julho 20, 2010

Botequinho

Sentei naquele snooker bar sujo, contando os poucos trocados que eu tinha no bolso. R$ 2,47. Isso só me garantia 4 fichas – talvez 5, se eu chorasse um pouco para o cara do caixa. Enfiei as moedas de volta no bolso da calça. E logo em seguida, avistei a minha amiga atravessando a rua em frente ao boteco. Numa regata branca e jeans largos, o boné virado para trás – puta merda. Estava gata.

A Thaís era a única tatuadora num estúdio cheio de macho em Pinheiros. Era uma dessas butch gordas que tem uns braços fortes e um sorriso que te desgraçam a cabeça. Para piorar, recentemente ela ainda tinha tatuado a porra da lateral do pescoço. Cacete. Entrou no bar com aquela cara de quem tinha caído do sofá dez minutos antes. Parou no balcão antes de me cumprimentar e pediu uma garrafa de Brahma gelada – que o cara entregou para ela junto com dois copos americanos. Então veio até onde eu estava sentada.

_E aí, sapatão!
_E aí... – a Thaís sorriu, colocando a cerveja na mesa e puxando uma cadeira.
_Te acordei, meu?
_Não, tranquilo... Precisava sair daquele sofá, foi bom que cê ligou.
_Porra, saudade, faz tempo que a gente num se vê. Acho que desde a festa, não?
_Nossa... – arregalou os olhos e começou a rir, passando a mão na cara – Que que foi aquela sua festa, mano. Não sei nem como cheguei em casa naquele dia...
_Eu sei bem como cê chegou em casa... – pisquei na sua direção, sorrindo.
_Cala a boca.
_Quê? – eu ri – Eu lembro.
_Fica quieta que cê tava caída do lado do sofá, com a porra da Aninha em cima de você, velho. Cê não viu merda nenhuma...
_Ah, então não era você saindo pela porta com a sua ex do lado?!
_Filha da puta...

Ela riu, balançando a cabeça, e se esticou para frente para colocar cerveja nos nossos copos.

_Vem. Vamos beber, vai!

Brindamos e tomei um gole, achando graça na cara de pau da minha amiga. Ela ria também e me contava os desdobramentos daquela noite. Assim que terminamos o primeiro copo, levantei para comprar as fichas no bar. O boteco era um clássico trash paulistano – com uma estufa de salgados de origem duvidosa, um banheiro imundo com porta sanfonada e uma estátua de São Jorge empoeirada ao lado dumas laranjas e uns conhaques na prateleira atrás do balcão. Me sentia em casa. Peguei quatro fichas e ocupamos uma das mesas de sinuca, apoiando os nossos copos na beirada.  

Jogar contra a Thaís era má ideia. Toda vez. Não gostava nem de pensar na quantidade de dinheiro que eu já tinha perdido para ela ao longo dos anos, apostando cerveja atrás de cerveja em mesas exatamente como aquela. Não que eu fosse ruim, isto é, eu até que me garantia contra os bêbados da Augusta – mas não uma sapatão de respeito daquelas. E ela fazia questão de me provocar a toda maldita jogada que eu errava. É. Para depois ir lá e encaçapar três seguidas como se nada fosse.

Inferno.

Numa dessas, a bola branca aterrizou a poucos centímetros de uma das minhas. Praticamente na reta da caçapa. Tomei um gole da minha cerveja e coloquei o copo para o lado, me inclinando sobre a mesa. Era para ser uma bola fácil. Mas a Thaís ficou parada ali, me observando mirar, com os braços cruzados naquela regata e – cacete. Ergui o olhar na sua direção por um segundo e ela sorriu para mim. Como se por um breve instante soubéssemos o que se passava na cabeça uma da outra. E quando voltei a minha atenção para a droga da bola, agora já levemente desconcertada, acertei o taco muito para a esquerda. Maldição. A branca pegou de raspão na outra bola, que bateu na quina da porra da caçapa e eu errei feio.

_PUTA MERDA! – a Thaís gritou e começou a rir – Que vergonha. Que vergonha pra nossa classe, mano...
_Cala a boca.
_Velho, na boa, cê tem sorte de ser gata assim, porque cê joga mal pra caralho...
_Ah, vai se foder!!
_COMO CÊ ERRA UMA BOLA DESSAS??
_PEGOU ERRADO NA BRANCA, CARALHO, IA ENTRAR!
_Ia... – ela zombou, rindo da minha cara – ...ia, sim. Tá bom.
_Cala a boca, mano! – eu ri também e a empurrei pro lado, a Thaís se divertia – Babaca.
_Sério. Como cê consegue se chamar de sapatão?
_Porque... – fiz graça – ...o que importa, eu faço direito.

