Mas aí perdi o foco. Foi estranho. Digo, não estranho, estranho – eu continuei, só a minha cabeça que parecia
fora de lugar. Desconectada dos meus movimentos. O que não costumava acontecer com
a Clara. Com a gente era sempre muito intenso, muito simbiótico. Talvez a ligação me tivesse tirado o foco, não
sei, toda a história com o Fer e o rolo do apê. Argh, não. O que
tá acontecendo?
Sentia como se uma parte da minha mente não conseguisse focar, perturbada
por uns ruídos de fundo, indistinguíveis em si, enquanto os meus olhos admiravam
a Clara na minha frente. Ela se movia sobre mim, as grossas coxas entrepassadas
nas minhas – maravilhosa. Se curvava para trás, montada no meu colo, num
vai-e-vém gostoso, e o meu inconsciente lá, inquieto. Como se tivesse algo sempre
ali, na visão periférica.
Fiz um movimento para cima, levantando as costas do chão e as arqueando
na sua direção, com vontade de fazer aquilo dar certo. Quando a Mia surgiu
rapidamente na minha cabeça. Do nada.
Cerrei os olhos, conforme os meus dedos seguravam as pernas da Clara, com força.
E ela me beijou. Senti a sua menina molhar a minha – deslizando e me fazendo
subir um calor por dentro. Todavia, algo em mim não se desligava. Puxei-a mais
para perto, num esbarrar dos nossos corpos suados. Ela já tinha gozado duas vezes
e eu não cheguei nem perto.
Inferno.
Agora, me esforçava. Mas, ainda assim, parte de mim não se desconectava
do que quer que fosse que me perturbava. Desci a boca pelo seu corpo, a
mordendo. A segurava colada contra mim. E como se me houvessem pedido, dez segundos
antes, para não pensar na porra do elefante rosa – tudo o que me vinha à cabeça
agora, de repente, era o próprio. Isto é, a Mia. E os seus olhos. A textura
da sua pele. O seu cheiro. A forma como se movia quando estava sozinha comigo. Sua
boca, as malditas palavras que saíam dela. “As melhores”, é. Puta merda. Dei um suspiro carregado e
cerrei mais uma vez os olhos, franzindo as sobrancelhas, tentando me concentrar.
Como odiava perder o foco nessas horas – mas,
não, não dá.
_Cara, me dá só um segundo... – pedi, interrompendo tudo, e abaixei a cabeça, frustrada – ...eu tô, t-tô fora de mim, não sei.
_Cara, me dá só um segundo... – pedi, interrompendo tudo, e abaixei a cabeça, frustrada – ...eu tô, t-tô fora de mim, não sei.
Deslizei para o lado, no chão, me afastando da Clara.
_Aconteceu alguma coisa?!
_Não... e-eu só... sei lá. Tô, tô em outro lugar.
Em algum mês do ano passado, provavelmente.
_Aconteceu alguma coisa?!
_Não... e-eu só... sei lá. Tô, tô em outro lugar.
Em algum mês do ano passado, provavelmente.
_Mas... n-não foi nada que... – a Clara estranhou – ...que eu fiz de errado, foi?
_Não, meu. Não mesmo! – me apressei em garantir, me sentindo mal por aquilo – Cê não fez nada, linda! Pelo contrário, cê fez tudo certo... – sorri, a beijando na mesma hora – ...eu que tô fora de órbita, sei lá. Mas já, já passa...
“Tá bem”, ela murmurou, se deitando no chão do apartamento. Aí se espreguiçou, nua, esticando as mãos sobre a cabeça. E eu a olhei ali, a meio metro de distância de mim, sem conseguir entender o que se passava comigo. Esfreguei a mão no rosto, tentando me desfazer daquela confusão, e alcancei um cigarro no maço que estava largado ao nosso lado, o acendendo. Que merda eu tenho hoje?, me frustrei.