abril 30, 2012

Ineficiência

É. Meio-dia e quarenta, após uma noite mal dormida, decorrente de uma série sucessiva de cigarros e pensamentos menos saudáveis ainda, e lá estava eu – desperdiçando meu precioso horário de almoço para passar raiva em frente ao funcionário mais incompetente de toda assistência técnica de celulares da capital. Por que eu tenho que ser tão imbecil?, revirei os olhos para mim mesma.
 
A conversa com a Mia na noite anterior se prolongou por mais de 50 minutos e o que começara como uma noite de grandes decisões e amadurecimento tomara, aos poucos, a direção contrária. Passando por cada momento nosso, toda a porra da nossa história, numa nostalgia estúpida de se permitir, me destruindo completamente do outro lado da linha.
 
“Queria que você tivesse subido hoje” – essa foi a última coisa que a Mia me disse, antes de desligar.
 
Àquela altura, sentia que o ar custava para entrar nos meus pulmões. E assim que vi o seu nome sumir da tela, encerrando a maldita ligação que me tirara o fôlego, perdi o pouco de sanidade que ainda tinha, me sentindo mais perdida do que quando tudo aquilo começou. Aí joguei a porra do celular para longe. Para longe de mim, é, como se pudesse fugir. Fugir dela. Inferno de garota na minha vida.
 
E agora lá estava eu. O visor tinha quebrado e a porra toda não ligava. O conserto em si custava pouco, eram os dias de espera que me incomodavam. Já podia até ouvir o Fernando me dando sermão sobre como eu devia ter comprado um smartphone meses antes, sob incessantes recomendações dele, ao invés de insistir naquele atraso tecnológico do período Jurássico que sequer chip tinha. Agora me via forçada a esperar dias até chegar a peça dinossáurica substitutiva. Droga.
 
Nem o atendente estava engolindo meu apego a aquele aparelho caindo aos pedaços. Não, amigo, você não tá entendendo, ouvia impaciente aos argumentos dele para que eu desistisse de consertar aquele e arranjasse um novo, se eu perco essa lista de contatos, eu perco a minha vida inteira. Nem a pau. Soltei o ar vagarosamente, tentando não me irritar ainda mais.
 
_Escuta, cara, você quer a grana do serviço ou não?! – me enchi de vez com aquela ladainha toda – Porque eu posso levar em outro lugar para consertar, se for muito trabalho pra você, sabe...
_Não, dona. Se cê quer mesmo, segunda-feira tá na mão!
 
Argh. Isso significava uma semana toda sem celular. E olha, eu bem que merecia – por ser uma porra duma descontrolada. Desci o degrau em frente à loja na Paulista e saí pela calçada, com os meus All Stars surrados, indo em direção à produtora na Brigadeiro. Acendi um cigarro e observei o maço quase vazio, após as infelizes horas acordada naquela madrugada. O que mais vai dar errado hoje?
 
Parei na esquina para esperar o sinal abrir para pedestre. O dia tinha começado mal e só ia piorar – afinal, eu precisava do meu celular para trabalhar e agora tinha que ir lá contar para a minha chefe que ia ficar incomunicável pelo resto da semana. Porcaria. Já podia antecipar a quantidade grotesca de horas extras que teria que fazer por conta disso. E como se precisasse de mais alguma preocupação na minha vida, ainda tinha ela – a Mia. Me fodendo a cabeça, a cada segundo que passava.
 
Minha respiração oscilou pesada, insegura, sem conseguir tirar ela dos pensamentos. O problema – soltei a fumaça para o lado, nervosa, atravessando na faixa – é que o meu melhor amigo também estava lá. Pois é. Entre nós duas. Onde sempre esteve. “É possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?”, ela me perguntou ao telefone, na noite anterior. Traguei mais uma vez e tirei o cigarro da boca, mordiscando os lábios e os judiando, num nervosismo meio distraído.
 
