janeiro 13, 2011

Se mostrar a sua, mostro a minha

_22... 23... 24... Para de se mexer! – ela ria – ...e 25. Espera, essa já foi?
_Não.
_Tá. 26!
_Sua vez!
 
Nós duas rimos e eu me virei no chão, ficando por cima dela. Ainda nua, coloquei uma perna de cada lado do seu corpo e me pus a contar todas as tatuagens que ela tinha – caminhando com os dedos de uma a outra. O cabelo da Mia se espalhava pelo piso daquele chuveiro abandonado e seco, que provavelmente nunca tinha sido usado. Ela também se esparramava. Esticava os braços e me esperava contar todos os desenhos antes de girar, para que eu pudesse ver também os de trás. Flores. Besouros. Libélulas. Adagas. Palavras. Plantas. Mariposas. Caveiras. Círculos. Panteras. Luas pretas. E toda uma infinidade de rabiscos espalhados pelo seu corpo.  
 
_7... 8... 9... – deslizei a mão entre os seus seios, a admirando – 10... – e então não me aguentei, me curvando para beijar o seu peito, a sua barriga, a mordendo e lambendo até chegar numa pequena tatuagem na sua costela – ...11.
_Cê não tá nem prestando atenção... – a Mia sorria.
_Tô, sim... – murmurei, com a boca ocupada, descendo até as suas coxas – 12... 13...
_Tão dedicada você...
_14... – continuei – 15... 16...
_Hum...
_17... – segurei os seus pés carinhosamente, por fim, beijando os seus tornozelos – ...e é isso?
_Não... – sorriu, imprestável – ...cê tá esquecendo umas aí.
_É?
_Tá, sim...
_Hum... – a olhei, na sacanagem – Vira aí então. Deixa eu ver essa bunda...
 
E ela se virou, na mesma hora. Empinando a bunda como quem só quer fazer maldade – é. Bem na minha frente. Jogou o cabelo pro lado e ficou de quatro, me esperando contar. Puta que pariu, cê quer me matar, né, desgraça? “18...”, respirei fundo, “...19”. Fui passando a mão pelas suas costas, subindo até a sua nuca e entrelaçando meus dedos no seu cabelo, a segurando, “20”, sussurrei, já me faltando o ar, as suas costas se dobravam e desdobravam em dezenas de flores tatuadas, beijei a sua pele, pressionando o meu corpo contra o seu, a sentindo se contorcer debaixo de mim, numa vontade compartilhada, com a mão encaixada no alto da sua coxa. “21”, perdi de vez o fôlego, com a boca já no seu pescoço.
 
E entre um beijo e outro, por pura malandragem, me aproximei do seu ouvido – “hum, já sabemos quem perdeu”. “Vai...”, ela riu e fechou os olhos, com tesão, se enroscando ainda mais no meu corpo, “...se foder”. Desci a mão pela sua coxa e a Mia a segurou no pulso, me guiando, colocando meus dedos entre as suas pernas. Cacete.
 
Fodemos mais uma vez, como se não conseguíssemos evitar.
 
E assim que terminamos, exaustas e suadas, sorrindo à toa, a Mia me olhou com desaforo – “...e a propósito, você não ganhou”. Encostou contra a parede, sentada, continuando a discussão como se não tivéssemos sequer a interrompido para transar por minutos fio com os joelhos ralando contra os ladrilhos. Achei graça, recuperando o fôlego.
 
_Mia... – retruquei, ainda ofegante – ...admite, você perdeu.
_Mano, não vale isso!
_Como não vale, porra?!
_Não vale. As minhas são bem maiores que as suas... – argumentou, toda suada, prendendo o cabelo bagunçado no topo da cabeça – ...fica fácil ganhar com meia dúzia de tatuagem pequena a mais.
_Nem vem, meu, cê também tem umas minúsculas aí... – a provoquei de volta – ...que, né, se juntar cinco dessas não dá uma minha!
_Tá, mas a maioria dessas fui eu que fiz. Só por isso já vale o dobro!
_Claro que não!
_Claro que sim!
_Ok – ri – Essa discussão não vai a lugar nenhum...  
_Não mesmo... – ela riu também.
 
Engatinhei até onde ela estava e segurei o seu rosto, a beijando brevemente. Nós duas rimos. Encostei na mesma parede que a Mia e observei os seus pés descalços, as pernas largadas no piso frio. Ela tinha um pequeno triângulo com um risco atravessado logo abaixo do joelho.
 
_E essa... – apontei – ...foi você que fez?
_Foi.
_Mó bonita, meu – observei as linhas, atenta – É muito difícil fazer?
_Não – ela se espreguiçou, ao meu lado – Até tenho as agulhas aí, se quiser te mostro...
_O quê, agora?!
_Uai – sorriu – Pode ser. Se cê num tiver medo de me tatuar...
_Olha, não tenho, mas se fosse você, eu teria... – ri – Porque, né, eu não sei desenhar porra nenhuma, só homem-palito.
_Eu não ligo – me olhou, dando de ombros.
_Cê tá falando sério?!
 
A encarei, encantada pela completa falta de limites. E ela se levantou, pegando nossas roupas. Nos vestimos sem pensar muito, rindo, e ajeitamos nossos cabelos como deu no escuro do banheirinho. Então ela sorriu para mim, antes de destrancar a porta, como quem está prestes a aprontar – “vem”.

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