agosto 02, 2012

Uns desenterros

O Fernando observava a Marina gesticular, à beira do sofá, cada vez mais indignada. E ele sorria – “então cê não vai admitir?”. “Não é a mesma coisa, você não tá me escutando”. Ele tinha o baseado aceso na ponta dos dedos e se curvava na sua direção, se divertindo. Agora estava só eu e a Marina na sala, sentadas à sua frente – a Mia tinha levantado da lateral da poltrona e ido até a cozinha. Enquanto isso, a minha ex pressionava os olhos, levemente inconformada, e se deixava irritar. Falhava em perceber que o Fernando a estava provocando, sem interesse real em suas respostas sobre se eu era ruim de cama ou não.
 
“Má, tudo bem”, ele insistia, “pode dizer”. E ela balançava a cabeça – “para, chega!”.

Eu ri da determinação de ambos e me levantei, os deixando discutir sozinhos. Fui até a cozinha também. E o som do rádio se afastou, contido na sala – “the way you stick out your lips and keep your hands on the hips and I’m supposed to know and I’m supposed to know”. Entrei pela porta do corredor. E por um segundo, pensei em Ortega. Eu sou eu e as minhas circunstâncias.
 
A Mia se inclinava em frente à geladeira aberta, com uma das mãos apoiadas na porta. Estava num moletom da Vice Squad, uma banda punk inglesa que eu mesma ouvi pouco, e com uns shortinhos jeans quase imperceptíveis por baixo. Uns fios despenteados caíam do rabo improvisado sobre sua cabeça – e ver a Mia descabelada assim me fazia estranhamente feliz. A observei de longe, encostada no batente, com a minha cerveja em mãos. Estava vazia. Não notou a minha presença ali, em busca de algo na prateleira abaixo do freezer.

Andei até a pia e deixei a latinha perto do lixo, apanhando uma garrafa de rum que a própria Mia devia ter colocado na mesa. Abri a tampa. E pus uns dois dedos num copo. Só então ela me reparou ali, levantando brevemente os olhos sobre a porta da geladeira. Perguntou se eu tinha desistido da cerveja, já com a cabeça novamente abaixada. Eu ri. “É só um pouquinho”, respondi. Aí fechei a garrafa de novo, a deixando de lado. E dei dois passos na sua direção, encostando no balcão à sua direita.
 
Tomei um gole. Podia ouvir a Mia se mexer do outro lado da porta da geladeira. Tinha metade de um limão velho na mão esquerda. E os olhos ocupados, com a boca levemente entreaberta, como fazia quando estava concentrada. Agachou-se frente à gaveta de frutas e vegetais. E eu dei mais um passo para perto, cruzando os braços sobre a porta da geladeira para espiá-la, com o copo em mãos. Achei graça nela ali – “o que diabos cê tá fazendo?”.

_Queria... f-fazer uma... – explicou, espaçadamente, conforme vasculhava pelos legumes – ...caipirinha. Mas não acho outro limão, mano!
_Porque não tá aí! eu ri.
 
E aí indiquei para que os pegasse numa cesta, que estava dentro do armário. Não era um bom lugar para limões – admito –, mas foi onde os jogamos na última compra. Pegou mais um na mão e eu a observei em silêncio, enquanto o cortava na metade. Encostei de volta no balcão, em pé, dando outro gole no meu rum. De costas para mim e em frente à mesa, também parada em pé, a Mia espremeu os limões num copo e completou com açúcar. Depois virou por cima o mesmo rum gelado que eu tinha assaltado instantes antes. E aí mergulhou o indicador no copo, mexendo tudo meio de qualquer jeito.
 
Se virou para mim, apoiada contra a beira da mesa. E lambeu rapidamente a pontinha do dedo, antes de tomar um gole, cruzando os pés em frente ao corpo. Podia ouvir o Fer e a Marina ainda discutindo sobre sexo ao longe. Virei o que restava do meu rum no copo e nos encaramos. Lá estavam de novo, as suas sobrancelhas arqueadas. Ri por um instante e ela sorriu de volta, desviando o olhar.

_Nós tivemos algumas boas, não? – lhe perguntei.

Ela sorriu e as arqueou novamente.
 
_As melhores – respondeu.
 
Fiz um gesto com a cabeça, concordando. Meio rindo. Tinha certa naturalidade, não sei, uma tranquilidade entre nós. A Mia descruzou os pés, retomando seu caminho de volta à sala, e eu cruzei os meus, ficando mais um pouco ali. A observei sair, com os braços também cruzados. Hum. Meu pensamento se demorou um pouco na forma como aquelas duas palavras tinham deixado a sua boca. E eu sorri, meio à toa.
 
