O problema é que também não era como se a Mia facilitasse, não
é? Horas depois, lá estava eu, às quase cinco da tarde, me desgastando numa
gravação sem fim no estádio do Pacaembu e discutindo com uns quatro incompetentes
ao mesmo tempo, quando ela me mandou mensagem. Peguei o celular, estressada,
entre um argumento e outro, e olhei para o visor rapidamente – “ei, ñ acha q
ta na hr dum cigarro? ;)”.
Na minha última pausa, algumas muitas horas antes, eu tinha
ligado para a Mia e ficamos conversando por uns minutos. Ela me torturou com a
sua vontade de me ver e eu a diverti com as minhas reclamações sobre o buffet
contratado pra gravação, que interpretou o meu “precisa ter opção vegetariana”
como “vamos picar uma salada murcha de alface com meia rúcula”. Por que diabos
não fazem uma porra dum macarrão? Dum queijo quente, mano?
_Ô! – assobiei e chamei uma das minhas colegas, a uns metros dali;
aí me virei para a roda de pessoas, ainda em meio à discussão – Gente, ó,
resolve com ela aqui. Preciso dar uns 5!
E larguei a bucha da vez na mão de outra assistente, indo em
direção à saída e já procurando o número da Mia nas ligações recentes, antes
mesmo de responder sua mensagem. Bati o maço desajeitadamente na perna, puxando
um cigarro com a boca, conforme discava e atravessava o portão de entrada – quando,
para a minha surpresa, dei de cara com a Mia.
_O que... – sorri, na mesma hora, tirando o filtro ainda apagado da
boca – ...o-o que cê tá fazendo aqui?
Ela sorriu, de volta. Nos seus
shortinhos-com-camiseta-preta-e-All-Stars de quem só saiu pra dar uma volta no
bairro e que, puta merda, me davam uma vontade desgraçada de estar em
casa com ela, vendo TV e dando uns beijos à toa no sofá, sabe? Ela se
aproximou e tirou a franja da cara, segurando o riso. Em uma das suas mãos, tinha
um saco pardo desses de padaria.
_Bom... – ela riu, chegando perto – ...eu tava com saudade e, né,
imaginei que cê devia tá morrendo de fome depois do fiasco da salada mais cedo,
então te trouxe um lanche. E umas batatas!
_Cê...
Suspirei e deixei escapar mais um sorriso, sentindo meu coração
encher.
_...cê não existe, meu.
Passei a mão no rosto, meio sem acreditar que ela estava mesmo
ali. Segurando uma porra dum lanche para mim. E de repente – me senti a garota
mais feliz de toda São Paulo. Ou sei lá, do Pacaembu, enquanto os carros
começavam a se engarrafar nas ruas ao redor de nós. E a luz do sol ia ganhando um tom alaranjado bonito. Puxei a Mia pela mão e a beijei, com
carinho. Daí fomos até a lateral do estádio e sentamos num canto, meio
escondidas, onde comi meu hambúrguer vegano e fumamos um juntas.
Foram os melhores vinte minutos daquela semana inteira.
_Cê...
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