dezembro 25, 2009

Maldito silêncio

Tentei virar aquela chave um milhão de vezes, mas algo me impedia.
 
Tinha medo do que encontraria do outro lado. Imaginando que daria de cara com o meu melhor amigo e estimado colega de apartamento, me esperando no meio da nossa sala, puto da vida, depois de descobrir que eu havia chegado perto o suficiente para beijar a namorada dele caso eu quisesse. E eu queria.
 
Agora me via parada ali, no corredor, antecipando mentalmente cada insulto que ele cuspiria na minha direção. Sem conseguir abrir a maldita porta. A Roberta já tinha deixado dois recados na minha caixa postal e o meu celular registrava inúmeras ligações perdidas. Todas dela. Caralho. Só faço merda. Quando finalmente criei coragem, abri a porta e...
 
Nada.
 
Estranho. Entrei silenciosamente pelo escuro e, como ninguém se manifestou, acendi as luzes – o apartamento estava vazio. Sem ninguém. Sem nada. Sem reações ciumentas explosivas, sem reprovação, sem nenhuma conclusão para todo aquele rolo que eu havia começado naquela manhã. Sem porra nenhuma. Sem desfecho ou indícios do quanto havia sido falado entre aquelas quatro paredes na minha ausência. Um grande nada.
 
Ah, isso era bem pior.
 
Parte de mim, quase preferia a treta. Onde diabos eles se enfiaram? Andei pelo corredor até o quarto do Fer e a porta estava aberta. Entrei por um instante para constatar se realmente não havia ninguém ali. Os lençóis estavam desarrumados – argh. Como eu odiava aquilo. Odiava as coisas que passavam pela minha cabeça quando via a cama dele bagunçada depois da Mia ter estado lá. Sentia o meu coração rasgar, ficava inquieta, me incomodava. Sem direito nenhum, é, mas acontecia.
 
A minha ansiedade foi tomando conta de mim. Eu queria saber. Queria ter certeza do quanto o Fer sabia. Queria olhar nos olhos da Mia e ver se tinha feito alguma besteira irreparável. Ou se todo aquele surto era resultado da minha própria paranoia. Queria alguém ali. Queria alguma certeza. Qualquer uma – mas não tinha nada.
 
Só essa droga de silêncio.

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