fevereiro 02, 2010

Maldita dicotomia

Deitei a cabeça no travesseiro e dobrei as pernas, com os pés descalços apoiados sobre a cama. Estava inquieta. Acendi um cigarro e passei a mão no rosto, de barriga pra cima – eu odiava brigar com o Fer. Aquilo me fazia um mal tremendo. Nossos estranhamentos sempre foram motivados pelo desgaste cotidiano, nunca por uma razão realmente válida. E por mais idiotas que fossem nossas tretas, uma vez começadas ninguém pedia desculpas.
 
Orgulho em excesso, pois é, transbordando pelas janelas daquele apartamento.
 
A minha raiva de vê-lo dando em cima de uma ex qualquer não fazia sentido. Não suportava a ideia dele machucando a Mia, mas também nunca fui altruísta a esse ponto. O Fer perdeu a noção, pensei. Quem preferiria aquela playmobil à Mia? Quem preferiria qualquer garota à Mia? Talvez eu só quisesse descontar nele o meu rancor por todo o meu drama interno, não sei. Eu devia agradecer caso ele realmente fizesse alguma merda, não sair armando barraco, pensei. Levei a mão mais uma vez até o rosto e traguei novamente, encarando o teto.
 
É. De uma forma ou de outra, o Fer era o problema. O namorado, o empecilho, a pedra no meio da porra do caminho. E o meu subconsciente sabia disso. No entanto, desejar o fracasso do relacionamento deles era egoísta demais até para mim. E eu não queria que isso acontecesse. Nunca quis – nem por um segundo. Eu gostava demais dos dois para desejar qualquer mal a eles. Por outro lado, a mera perspectiva de que eles ficassem juntos para sempre me apertava o coração. Violentamente. Não era simples.
 
Antes dos beijos e das conversas cochichadas no corredor, eu estava conformada com a ideia de nunca ter a Mia para mim. Agora, essa possibilidade era insuportável. Eu me sentia dividida: se eu ficasse com ela e o Fer descobrisse, ele ia me matar. E se eles continuassem juntos, eu ia começar muitas outras brigas como aquela e eventualmente íamos acabar nos matando. Ou seja, a previsão não era muito melhor do que o fim dum filme do Tarantino. E eu definitivamente não queria perder a cabeça amizade com o Fer. Menos ainda por uma garota.
 
Só que não é uma garota qualquer, meu coração logo contestou, é a Mia.
 
Argh. Senti um incômodo na mesma hora. Tentei me ajeitar no colchão, mas sabia que o problema não estava na cama. Nem no travesseiro. Isso não vai dar certo, suspirei. Eu sabia que não ia conseguir dormir, não por algum tempo. Apaguei o cigarro, me levantei e andei pelo quarto – já era quase meia noite. Sentei na cadeira do computador e liguei o MSN. Aí fiquei passando pelos nomes na minha lista, meio bêbada, com os pés apoiados na mesa. 

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