julho 04, 2010

Procrastinando

Rodei o cigarro entre os dedos, levantando-o bem na frente do meu rosto, e encarei as cinzas acumuladas por cima da brasa. Último cigarro do expediente. Aproximei-o da boca, sentada no degrau da saída do estúdio, e assoprei na direção da ponta, fazendo com que as cinzas voassem mais adiante na calçada. Sim – eu estava enrolando, descaradamente, até poder pegar minhas tralhas e cair fora.
 
Já eram quase seis da tarde, quando oficialmente seria declarado o fim de semana. Então eu fumava lentamente. Sem pressa. Meus colegas de trabalho iam e vinham com seus próprios maços e eu continuava sempre lá, ignorando as minhas obrigações. Garanti que a brasa só atingisse o filtro quando o meu celular já indicava os últimos cinco minutos de labuta daquela sexta. Perfeito. Levantei, jogando a bituca para o lado, próximo de onde a parede do estúdio encontrava com a calçada, e voltei para pegar minhas coisas na sala de edição.
 
As piadinhas sobre a minha noite não-dormida já haviam cessado há algum tempo, graças ao desgaste e desânimo que a rotina de trabalho proporcionava aos meus colegas. Mas não a mim: eu estava imune a qualquer bad aquela sexta. Peguei o celular, checando rapidamente se a Mia tinha respondido alguma das minhas mensagens – o que não havia acontecido ainda –, e disquei para a Marina enquanto me dirigia mais uma vez à porta.
 
_Tô aqui já – ela me respondeu, com o barulho de outras pessoas de fundo – Onde cê tá?
_Saindo do trampo, já tô indo.
 
A distância até o bar onde combinamos de nos encontrar era pequena o suficiente para eu ir andando, caso a minha pessoa contasse com um pouco de boa vontade e disposição. No entanto, a ansiedade de dividir com alguém tudo o que aconteceu comigo nas últimas 24 horas – fosse para a Marina ou qualquer outra pessoa capaz de guardar segredo – me impulsionou a subir no primeiro táxi que passou livre pela Heitor Penteado. E em cinco minutos, eu estava no bar.
 
_Vai... – a Marina riu, ao me ver chegando no balcão – ...conta.
_Quê?!
_Olha a sua cara, meu...
_O que foi?? – perguntei, estranhando o tom de acusação antes mesmo de ganhar um ‘oi’ – Que eu fiz?
_O quê, né? – ela devolveu a pergunta, achando graça.
_Ih. Não entendi...
 
Balancei a cabeça e dei de ombros, sentando no banco ao lado dela. A Marina já tinha um copo de gim tônica na sua frente e a blusa desabotoada até onde batia o seu cabelo. Estava com o seu visual de “jornalista de esquerda”, como eu costumava chamar na época em que namorávamos – uma camisa de linho com mangas dobradas até metade do braço, uma trança de lado e uma calça de cintura alta. É, e aquela cara de quem sabia mais do que você estava contando.
 
_Ah, tá. Você me liga espontaneamente – enfatizou – numa sexta-feira, me chamando pra sair, diz que não pode esperar, faz todo esse suspense; daí vem aqui e me aparece com esse sorriso de quem aprontou... Sinceramente, né? Olha sua cara, sério.
 
Até tu, Marina?
 
_Porra, não sei qual é a de todo mundo comigo hoje.
_Já pensou em talvez, assim, tirar esse sorriso de idiota do rosto? – ela riu.
_Nossa... Credo! Parece que eu sou a pessoa mais rabugenta do mundo, mano...
_E não é? – ela me zombou.
_Vai se foder.
_Tá vendo, ô pequeno poço de alegria?
_Eu sou uma pessoa feliz pra caralho, meu. De onde cês tiram o contrário?
_A começar que cê disse “vocês”, não é, no plural... O que indica que eu não sou a única que acha isso. Talvez você devesse rever seu conceito de “feliz”.
_Cara, claro que não. Eu praticamente sou a definição de felicidade.
_Não, não. Você é que nem aquele cachorrinho do desenho animado... Como era o nome dele? O que olha com cara de merda e diz “eu estou feliz”? – ela riu, de novo – Sabe?
_Eu não pareço um cachorro, Marina... – resmunguei.
_Tá, tá... – ela balançou a cabeça, rindo, e me olhou – Mas, afinal, tem alguma coisa para me contar ou não?

8 comentários:

  1. Ahhhhhhh é ótimo ter aquela amiga pra gente correr e contar o que aprontou né? Demais ^^

    FM tá meio anestesiada né? Que linds *-----*


    Adorei Mel ^^

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  2. Pausa ultra mega dramática: Marina!!!!!!!!

    Sério, meu dia (hahaha) se ilumina depois que eu leio o nome dela. =)

    E, quanto ao post, sei bem como é essa felicidade tão difícil de esconder.

    Oh, já estava com saudade disso aqui (e ainda estou de todo o resto).

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  3. O que? Ela preferia ser chamada de "cara de bunda" ou "ovo penteado"? hahahahahah

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  4. Ter amigas assim pra contar as merdas que fazemos é sempre bom haha
    Sem contar essa felicidade,que não dá pra esconder de ninguém :d

    adoogo ! haha

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  5. aushaushas
    FM TOOOOODA XONADINHA
    NHOINNN fofo *¬*

    lol
    essas amigas ..mior coisa XD

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  6. Mas pra que servem as amigas, não é mesmo? Salve Marina!

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  7. marinaaa, aquela do sutiã? que delicia!
    Querida FM... achei minha Mia e estou me sentindo exatamente como vc...fantástico isso, deixa a gente viva, brilhante...bjs

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  8. Meio atrasada, mas cheguei! :P

    Bom, preciso dizer que AMEI o título, melhor impossível!
    E ninguém melhor do que a Marina pra conversar sobre o assunto, né, afinal ela é uma ex namorada, atual super amiga que conhece a história e fala o pensa.

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