novembro 11, 2010

We define our moral ground

O almoço – ou janta? – ficou pronto, poucos minutos depois da minha entrada triunfal. Até então, o silêncio havia dominado o espaço entre nós dois. A minha cabeça, embebida em ressaca, se recusava a pensar na confusão daquela madrugada – mas aquilo estava me machucando por dentro. E eu sabia. Sabia que, se deixasse o pensamento escapar, por um segundo que fosse, ele se alastraria pelo meu corpo inteiro.
 
E foi o que aconteceu.

Argh. Eu odiava brigar com o Fer. Nós nunca medíamos palavras – e numa dessas, nuns surtos de raiva, acabávamos dizendo a primeira coisa que nos vinha à cabeça, sem limite algum, nos ofendendo. Dois estourados de merda. Muita convivência tem dessas mesmo, nos sentimos confortáveis para xingar até a nona geração um do outro – e aquilo era péssimo.
 
Eu me sentia um lixo. Mas evitava de pensar no contexto completo, porque a culpa, essa sim, acabaria comigo. Então me mantive quieta, olhando para a mesa, conforme o Fer colocava frente a mim uma panela com arroz requentado do dia anterior, misturado com almôndegas, dessas que se compra já prontas. Depois veio o seu prato, os talheres um a um, duas latinhas de cerveja e o que restava de uma salada de cenoura com tomate. Observei-o misturar tudo no prato, meio de qualquer jeito.

_Quer? – ele perguntou, falando baixo, ao reparar o meu olhar acompanhando seus movimentos.
_Não, tô de boa... – respondi, me juntando a ele naquele nosso fingimento babaca de não-aconteceu-nada – ...o meu estômago tá zoado, não sei.

Ele levantou os olhos na altura dos meus, me encarando por um instante, e depois tornou a encarar o próprio prato. Sem ódio, nem remorso – como um gesto normal. Voltou a comer, logo em seguida, e foi quando reparei que éramos só eu e ele ali. Sozinhos. Eu com a roupa amassada da noite anterior e ele com um trapo qualquer de ficar em casa. O apartamento estava vazio.

_A Mia não tá aí?
_Não – ele deu um gole da cerveja, com um tom sério, entre uma garfada e outra – ...ela foi pra casa dela depois da Sarajevo, a gente brigou ontem.
_Brigaram por quê?

O Fer me olhou novamente. E então continuou a comer, quieto, como se não quisesse falar a respeito. Merda. Por que fui abrir a boca? Não conseguia interpretar a reação dele – parte de mim sentia que o Fer estava puto comigo, a outra desconfiava que ele tinha alguma culpa naquilo. Ou talvez fosse apenas sono, não sei. Maldição. Inquieta, me movi na cadeira, me apoiando contra a parede de ladrilho. O Fer subiu o olhar até o meu, mais uma vez, brevemente.
 
E segundos depois, sem que eu dissesse nada, emendou:

_Não foi nada, a gente só discutiu... – murmurou, já quase terminando o prato – ...mas ela ficou irritada e quis ir embora. Eu voltei sozinho depois.

Senti um mal-estar tomar todo meu corpo. Na mesma hora. Imaginei a discussão dos dois – regada à álcool e fora de controle, desnecessária. Em plena madrugada. O Fer aos gritos no meio da Sarajevo, a Mia puta e indo embora do próprio aniversário. A ideia me revirou ainda mais o estômago e tive vontade de vomitar. Quis sumir dali. Só faço merda, porra. E num impulso, me levantei antes que a culpa me consumisse. Apoiei a mão na mesa para sair da cadeira e o Fer me segurou no pulso – “espera”.
 
Caralho.
 
Respirou fundo. Ele parecia dividido – e chateado.
 
