setembro 28, 2012

And...

“When I awoke
I was alone, this 
Bird had flown”
(The Beatles)

A voz do Fernando invadiu os meus ouvidos. Eu estava completamente apagada, deitada de qualquer forma no sofá da sala. Com a coluna toda torta. Acordei com as suas mãos me sacodindo o cotovelo, que eu tinha erguido sobre o rosto para bloquear a luminosidade da janela. Meu braço direito cobria os olhos – o movi alguns centímetros para baixo, abrindo as pálpebras com certa indisposição, e encontrei o Fer ali, em pé do outro lado do encosto, bem na minha frente.
 
A minha cabeça doeu violentamente. Puta merda, me contorci, incomodada – e ele riu da minha careta. O meu corpo parecia pesar cinco toneladas a mais, afundado contra o estofado, e a ressaca parecia sugar secas as minhas veias.

_O que cê tá fazendo aí, mano?! – o Fer questionou, rindo – E por que cê tá sem roupa, porra?

Ahn?, eu o ouvi, desorientada. Senti a minha camiseta amassada contra a minha mão esquerda e notei, então, que o meu braço a segurava sobre a minha barriga. Minhas calças estavam puxadas apenas até a metade das minhas pernas. O quê?, o meu cérebro parecia embaralhado, encharcado em rum e THC, o que aconteceu ontem? Cada pensamento doía, argh. E tudo o que me vinha à cabeça eram os orgasmos da Mia naquele chão, a sua boca contra a minha, o movimento da sua pele tatuada entre os meus dedos. Inferno.
 
As mãos do Fernando se colocaram a menos de vinte centímetros de mim, apoiado com os antebraços no alto do encosto, me observando ali de cima e rindo.
 
_Essa é a melhor memória que eu podia ter de você... – zombou – ...no meu último dia aqui.
 
Revirei os olhos para ele, ofendida. É – eu numa puta ressaca violenta, com os peitos de fora no meio da sala. Mas a verdade é que era até que bem apropriado. Resume toda a porra da nossa convivência nesse apartamento. Esfreguei uma das mãos contra o rosto, tentando me livrar daquela enxaqueca de merda, e me sentei. Aí vesti a camiseta de novo, descabelada.

_Sério, velho... O que diabos cê tava fazendo?! – ele achava graça na minha desgraça e eu só queria que ele calasse a boca, sentindo a minha cabeça doer a cada palavra que entrava no meu ouvido.
_N-não sei... – murmurei, ainda confusa – ...fiquei com calor à noite, acho. Não lembro.

Levantei como um cão rabugento e ele riu ainda mais. Começou a juntar os poucos vinis que restavam no chão, determinado a terminar de empacotar aquelas caixas todas, enquanto eu subia as calças pelas pernas.
 
_Devia ter tirado uma foto... – fez graça, com um disco do Alton Ellis na mão.
 
Ah, vá. Engraçadinho. 

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