dezembro 06, 2010

Azia e videogame

Cheguei em casa, exausta, às três. Ainda não tinha conseguido dormir e aquele almoço se prolongou mais do que deveria. E com bem mais opiniões do que deveria também. A minha mãe ficou reclamando que eu não largava do celular, trocando mensagens com a Mia durante o almoço todo. E para piorar, enquanto o meu velho não decidia se levantar da cadeira, éramos obrigadas a ficar ali na mesa – aí eu me lembrei por quê não era tão fã de almoços em família. Argh. De volta ao apartamento, joguei o meu corpo no sofá e fiquei largada ao lado do Fer, em silêncio por alguns segundos, aliviada, escutando os seus dedos se movendo rapidamente no controle do videogame.

_Se divertiu lá? – ele me olhou, após algum tempo.
_Ô! – fiz um sinal de “joia” para ele, sarcástica, e ele riu – Nossa, ainda bem que isso só acontece a cada seis, sete meses.
_Eles são seus pais, meu... – ele disse, sem tirar os olhos da TV – ...dá uma trégua.
_Olha quem fala! – resmunguei e o Fer mordeu a língua – Mano... Acho que se um dia eu for obrigada a morar com a minha mãe de novo, eu me mato. Tô falando sério!
_Ah, cara... eu gosto deles.
_Puxa-saco! – dei um soco de brincadeira no seu braço e observei o que ele estava jogando – Ô, deixa eu correr também?
_Toma aí – me passou o segundo controle, sem pausar – Deixa só eu terminar essa, falta uma volta.
_E a Lê? Foi embora?
_Foi. Depois que cê saiu – respondeu, concentrado.
_Hm. E você foi onde ontem?
_...
_Fer?
_Filho-da-puta! – jogou o controle no sofá, enquanto a televisão indicava o seu segundo lugar na corrida; aí se apoiou contra o encosto, derrotado, e só então me olhou – ...o que cê disse?
_O rolê de ontem...
_Ah, fui com os moleques no pub aí da... Como chama, caralho?! O que tem sinuca, sabe? Onde o Felipe tocou uma vez... Ali, na... na Itu, manja? O... – ele seguiu, tentando lembrar, e eu o olhava de volta sem nenhuma sugestão – ...o O’Malley’s!
_Ah, tô ligada... – disse, distraída, selecionando a opção de dois jogadores – ...foi só os caras?
_Não, a namorada do Rafa e a do Vini tavam também. Só a Mia que não foi...
_Hum. Tá tudo bem com vocês?
_Tá nada, uma bosta, meu. Ela tá me dando o maior gelo... – comentou, escolhendo o carro na TV – ...desde sexta. Não me respondeu ontem o dia todo. Continua puta, não quer me ver, não quer falar comigo.

Bom, comigo, por outro lado. Me ajeitei no sofá e, então, a corrida começou.

_Que bad, meu.
_Ah, me fode demais isso – disse, parecendo chateado – Eu gosto dela pra caralho.
_Eu sei – me senti uma mentirosa, tentando consolá-lo – É osso. Mas, às vezes, ela só precisa de um tempo, sabe...
_É. Sei lá – lamentou, respirando fundo, com os olhos ainda no jogo – Eu fiz merda, cara.
_Calma, Fer, não foi tanto assim...
_Ah, velho, ela não tá nem me atendendo... Tenho medo de ter fodido as coisas por causa duma discussão idiota, de bêbado, meu. A gente brigou muito feio na sexta, eu não devia ter falado aquelas merdas.
_Não, calma... – me senti péssima – ...cê vai ver, daqui a pouco ela tá batendo aí de novo.
 
Suspirei, escorregando contra o encosto com o controle nas mãos. Não sabia o que me fazia sentir pior – a minha traição de merda ou dizer que tudo ia ficar bem, enquanto desejava com todo meu coração que não ficasse. Inferno.
 
_É. Quem sabe... – ele murmurou – Espero que sim.
_Vai, sim, meu.
_Pode ser. A Mia é cheia dessas também, faz greve por uma semana e depois vem aí queren...
_SAI DA FRENTE, PORRA! – gritei com a TV, de repente, interrompendo aquela conversa antes que começasse a me dar um desgosto maior.

2 comentários:

  1. Descontar a raiva no video-game sempre é uma boa saída haha

    E se quando eu sair de casa for obrigada a morar com os meus pais por qualquer motivo q seja eu tbm me mato, pq é foda gente enxerida querendo de saber de tudo e se metendo onde nao deve

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  2. A Mia deveria ver o Fer só no dia em que a testosterona dele sumir!

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