abril 13, 2012

Armistice

_Com a Mia?! – a Thaís arqueou as sobrancelhas, irônica – Não. 
_Por quê? – o Gui logo tentou se inteirar – Que rolou com a Mia?
_E-ela... quer dizer, a, a gente meio que se pegou depois da sua estreia, quinta, não sei, eu fiz merda, meu... – expliquei – ...e, e ela ficou chateada, tentou conversar co...
_Não! – a Thaís me interrompeu – Ela não “tentou conversar”, a amiga dela que ligou pra te dar esporro. Foi isso que aconteceu! Como se cês tivessem na quinta série!
_Eita. Sério?
_É. Mas... não sei, ela... – respirei fundo – ...ela tava mal mesmo no telefone, Tha. E e-eu, sei lá, eu tava puta da cara, não escutei direito... não sei, e-eu... eu gosto dela, apesar de tudo. Porra, fui apaixonada por ela mó tempo, mano! E é foda ouvir a Mia fal... – pausei – ...enfim, não sei.
_Velho, para. Para! – me deu bronca – Nem entra nessas, cara. A Mia precisa assumir a responsa pelas decisões dela, não dá pra querer tudo. Fica falando que tá mal? A mina NAMORA seu amigo! Vai se foder! Se ela tá tão na merda assim por você, por que ela continua com ele?! – se revoltou – Porra. É muito fácil assim, né, caralho!
_Tá, mas... – hesitei – ...não sei.
_Cara, larga mão. Essa mina só te faz mal! Cê tem que ficar com quem te faz bem, mano. Com a Clara. Foda-se a Mia!
_É, amiga... – o Gui comentou – ...eu concordo. Mas se cê tá preocupada com como foi a conversa de vocês, por que cê não liga pra Mia? Tenta falar com ela, sabe, sem barraco. Só para pôr um ponto final. E aí cê pode seguir sua vida com a Clara... – aconselhou, com carinho – Acho que vocês duas precisam disso, meu.
 
Respirei fundo. E aí desliguei a água do chuveiro – ainda sem saber como me sentia com tudo aquilo. Então fui até a caixa de força e religuei a energia para testarmos o chuveiro. Talvez fosse bom falar com a Mia mesmo, pensei, não sei. Não tinha muita certeza se não acabaria piorando ainda mais a situação, mas não via outra solução para parar com aquelas brigas. Argh. Assim que a água aqueceu, o Guilherme nos agradeceu e expulsou do seu apartamento, indo tomar banho para ver o boy dele.
 
O relógio no meu celular já se aproximava da uma da tarde.
 
Levei a Thaís até um restaurante de lamen, meio escondido, que eu conhecia ali perto. Pedimos e o meu estômago roncou – a gente não tinha sequer tomado café naquela manhã. A Thaís ficou tagarelando qualquer coisa sobre o aquário que tinha em frente à nossa mesa, mas a minha cabeça continuava tão cheia que eu mal a ouvia. Aquela era a primeira vez que eu estava em um relacionamento que me fazia tão feliz assim. Numa estranha sincronia. Só agora me dava conta do quanto, de fato, gostava da Clara. E do seu jeito descomplicado. De como me acalmava e inquietava ao mesmo tempo, de como a gente funcionava bem juntas.
 
E eu sabia – sabia que se fosse ficar de vez com ela, eu precisava fazer aquilo direito. Então fiz o que nem eu, nem a Mia conseguimos fazer em todo aquele tempo. Peguei o celular e saí para a rua, acendendo um cigarro, enquanto discava para ela. Os toques se estenderam, consecutivos, ressoando no meu ouvido – atenta a cada um deles. Atende, vai. E por um instante, achei mesmo que não o fosse fazer. Mas, apesar da maneira como a nossa discussão terminou dois dias antes, ouvi a sua voz surgir do outro lado da linha.
 
_Por que você tá me ligando, meu? – suspirou e pude senti-la amargurada comigo.
_A gente precisa conversar... – respondi e ela se manteve quieta, do outro lado, ainda rancorosa – ...direito. Posso passar aí hoje, depois do almoço? Eu não quero mais brigar, Mia.

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