Meu coração parou – puta merda.
E o meu estômago se embrulhou, na mesma hora. Ainda que eu não
quisesse, argh, ainda que não quisesse dar a mínima. Senti o ar me faltar.
Preciso sair daqui. Mas não conseguia tirar os olhos da Mia ali, em cima
daquela escrota, beijo atrás de beijo, enquanto o estúpido do Fernando
não fazia porra nenhuma, sentado ao lado delas e assistindo, provavelmente com
tesão. Filho-da-puta. Estava chapado pra caralho.
Encarei as duas se atracando, em meio a toda aquela gente,
em choque. Puta que pariu. A Mia subia em cima da, da d-desgraçada
da garota, no sofá, bêbada, mordendo a sua boca, e – caralho. As mãos
dela puxavam a cintura da, d-da Mia, agarrando a sua meia-arrastão, deslizando
sobre seu sutiã e aproximando seu corpo do dela. E eu me sentia, m-me sentia, não
sei. O
meu coração começou a acelerar. E com muita dificuldade, forcei o ar goela
abaixo, sem conseguir respirar direito.
Não, me senti
desnorteada, isso não.
Tentei me controlar, com uma vontade desesperada de sair logo dali,
daquela porra daquela festa, inferno, sem querer saber de mais nada. Sequer
sabia por que me importava com a Mia ali – e ainda assim, importava. Importava,
porra! A boca dela na de outra garota, os seus beijos, as suas mãos
correndo pelo seu corpo, cacete. Importava! Puta merda, como
importava. Contra todo o bom senso, é, talvez. Mas o fato é que
importava.
Respirei fundo, merda. E
senti o ciúme crescer em mim, incômodo, como um câncer. Me revirando as
entranhas, de repente. Me invadindo os órgãos, contaminando tudo. A cada beijo dela
com, c-com... argh. Não. Não, mano, me irritei, tacando a latinha ainda cheia para o lado. Que se foda. Que se foda todo mundo nessa merda. Saí trombando nas pessoas, num surto, tentando
apagar aquela imagem da minha cabeça. Senti uma raiva como nunca antes, filha-da-mãe. Sua desgraçada.
Desci na rua e peguei o primeiro táxi
que passou, abrindo a janela para fumar. No rádio, estava tocando baixinho “Dancing
on my own” da Robyn, numa ironia cruel.
Acendi um cigarro atrás do outro, nervosa – mas não
conseguia pensar em outra coisa, conforme o carro atravessava o centro da
cidade, angustiada com a ideia de a Mia estar lá na festa, se amassando com,
c-com outra garota que não era eu. Como
se, como se agora não fosse uma porra dum problema.
Vai tomar
no cu.
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