_Eu?! – a Mia riu, ofendida – Por quê?
_Porque eu, e-eu não... me c-confio... com v-você... – continuei
apoiada contra a parede, quase atropelando as palavras de tão embriagada, e ela
achou graça – ...e, e você s-sabe, Mia.
_Hum. E você acha que eu me aproveitaria de alguém no seu estado? –
disse, sem acreditar nas próprias palavras, sorrindo.
Atrás dela, a porta entreaberta dava visão para algumas pessoas
conversando e se movimentando na cozinha, bêbadas, e deixava que o som da festa
entrasse, barulhento. “Vai à merda”, respondi. Ela riu e aí deu mais um passo proposital
na minha direção, fazendo graça. Não
começa isso, garota, porra. Eu a observei, parada e sem vontade alguma de
controlar os meus impulsos. Podia ver os seus pés se mexendo milimetricamente no
chão. Não, não começa. E por algum
motivo, a sua desobediência era realmente instigante.
Olhei-a fixamente, cada vez mais perto, e então ri. Desgraçada.
Aí subi um dos meus pés, naquele All Star imundo, até o meio do seu vestidinho
preto e a segurei ali, mantendo a distância entre nós. A Mia começou a rir, indignada.
Ergui o queixo e ela forçou a barriga contra a sola do meu tênis, como se
testasse que minha perna estava de fato lá, erguida, a impedindo de avançar.
Olhei-a como se vencesse a batalha. Se comporta aí, diabo de mulher. A
Mia mordeu os lábios frustrada, me observando, absolutamente linda. E eu
estiquei a perna, a afastando ainda mais de mim. Parecíamos duas crianças no
meio da lavanderia.
_Cara, isso é ridículo... – ela constatou, rindo.
_...ah, eu n-não ligo...
_...patético...
_...não dou a m-mínima, Mia...
_...vai, me solta...
_...n-não...
_...escuta aqui, achei que cê tava toda segura aí, que sabia o que
queria, que agora era diferente... – me provocou – ...que não gostava mais de
mim.
_...pode falar o que quiser, vou continuar com o pé aqui, n-não tô
nem aí...
_...não?! – se forçou na minha direção e eu cedi um pouco a perna,
deixando-a dobrar; então a Mia se aproximou e, puta merda, como ela era bonita
– ...e me conta, hein, quem é que tava tirando a roupa pra você hoje, lá no
quarto?
_Não é da sua conta, garota.
_Ah, não?!
_Não – estiquei de novo a perna, afastando-a mais uma vez de mim,
e a Mia riu, contrariada.
Tudo nela parecia me tirar a concentração. Filha da mãe.
_Hum... – se divertia – ...aposto que era a Clara, não era?
_Não é da sua conta... – pisquei na sua direção, a provocando de
volta.
_Quanto você já bebeu hoje?
_E quanto você bebeu?
Me encarou, imprestável, com certa coragem alcóolica, e respondeu.
_O suficiente.
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