novembro 11, 2010

Indistinto

Minha cabeça doía. Caralho. Meus olhos se abriram, lentos e desnorteados, feridos pela luz que invadia o cômodo. Os raios cinzentos de sol entravam frios pela janela, machucando os meus olhos e piorando aquela dor aguda que irradiava por todo o meu cérebro. A agonia – por qualquer líquido que fosse – se alastrava pelas minhas veias, me dobrava o estômago no meio do caminho e chegava seca à minha garganta. Completamente desidratada, após uma noite daquelas.

Senti vontade de vomitar e ignorei. Foda-se. Continuava deitada, imóvel. Minha posição me incomodava de alguma forma, porém demorei um certo tempo para perceber, toda torta e largada no sofá. Espera, sofá? Olhei em volta, movendo apenas as pálpebras, judiadas pela noite mal dormida, e nem um só músculo do corpo ou rosto. Meus pés continuavam calçados com os Nikes preto e vermelhos sobre uma almofada e o azul-marinho do sofá. Estranho. A minha jaqueta me apertava e o encosto me impedia de deitar com ambos os ombros confortavelmente acomodados.
 
Puta merda, eu tinha mesmo desmaiado na sala.

Alcoolizada, é claro, em algum momento da madrugada anterior. Forcei minha mente, sonolenta, tentando refazer os meus passos Augusta abaixo e até a porta de casa. Não consegui. Porra. Um pedaço me faltava na memória. Passei as mãos pesadas pelo rosto e suspirei, me virando e esticando um dos braços em seguida para a mesinha de centro, onde aglomeravam-se o meu celular, um maço de cigarros e as chaves de casa.

Peguei o telefone: nenhuma mensagem. Ufa. Para minha sorte, a caixa de saída estava vazia. E o maço também, merda. Meu estômago se revirava, oco, como se fosse dar a volta em si mesmo, de fora para dentro. Quis vomitar, de novo. Não... não, caralho. Num ato de protesto comigo mesma, levantei o corpo e arranquei a jaqueta, largando-a longe, já sentada na beirada do sofá. Me forcei então a ficar bem. Era só uma droga de uma ressaca, eu sabia e resistia ao mal-estar, teimosa.
 
Já passei por piores.

Um cheiro enjoado vinha da cozinha. As luzes estavam todas acesas, do corredor para lá, e um barulho de panelas me irritava os sentidos – que horas são? Me sentia confusa quanto à linha temporal daquele fim de semana. Aquilo devia ter me acordado, o cheiro ou o som, mas que inferno. Levantei-me, meio rabugenta, a cabeça pesada e o corpo esvaziado. Caminhei pela sala na máxima velocidade que aquela ressaca desgraçada dor de cabeça me permitia. Ou seja, extremamente lenta e tropeçando nos meus próprios pés. Patética.

Encostei com as duas mãos no batente da cozinha. O Fer estava cozinhando no fogão, de costas para mim, com uma calça de moletom cinza e uma camiseta velha de dormir. Olhei-o por dois segundos, indiferente à nossa discussão na noite anterior. Não era apatia minha, sei lá, era algo diferente. Entrei e sentei numa das cadeiras em frente à mesa. O som do metal contra o piso frio denunciou a minha presença e fez ele me notar, brevemente, por cima do ombro. Sem se importar comigo, o Fer continuou cozinhando e eu desabei de cansaço, apoiada nas minhas palmas, com os cotovelos sobre a mesa e o rosto metido no meu próprio cabelo. Fisicamente exausta, que merda.

6 comentários:

  1. ressacas são coisas complicadas :x

    o que será que ficou pro fer daquela discussão?
    e que musica era pra ouvir mel?
    bjs

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  2. que dó dessa pessoa. pior que eu tava assim hoje!! haha

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  3. Momento que terminei de ler o post.. E estou me obrigando a fazer uma pausa antes de ler o outro, só pra ficar mais emocionante.. =x

    Ps. Mel! Sou sua fã!

    Criss Hush

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  4. Bem coisa de bêbado mesmo, pior ainda quando se fode na noite anterior, rs.

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