_Eu vou pra casa – a Clara murmurou.
Ainda virada para a rua vazia, numa integridade que eu era incapaz
de manter com aquele tanto de álcool correndo dentro de mim. A luz acesa sobre
um táxi que se aproximava, à distância, a fez dar alguns passos na direção da
rua e sinalizar. Me adiantei – “não”. Não podia deixar que fosse embora sem
resolver aquilo, sem mim. E eu sabia que ela
iria. Sem sequer olhar para trás. “Não vai, meu, por favor”, pedi então, com o
rabo entre as pernas. Numa angústia irracional ao vê-la sentar no banco de trás
daquele táxi. Ainda que soubesse que não tinha direito de pedir coisa alguma
para ela.
_Bi – insisti mesmo assim – Por favor.
_Tá tudo bem. Vai pra casa, cura a ressaca, sabe? Fica sóbria... – me respondeu, com a mão já na porta – Amanhã a gente se fala.
_Clara, n...
Fechou a porta antes que eu terminasse e o táxi começou a andar,
lentamente. Merda. Merda! Tudo
o que eu conseguia pensar era só não, não, não – observando o carro se
afastar, impotente. Arrependida. Me sentindo presa a um final que eu não tinha
escolhido para aquela noite, ainda que o tivesse provocado. É.
Talvez se eu não estivesse tão fora de mim, como estava naquele
momento, talvez eu não tivesse a respondido daquele jeito. Talvez não tivesse
sido tão estúpida. Talvez. Talvez se nós tivéssemos deixado pra
conversar no dia seguinte, com menos álcool nos fodendo a cabeça, os ânimos,
tudo não passasse de uma brincadeira, de uma bronca aos risos – como tantas
vezes aconteceu entre nós. E talvez se eu não tivesse metido a porra do meu
nariz na primeira carreira que me botaram na frente, talvez eu sequer me achasse
no direito de ter sentado ali, que nem uma idiota, que nem uma puta duma
idiota, do lado de outra garota.
A raiva começou a me dominar. Imbecil. Sou uma porra duma imbecil mesmo. Esfreguei as mãos no rosto numa
tentativa vã de trazer qualquer sanidade para a minha cabeça. Ainda chapada e
sozinha naquela rua escura, em plena madrugada em São Paulo. A tontura e o
ritmo acelerado com que o sangue corria nas minhas veias começavam a me irritar.
A situação toda me irritava. Caralho. E lá estava eu, numa calçada vazia
de Pinheiros, fodendo tudo com a única garota com quem eu devia me importar.
Senti vontade de destruir alguma coisa, de cometer qualquer
atrocidade. Ir arranjar briga, chutar a boca do primeiro que aparecesse; de encher
ainda mais a cara até vomitar as minhas entranhas e cada grama daquilo que me
intoxicava em algum banheiro sujo de boteco; qualquer porra que me fizesse esquecer
o desespero que eu estava sentindo. A cocaína confusamente parecia amplificar
tudo – o meu sentimento de impotência e a minha capacidade, ao mesmo tempo, de
fazer o que bem entendesse. Num impulso idiota. De gritar, não sei. De explodir.
Mas o estranho é que eu não o fiz, num impasse desgraçado, que me
rasgava por dentro. Eu sabia que minha cabeça exagerava e sentia uma
necessidade irracional de ter bom senso, de ser melhor para a Clara.
De repente, dei-me conta do quanto precisava dela. E meu coração
apertou. Puta merda. Coloquei um cigarro entre os lábios e sentei no
meio-fio, em meio à rua escura, sentindo meus pensamentos me machucarem, se
revirando dentro da minha cabeça. Burra. O que eu tô fazendo, porra?
Agindo feito uma idiota a noite toda, todos aqueles meses, inferno, como
quem procura desesperadamente por um motivo, qualquer motivo, mas sem conseguir
lidar com as consequências quando a merda finalmente acontece, e é
claro que ia dar merda, caralho, o que eu tava pensando, vendo a Clara se
magoar e caindo na real, me arrependendo no mesmo segundo, com um medo
desgraçado de a perder, puta que pariu.
