSA cara e nem rolou nada 'kkkkk
ResponderExcluirAmeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei! Qro mais logooo Mel!!
Geeente.. não sei o q me deixou mais de cara, se a informação inesperada da chefe ou a indiferença meio interessante dela!
ResponderExcluirE a FM dizendo q não dá trabalho... hahahahahaha!! Descarada!
Woooow... quero maaaais!!
Que post foda!
ResponderExcluirEssa chefe dela, sei não... Tenho certeza que elas ainda vão se pegar. Ainda mais com esse comportamento "héteroflexível" dela num passado não tão distante.
Adoro essa imprestabilidade da FM, rs.
Nãooo, mais concorrência para a Mia.
ResponderExcluirMass tirando isso adorei o post
gnt muito bom isso. Heteroflexibilidade, adoooorei isso. Adorei a indeferenca da chefe, e ainda mais o tudo qe ficou claro nas entrelinhas. Muito bom o post, ja qero o desenrolar dessa historia.
ResponderExcluirHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirprevejo muitos posts com essa chefe, hein........... sem mais.
Vão se pegar nada, essa chefe vai mexer com a cabeça dela sem mover um dedo e deixar a FM enlouqueciiiiiiiiiiiiiiiida kkk certeza!!!!
ResponderExcluirDevassa como sempre né!!! kkkk
ResponderExcluirMas e o ♥?? Já esqueceu a Mia??
Eu duvido rs ^^
"You are the girl that I've been dreaming of ever since I was a little girl." ♫♪
Ahhhhhhhh a Devassa está de volta e com a bola toda agora a coisa vai esquentar adooooooooro!
ResponderExcluirQue post interessante, rs. Não deixa a gente curiosa por muito tempo Mel, por favor :(
ResponderExcluir"heteroflexível"? Haha...acho que isso é um convite do tipo: menina, se vc investir vai ter.
ResponderExcluirUi, isso pode render boas horas extras. Tô tensa. =p
ResponderExcluirCatherine Keener
ResponderExcluirOH SENHORRRRRR
vou morrer de tesã~~~~~[erase] emoçao :)
bem que você disse que esse era da série "coisas que você já sabia que iam acontecer". e sabe o que mais fantástico? mesmo quando eu já sei, a graça continua. eu leio com tanta empolgação quanto num post totalmente inédito, porque eu quero ver como ficou, o que mudou, como foi detalhado... ai ai, é lindo demais. e eu sempre vou me impressionar com a incrível capacidade de mulher maravilha que a FM tem de mudar de humor quando tem mulher nova na jogada, hahahaha! aposto que nem nem deve ter pensado na Mia ;)
ResponderExcluirFM vai pegar a coroa... Esse "heteroflexível" não convenceu muito... Hahaha
ResponderExcluirDemais o post! :)
Super adorei e li toda empolgada,não curto quando aparece uma "mina nova" pra FM, mas agora me deu um gááááás hahaha até esqueci Patti u.u
ResponderExcluirHAhahahhaa aiii que deliciaaa!!!
ResponderExcluirAdoro mulheres mais velhas!!
Delicia! rs