_Bi... – eu ri, enchendo o seu rosto de beijo – ...acorda!
Já tinha me levantado há quase 40 minutos, tomado banho, feito
café e a Clara continuava desmaiada entre os lençóis. Balancei os cabelos
molhados, os bagunçando com a mão, para que respingasse na sua cara. Nada.
Uma careta aqui, outra ali, e ela se afundou ainda mais no travesseiro, sonolenta.
“A gente vai se atrasar”, cochichei então, subindo em cima dela. Mas nada
feito.
Na noite anterior, acabamos fumando um baseado e nos enroscando no
sofá, assistindo um filme qualquer na TV enquanto a sua gata passava inconvenientemente
em frente à tela. Afundei-me nos seus braços e nos ajeitamos deitadas,
levemente tortas, naquele pequeno espaço. Até que começamos a nos cutucar por baixo
das nossas camisetas de dormir, como duas bobas, e a brincadeira virou uns amassos
meio adolescentes – que logo se transformavam num passatempo um pouco mais adulto.
Dessa vez com sucesso. E o que começou
no sofá da sala, uma hora passou para o quarto. Lá pelas tantas da madrugada.
Agora eu lutava para tirar a Clara da cama. Quando finalmente
consegui, não deu tempo nem de comer qualquer coisa – saímos correndo, atrasadas
e rindo, derrubando o café pelo corredor do prédio e tropeçando nos nossos próprios
passos para descer as escadas. Corri até a estação Sumaré e peguei o metrô
lotado para a Brigadeiro. Assim que desci na Paulista, chequei um relógio
eletrônico de rua e o visor já marcava 09:11. Ops, ligeiramente atrasada.
Acendi um cigarro, apressada, e peguei o meu celular para enviar uma mensagem ao
tal do Du, conforme descia a rua.“Oi, o gui me passou seu numero. Ce quer ir hj ver o apto? Pode
ser umas 18?”, digitei. E ainda estava descendo na calçada da Brigadeiro quando
ele me respondeu – “preciso ta na rodoviária as 5, passo o Natal c/ minha família
no interior :/”, lamentou. Aquele
era o último dia antes do recesso na produtora e eu tinha uma gravação para
acompanhar até às 13 na Liberdade. “Pode ser dps do almoço? 14?”,
perguntei a muito contragosto, já calculando o corre que ia ser sair do set
para ir até em casa. “Sim, com ctz!”, piscou na minha tela, uns segundos
depois.
Tá.
Passei o endereço e fiz como se fosse guardar o telefone de volta no
bolso, mas, por algum motivo, mudei de ideia a poucos passos da entrada da
produtora. E numa idiotice impulsiva, abri mais uma vez a caixa de mensagem. Vejam
bem. Não foi planejado, foi... n-não sei o que foi. Foi um “pensei
em vc do nd ontem, meu, na hr mais nd a ver... rs”, escrito meio sem pensar
para a Mia, conforme dava um último trago no cigarro. Apertei o “enviar” antes
que pudesse me dar conta do que estava fazendo. E na mesma hora, senti um
revirar leve no estômago.
Não queria passar a impressão errada, nem desencadear nada. Mas,
não sei, me senti tomada por uma vontade boba de lhe mandar algo. De falar com ela. Pra quê?, me incomodei comigo mesma.
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