Não posso
deixar isso assim, pensei,
angustiada por tudo o que eu desperdiçava. Alcancei, então, a carteira
no bolso e contei o dinheiro que tinha ali. Não dava nem nove reais. Foda-se, decidi, eu ando pra casa depois. Me levantei e fui até
o ponto de táxi na esquina com a Teodoro, ainda sentindo minha cabeça rodar. O
motorista tinha um bigode grosso e uma corrente de ouro dessas bem de bicheiro
no pescoço. Me levou até o prédio da Clara, a umas boas quadras dali. Ao final
da corrida, me restavam menos de dois reais em míseras moedas.
Andei até
o interruptor do seu apartamento. E toquei. Por favor, por favor, esteja
acordada. Esperei pelo que me pareceu uma eternidade, sem resposta. Cheguei tarde demais, suspirei. E toquei
de novo, segurando o botão pressionado por mais tempo agora. Nada. Atende, por favor. Respirei fundo, com
ambas as mãos apoiadas na parede do seu prédio. Aí toquei uma terceira vez – encarando,
bêbada e ansiosa, o viva-voz abaixo dos botões com os números dos apartamentos.
Esperando por qualquer sinal. Qual é, Clara, me atende, por favor. Os
segundos se prolongavam vazios em frente ao seu prédio, num silêncio
desconfortável.
Dane-se. Peguei então o celular e tentei ligar para
ela – mas a chamada foi direto para a caixa postal. Maldição. Quis jogar o telefone longe. Caralho. Tornei a enfrentar a merda do interfone. Chamei o seu
número, pela quarta vez. Nenhuma resposta. Nada. Apoiei a testa contra a
parede, sentindo como se estivesse ali há horas, agora pressionando o botão
continuamente. Ouvia o zunir da campainha, incessante, e o imaginava cortar o
silêncio do seu apartamento. Vez ou outra, deixava o dedo subir alguns
milímetros e tornava a pressionar o botão, propositalmente irritante. Atende. Atende. Atende. Atende. Atende.
Atende. Atende. Atende. Atende. Atende.
Atende. Atende. Atende. Atende. Atende. Atende, cacete.
E enfim, escutei
o ‘cléc’ do interfone sendo tirado do
gancho do outro lado.
_Tá tudo bem. Vai pra casa, cura a ressaca, sabe? Fica sóbria... – me respondeu, com a mão já na porta – Amanhã a gente se fala.
_Clara, n...
agarre essa cléc do interfone e se redima =p
ResponderExcluirahhh Mel como vc faz isso?? eu já tava ansiosa por esse, aí vc piorou a situação me deixando mais ansiosa pra o próximo, querendo ver a DR u.u
ResponderExcluirClara, pfvr releve a merda que a FM fez, pfvr ):
ResponderExcluirEu ainda nao entendi o porquê desse pití da Clara =/
ResponderExcluirVai FM, aproveite a chance, pleaaaaase!
ResponderExcluirAgora vai! Se bem que eu nem sei se a FM ainda merece a Clara u.u
ResponderExcluirEnfim... Aguardando ansiosa o próximo >.<
Aaaaahhhh... terminar o post no começo do que seria um fim é tenso!
ResponderExcluirAnsiosa é pouco!
Nao quebra assim neh
ResponderExcluirPoooooosta mais!
Quero que a FM termine com a Clara logo, pfvr
ResponderExcluir#TeamMiaForever
Eu gosto dessa independencia da Clara. As outras garotas realmente ficariam la e a Clara faz a FM se tocar um pouco que ela pode ser idiota as vzs. Elas tem um relacionamento bonito <3 <3
ResponderExcluirE amei o barraco bebadas, mto elas! Me lembra um pouco a Dani, ms evoluido!!
Eu era Team Mia até uns dias atrás... VAI CLARA, DÁ JEITO NESSA FM!
ResponderExcluirAinnnn...msm sendo torcida da Mia...tô adorando a atitude decidida da Clara....
ResponderExcluirQuem não se apaixona???!!!
E Mel...uma das coisas boas do post hj é saber q já tem outro p ler!! kkkkkkkk
Obg pelo post duplo de natal!!
Aliás...FELIZ NATAL pessoal!!
(ANA CURI)
achei DO CARALHO a descrição de como o alcool, a cocaina e a angustia afetaram a FM nesse post em especial. foda demais como vc passou isso em palavras
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