Depois segui para a sala, sem refletir muito, nuns passos desacelerados.

22 comentários:

  1. deu vontade de beber k enfim, estou com a leve impressão que o final desse dia não vai dar certo... e essa 'conversa' da FM e Mia? que coisa linda, tava com saudade ♥ (FM nem se achando também né k)

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  2. Tá um clima super gostoso entre a Mia e a FM ♥

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  3. "Não interessa, porra". Tem umas sapa que odeiam ex homem mm, hshaushashasa E Mia e Fm sempre sexy juntas mm quando ñ rola nada!! Acho demais isso!!!

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  4. Eiláia !!!...rsrsrsrs...Tá muito bom...os diálogos estão ótimos... Alegria boba...rs... sei !...

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  5. FM nem ai pra gozação do fer e a opiniao d Marina..... mas foi so a mia falar kkkkkk

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  6. As melhores <3
    Mia toda linda de volta para ficar hehe.

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  7. Ahhh. ): Num rolou nada. aushaushaushaushushaush
    Que bom que tá super tranquilo o clima entre todos eles.
    E a Marina super linda gente, adoro ela. *-*

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  8. Adorei a sutileza do retorno da Mia. Elas eram muito estabanadas antes =/// E fui procurar a musica do post, MUITO FODAAA!!

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  9. Delicia de post...

    Mia é esse tipo de garota.. meldels!! que da gostinho, aquele gostinho bom de experimentar... bom até de lembrar.. eu sei bem do tipo.. daquelas que o nome é: Perdição!

    Por isso sou #TeamMIa! porque antes desesperadamente isso do que nunca isso... =D

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  10. A FM eh a mais sincera, neh hihi mandando msg pra Clara de boas e paca... =P

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  11. Tá um clima super gostoso entre a Mia e a FM ♥ ²!

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  12. tsc! eu vim aqui comentar e acabei escrevendo o que ia dizer pelo bate-papo, hahahaha! enfim: sutil e insinuante. gosto assim. gosto muito!

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  13. "as melhores..." ah, Mia! Vem ni mim! <3
    hahahahaha.... Quero mais, quero mais!

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  14. Que calmaria é essa? que blog é esse? hahaha
    Tá ótimo *-*

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  15. "Nós tivemos algumas boas, não?"
    "As melhores"...
    Aaaaai,ai,ai, assim você me mata!
    kkkkkkkkkkkkk

    Go, Mia!

    Tá lindamente escrito, Mel, parabéns!!!!

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  16. "As melhores" aquele tipo de pessoa que sabe o que falar, meu deus! é encantador né?

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  17. Ai, todo esse pessoal Team Mia comentando animadamente e eu com saudade da Clara. Mas vai, a Mia é legal, sabe o que falar, rs. (Melhorou né? Tava qse odiando ela hahaha).

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  18. Vai aparecer a Clara, não vai?! HAHAHAHA
    Eu gosto de babado, confusão e gritaria! hihihi

    Mia, Mia, Mia.. uiiiii

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  19. adoro esses dialogos detalhados =) hahaha

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  20. Como prometido :D

    Adorei a simplicidade do post, parece aquela calmaria que antecede a tempestade. O fato de o Fer ainda estar ali, das coisas estarem bem de uma certa forma. Me parece uma aresta do tempo, aqueles pequenos momentos que guardamos de lembrança por ter sido tão bom e gostoso.

    Pela primeira vez eu realmente senti a cumplicidade entre a FM e a Mia. É como se ambas soubessem (mesmo não se dando conta) de que o que aconteceu entre elas foi necessário para que, ao chegar nesse instante em que uma está na mesa fazendo caipirinha e a outra do lado oposto, elas conseguirem se olharem, serem honestas relembrando um passado que tiveram e, ainda assim, existir a cumplicidade.

    É como se o sofrimento que existiu já não mais existisse e que ambas passariam por tudo novamente só pra que ela pudesse ouvir a Mia dizer naquele seu jeito de menina: as melhores.

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  21. ^^
    Chega a ser bonitinho esse "quero, mas não quero" das duas (msm que de forma natural).
    Pq bem no fundo, esse 'nhên nhên nhên' faz parte das mulheres, e de certo ponto de vista é apreciável!

    Aaah Mia!
    Aaah blog!

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