_Com a Mia?! – a Thaís arqueou as sobrancelhas, irônica –
Não.
_Por quê? – o Gui logo tentou se inteirar – Que rolou com a Mia?
_E-ela... quer dizer, a, a gente meio que se pegou depois da sua estreia,
quinta, não sei, eu fiz merda, meu... – expliquei – ...e, e ela ficou chateada,
tentou conversar co...
_Não! – a Thaís me interrompeu – Ela não “tentou conversar”, a
amiga dela que ligou pra te dar esporro. Foi isso que aconteceu! Como se cês
tivessem na quinta série!
_Eita. Sério?
_É. Mas... não sei, ela... – respirei fundo – ...ela tava mal
mesmo no telefone, Tha. E e-eu, sei lá, eu tava puta da cara, não escutei
direito... não sei, e-eu... eu gosto dela, apesar de tudo. Porra, fui
apaixonada por ela mó tempo, mano! E é foda ouvir a Mia fal... – pausei –
...enfim, não sei.
_Velho, para. Para! – me deu bronca – Nem entra nessas, cara. A
Mia precisa assumir a responsa pelas decisões dela, não dá pra querer tudo.
Fica falando que tá mal? A mina NAMORA seu amigo! Vai se foder! Se ela tá tão
na merda assim por você, por que ela continua com ele?! – se revoltou – Porra.
É muito fácil assim, né, caralho!
_Tá, mas... – hesitei – ...não sei.
_Cara, larga mão. Essa mina só te faz mal! Cê tem que ficar com
quem te faz bem, mano. Com a Clara. Foda-se a Mia!
_É, amiga... – o Gui comentou – ...eu concordo. Mas se cê tá
preocupada com como foi a conversa de vocês, por que cê não liga pra Mia? Tenta
falar com ela, sabe, sem barraco. Só para pôr um ponto final. E aí cê pode
seguir sua vida com a Clara... – aconselhou, com carinho – Acho que vocês duas precisam
disso, meu.
Respirei fundo. E aí desliguei a água do chuveiro – ainda sem
saber como me sentia com tudo aquilo. Então fui até a caixa de força e religuei
a energia para testarmos o chuveiro. Talvez fosse bom falar com a Mia mesmo,
pensei, não sei. Não tinha muita certeza se não acabaria piorando ainda
mais a situação, mas não via outra solução para parar com aquelas brigas. Argh.
Assim que a água aqueceu, o Guilherme nos agradeceu e expulsou do seu
apartamento, indo tomar banho para ver o boy dele.
O relógio no meu celular já se aproximava da uma da tarde.
Levei a Thaís até um restaurante de lamen, meio escondido, que eu
conhecia ali perto. Pedimos e o meu estômago roncou – a gente não tinha sequer
tomado café naquela manhã. A Thaís ficou tagarelando qualquer coisa sobre o
aquário que tinha em frente à nossa mesa, mas a minha cabeça continuava tão
cheia que eu mal a ouvia. Aquela era a primeira vez que eu estava em um
relacionamento que me fazia tão feliz assim. Numa estranha sincronia. Só agora me
dava conta do quanto, de fato, gostava da Clara. E do seu jeito descomplicado. De
como me acalmava e inquietava ao mesmo tempo, de como a gente funcionava bem juntas.
E eu sabia – sabia que se fosse ficar de vez com ela, eu precisava
fazer aquilo direito. Então fiz o que nem eu, nem a Mia conseguimos fazer em
todo aquele tempo. Peguei o celular e saí para a rua, acendendo um cigarro, enquanto
discava para ela. Os toques se estenderam, consecutivos, ressoando no meu
ouvido – atenta a cada um deles. Atende,
vai. E por um instante, achei mesmo que não o fosse fazer. Mas, apesar da
maneira como a nossa discussão terminou dois dias antes, ouvi a sua voz surgir
do outro lado da linha.
_Por que você tá me ligando, meu? – suspirou e pude senti-la amargurada
comigo.
_A gente precisa conversar... – respondi e ela se manteve quieta,
do outro lado, ainda rancorosa – ...direito. Posso passar aí hoje, depois do almoço?
Eu não quero mais brigar, Mia.
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