E a verdade é que eu a entendia. Contra toda a minha vontade – mas a entendia. Parte de mim sequer sabia se queria mesmo que a Mia se decidisse por mim, sem querer pôr a perder o que eu tinha com a Clara. O que me fodia era como ela podia ainda estar tão em dúvida. Depois de tudo, tudo o que te ouvi dizer, cacete, me revoltei, sentindo o meu coração entalar na garganta.
 
Talvez minhas ex-namoradas tivessem razão. Talvez eu gostasse mesmo de endorfina, de adrenalina. Metida naquela porra daquela confusão de novo, argh. Não é possível que tenha alguém no mundo com maior tendência à imbecilidade deliberada do que eu. Puta que pariu, viu. Traguei o cigarro já quase terminado, fumando como se a solução estivesse no fim daquele filtro. Inferno.
 
Por mais que o meu coração acelerasse com cada sinceridade dita pela Mia ao telefone, sobre nós e como se sentia, ainda tinha todo o restante da nossa história pesando contra ela. Após tanto tempo atrás daquela garota, o meu fôlego tinha se esgotado. Passei a mão na nuca, sentindo a minha cabeça doer, exausta de tudo aquilo. Até quando eu vou ficar nessa merda?, me irritei.
 
É. Talvez um tempo sem celular me fizesse bem no fim das contas. Assim me forçava a ficar longe das mensagens emocionalmente inconvenientes da Mia. O problema é que isso também me impedia de me comunicar decentemente com a Clara – isto é, não que ela esteja retornando as minhas mensagens nos últimos dias. Argh.
 
O único telefone que eu sabia de memória era o da Marina, para quem eu não tinha intenção nenhuma de contar sobre o rolo todo – depois de garantir meu não-envolvimento com a Mia uns dias antes. É melhor ficar na minha, concluí enquanto caminhava, já virando a esquina. Conforme me aproximei da produtora, com a cabeça cheia, vi o Fernando sentado na calçada da frente. Ali, fumando.
 
_O que cê tá fazendo aqui? – perguntei, confusa, já a alguns passos dele.
_E-eu... – ele resmungou, com uma expressão péssima – ...eu não conseguia te achar, meu!
_Meu celular quebrou, acabei de vir da assistência – expliquei – Tá tudo bem? O que foi??
_Fui demitido, meu.

22 comentários:

  1. O QUEEEEEEE?????? :( :(

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  2. Fodeu! Acho q não preciso dizer mais nada.

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  3. WHAT? WHAT? WHAT WHAT? MAN

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  4. Isto muda TUDO. com a Mia, com a fm, com o ape, com tudo. não sei oq esperar!! PUTA MERDAA, POR QUEE AGORA???? =///

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  5. Puta merda! Vai mudar muitas coisa sim com essa maldita demissão, mas as coisas já não estavam muito boa então...valeu, Murphy! Seu FDP... Só espero que esse clima pesado passe logo

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  6. Bem que o Fer podia arranjar um emprego em Manaus ou na Europa e deixar o caminho livre pra Mia e a FM.
    Boa idéia, não? kkkkkkk
    #Team Mia

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  7. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

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  8. fer está demitido, nao tem dinheiro pro ape, tem q sair de sao paulo e a mia fica só pra fm =D HASUHSUHUS

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  9. Grandes mudanças chegando por aii????
    Certeza que sim! ;)
    Mas que tudo leve à Mia.

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  10. Meeu, diz que o próximo post vai rolar logo? tipo hoje? rs

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  11. Demissão: Novo Emprego ou Desemprego, novos acontecimentos, ir embora?! WHY?
    Curiosa ¬¬

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  12. ai, Fernando... vai dormir, vai? aproveita o seguro desemprego e vai, sei lá, passar um tempo fora. tchau!

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  13. Próximo post, porfa?
    ;DD

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  14. ai gente. desgraça pouca é bobagem né? hahahaha e fico tensa por ela, de estar sem celular. acho que eu não sobrevivo nem uma hora :~~~~

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  15. tipo assim.. i need um post novo ><

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  16. fernando vai largar o ap.

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  17. Que ele vá e fique por muito tempooo!! HAHAHAHHAH

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