Ela arqueou as sobrancelhas como se dissesse “é?” e balançou a cabeça, rindo. Era gostoso flertar com a Thaís. Em algum lugar, nós nos entendíamos – testando os limites quando nos dava na telha e falando merda, sem nenhuma pretensão de necessariamente fazer algo a respeito. Encostei contra a parede. E ela me olhou ali, tomando mais um gole da cerveja, antes de se virar para me humilhar jogar.

De repente, existia uma tensão entre nós. Como se um breve momento tivesse desencadeado segundas intenções em tudo o que dizíamos. Ou fazíamos. Nos esbarrando entre as jogadas, esvaziando os copos, enchendo-os de novo e sorrindo, encarando uma à outra, sem dizer muito de fato. Tinha certa arrogância na forma como a Thaís sabia que eu não conseguia tirar os olhos dela. Dobrando aquele braço forte, inteiro tatuado, para trás e deslizando o taco entre os dedos da outra mão – e olha, eu gostava.

Quando matamos a segunda garrafa de Brahma, saímos na calçada para fumar. A Thaís puxou o maço do bolso de trás da calça e pegou um cigarro, colocando-o atrás da orelha. Logo abaixo do boné, com um sorriso de canto de boca, como se fizesse charme para mim. Depois resgatou uma ponta no fundo do maço, acendendo-a com o meu isqueiro. Demos dois tragos cada e ela logo apagou, guardando o baseado antes que alguém reclamasse. Não eram nem quatro da tarde ainda.

_Mas e aí... – a Thaís subiu o olhar na minha direção, tirando o cigarro da orelha e o colocando na boca – ...qual o lance com a Aninha, cês voltaram?
_Não, meu...
_Não?
_Foi só aquele dia lá da festa... – eu ri e ela tragou, me passando o cigarro em seguida – Depois até trombei com ela no Glória, num outro dia aí, mas não rolou nada.
_Hum. Por que não? Cê tá pegando alguém?
_Ah... – hesitei, sem saber como diabos responder a pergunta – ...é complicado.
_Complicado como?
_Ah, mano... – suspirei e a Thaís achou graça – Uma mina aí, curto ela pra caralho. Mas ela... e-ela namora. E uma hora me quer, na outra não. Esses dias a gente saiu, dormimos juntas e depois ela não falou mais comigo, tá me ignorando agora. Sei lá, é foda...
_Nossa.
_É... – arqueei as sobrancelhas e ri, tragando demoradamente.
_Velho, não dá, por isso que não tenho paciência pra me envolver com ninguém agora.
_Né? – soltei a fumaça por um espaço pequeno entre os lábios, passando o cigarro de volta para ela – Queria que as coisas pudessem ser mais simples, meu.
_Pode crer.
_Às vezes, cê... – disse e olhei descaradamente para a sua boca, conforme ela colocava o filtro entre os lábios – ...cê não acha que seria melhor simplesmente, sei lá, transar com suas amigas? Sabe, só... foder e se divertir, ficar de boa?

A Thaís segurou um sorriso e me olhou de volta, enquanto tragava, imprestável, quase como se me desafiasse. 

_Ué, vamos então.

8 comentários:

  1. ooo gente. a mia tá foda estragando foda já.

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  2. engraçado que o "fim da linha" pra ela é estar apaixonada, né... hahahahah
    nao adianta, acho lindo x)

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  3. A.M.->(Antes da Mia) A devassa colocava no automática e fluia....
    D.M.-> ela tenta dar a partida e.........nadaaaaaaaaaaaaa...


    heheh

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  4. HAUHAU como ja falei no twitter HAUAH Inglória resume HAUHAU adorei ahuahau

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  5. Adorei o nome da vizinha! hahahahaha

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  6. Mel, que luz! Eu não ia aguentar ela na vida de novo reinicando a lista telefõnica se Sampa e agora ainda com o convite da Rayssa, do Rio tb.! :)
    Eu gostei dessa mudança, seria muita ilusão da minha parte?!? :/

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  7. A única coisa que tenho a dizer é: olha a Mia fucking a vida da Devassa, nesse momento, apenas no mal sentido!

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  8. Tipo, não curto quando a Devassa está fodendo tudo e todas. :(
    Gosto de vê-la toda apaixonadinha e mais comportada (que é difícil).

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