_Escuta... Desculpa por ontem. Eu... – ele suspirou – ...e-eu, sei lá. Não era pra você ter ido embora.
_Não, Fer...
_Foi zoado – me interrompeu e passou a mão na cabeça, como se tudo aquilo fosse realmente difícil para ele – E-eu... eu tava chapado pra caralho, nem sei que merda eu tava falando. Quase não dormi hoje, velho, juntou com a briga com a Mia também e sei lá. Saiu de mão. Foi tudo zoado.
_Não, meu... – balancei a cabeça, inconformada comigo mesma – ...eu que tenho que te pedir desculpas, Fer.
_Pára... Pedir desculpas, por quê? Não tem nada a ver!
_Tem, sim!
_Não, mano, Puta lance idiota.
_Eu fiz merda, e-eu... – abaixei o olhar – Não devia ter ido tão longe, não sei o que aconteceu...
 
Inferno. Me sentia a pior pessoa do universo – mas simplesmente não conseguia admitir. Não a verdade toda. Aquilo ia destruir a nossa amizade. O Fer também hesitou, por um instante, com os olhos fixos em mim. Parte dele parecia não ter tanta certeza de que a culpa era inteira sua. E ele me encarava, sério, como se estivesse num conflito interno. Destruído pela nossa discussão. Droga.

_E-eu... sei lá, eu bebi demais também – continuei de repente, sem pensar, num reflexo desesperado de consertar logo as coisas – E aí chegou uma hora que nem me dei conta de com quem eu tava dançando, Fer, acabei saindo da linha. E eu não queria, de verdade. Eu não, n-não sei, porra, não sei o que deu em mim.
_Tá tudo bem.
_Fer. É sério – fiz com que olhasse para mim, pegando em sua mão de volta – Me desculpa, meu. Por favor.
_Relaxa... – ele deu um sorriso amarelo – ...eu que fui um babaca.

Não consegui dizer mais nada. Nunca estive tão errada em toda a minha vida – puta merda. E a consciência disso me engasgou dolorosamente a garganta. Mal conseguia respirar. Ali, completamente perdoada e incapaz de me sentir bem.
 
Abaixei a cabeça. O Fer se voltou para o prato na mesa, continuando a comer, como se tivesse tirado um peso das suas costas de repente. Inventei então que precisava tomar um banho e saí da cozinha o quanto antes. Os meus olhos começaram a inchar, a me doer. E o engasgo na minha garganta piorava progressivamente, conforme eu andava apressada pelo corredor. Precisava sair de perto dele – urgentemente. Não queria que ele me visse assim. Me fechei correndo no banheiro e tranquei a porta, sentando no chão. E quase imediatamente comecei a chorar.

23 comentários:

  1. :(
    coitado do Fer e espero que a FM fique bem, eu sei como é se sentir a pessoa mais fdp da face da terra com uma coisa dessas :x

    e achei a musica :p
    ouço ela depois que ta tarde haha

    ResponderExcluir
  2. Ela e o Fer nunca acabam brigados de verdade, sempre discutem por algum motivo que vão dar menos importância quando acordarem no outro dia. Seria uma amizade daquelas que todo mundo quer ter... se ela não tivesse comendo a mina dele. Não sei como, mas apesar de tudo eu continuo torcendo pela FM, até o fim.

    ResponderExcluir
  3. fodastico o post ...a história cada vez ficando melhor .. gosto da riqueza dos detalhes *__*

    ResponderExcluir
  4. Acho que só eu estou louca pro Fer descobrir que a GFM comeu a mina dele. Adoro confusão!

    ResponderExcluir
  5. nha mew a pior coisa, não ser filha da puta por querer =/

    ResponderExcluir
  6. devido à hora e à curiosidade, fui tão honesta quanto a FM e joguei a música no google :) muito boa, mesmo.

    ResponderExcluir
  7. ah taah bom intaaum...rs

    chorar sentada no banheiro eh mto novela globaal hahaa

    imaginei uma trilha a la Adriana Calcanhoto jaah... tsc tsc

    xoxo

    ResponderExcluir
  8. Hahaha que MEDO. Por favor, não!! hahaha no mínimo, Nick Cave. No mí-ni-mo. HAHAHAHAHAHA

    ResponderExcluir
  9. A devassa chorando? Oww.
    Mel, não faz isso comigo, poxa. Eu quero saber logo o que vai acontecer. ):

    ResponderExcluir
  10. nha mew a pior coisa, não ser filha da puta por querer =/ +1 que dó!! ):

    ResponderExcluir
  11. Ahh meeeu! Tadinha da FM!
    Pior que me dá um aperto no peito pensar em cmo vai acabar isso, pq meu, alguém vai se machucar e eu gosto dos três demais O.O

    pq apesra de TUDO, de TUDO mesmo, o Fer é um puta de um amigo tbm neh?

    foda...

    Ain, ainda to ansiosaaa XD

    ResponderExcluir
  12. É.. E veio a ressaca.. E veio a culpa..
    Mas por pior que seja o que ela faz.. Eu não sei não estar do lado dela!
    #lavagemcerebraldamel

    Criss Hush

    ResponderExcluir
  13. Que bosta essa coisa chamada remorso, né?
    A gente acha que ela não vai bater, que é uma coisa natural da vida pegar a mulher do melhor amigo, rs.... mas ai a gente se vê completamente entregue aquele corpo e acaba se apaixonando e a vida vira de cabeça pra baixo, a gente perde o controle, corre o risco de perder o amigo e o medo de ficar sozinha, sem um e o outro nos atormenta... é FM, se entregar as vontades do corpo tem dessas coisas! =\

    ResponderExcluir
  14. Perfeito!!! Sempre acompanhando!!
    Bom fds!! Bjim**

    ResponderExcluir
  15. Realmente é de apertar o s2 "ver" a FM chorando!! #tListe
    Carregar essa culpa não é nada legall.. não qe eu tenha passado por isso, apesar de ter pego a mnh ex qnd ela ainda tava namo cm 1menino qe por um bocado de vezes eu saia com os 2!! hehehe

    Meel, ajuuda a FM! =D
    E essa Mia heim?? tô começando a ficar Puta com ela!! =X

    ResponderExcluir
  16. Poxa, coitada. Sabia que ela ia ficar assim. O Fer vai se sentir um merda quando descobrir, porque até o melhor amigo dele sabe. PQP, que rolo.

    ResponderExcluir
  17. PORRA, O FER É MUITO MEU.

    E, ai... que aperto no meu coração :(

    ResponderExcluir
  18. nussaaaaaaaaaa ate eu fikei com vontade de morrer agora...tadinha da FM....

    ResponderExcluir
  19. PQP, isso lá é hora do Fer fazer o melhor amigo sentimental ? Nem pra ele continuar fazendo o FDP mesmo. E ainda continuo curiosa em saber qual vai ser a atitude da Mia diante dessa situação toda. Parabéns Mel, post sempre muito bom :D

    ResponderExcluir
  20. sabe que horas são? 7h30. e eu já vivi meia vida, porque acordei às 6h30, mesmo indo dormir 1h40, rãm! mas eu te perdôo... ORRA! hahahahahaha, brincadeira! foi bem legal, enfim... ;D

    já está na hora dela contar. mais um post desses e eu vomito por ela. essa sensação de coisa mal digerida é pior, Mel. pára de fazer isso com a nossa loira! e se for vender, que seja pra alguém tipo a Fernanda Young! isso é que era!

    ResponderExcluir
  21. eee o volume 2 da trilha sonora?

    ResponderExcluir
  22. e aí, não vão ter mais posts não ?

    estou curiosa !

    ResponderExcluir
  23. não é por nada não, mas...
    bem feito FM =]
    o Fer chega a dar raiva d tão trouxa ¬¬

    ResponderExcluir

Se tiver gostado do post, deixe um comentário e faça uma blogueira feliz :) obrigada, meninas!