O café-da-manhã foi constrangedor – e adorável.
Talvez fosse o pé da Mia no armário ou quem sabe era só coisa da
minha cabeça, mas sentar numa mesa com os pais dela enquanto eu fingia ser sua
“amiga”, depois de uma noite daquelas, me fazia sentir como uma adolescente de
novo. A começar que eu não tomava café-da-manhã numa mesa de família há anos.
Mal sabia o que fazer comigo mesma. Quando comemos com as amigas da Mia ali, na
manhã seguinte à do UFC, os pais dela não se sentaram conosco. Mas agora, sim. E
como se não bastasse a minha inabilidade absoluta em socializar com gerações
mais velhas, ainda tinha o fato de que meia hora antes a filha deles estava
sentada na minha cara.
Aquele sorriso não saía do meu rosto por nada. Numa tentativa de
disfarçar o máximo que podia, fiquei tomando gole atrás de gole de suco. Me
escondendo naquele copo e curando a ressaca ao mesmo tempo – numa proporção de 10g
de comida no garfo para cada 5 litros de laranja espremida. A Mia me olhava de
volta e sorríamos, às escondidas. O pai dela sequer se dava conta, engravatado
e enfiado em um jornal, enquanto a mãe tentava puxar assunto comigo e analisava
a minha caminhoneirice da cabeça aos pés. Ali, com o cabelo bagunçado de tanto
comer a sua filha e a mesma roupa cheirando a cigarro da noite anterior.
Foi mal, sogrinha.
A Mia ria. Estava com uma regata branca por cima duma calça
rasgada, que eu escolhi enquanto ela tirava todas as roupas do armário e me
pedia para ajudá-la, ambas sem nenhuma intenção de realmente nos vestirmos, enroladas
nuns beijos incessantes. Só quando sua mãe nos chamou para tomar café pela terceira
vez é que nos trocamos, às pressas. Agora a Mia prendia o cabelo num rabo, meio
de qualquer jeito, sentada à mesa. E eu a observava, secretamente maravilhada
com o quanto ela era linda – puta merda.
Assim que terminamos o café-da-manhã, nos livrando daquele momento
obrigatório constrangedor, pulamos da cadeira e nos apressamos para sair o
quanto antes do apartamento. Roubei um croissant para comer no caminho e me despedi
dos meus “sogros”, certa de que não havia causado nenhuma boa impressão. Ainda
assim, o pai da Mia nos ofereceu carona. Menti a existência de um carro
"estacionado logo ali na esquina" – e duma carta de motorista,
aliás – e recusamos educadamente.
Descemos de elevador, aliviadas. Até que enfim, livres.
O dia estava gostoso. Saímos andando pela rua, puxando papos
furados e cigarros do bolso. A Mia não conseguia parar de rir, zombando da
minha performance desconfortável em frente aos pais dela, e eu sorria,
envergonhada. Comi meu croissant no ponto e entramos no primeiro ônibus que
passou em direção à Consolação, nos apertando com aquela multidão-das-8-e-meia
típica de São Paulo.
Entre mochilas e corpos em excesso, coloquei minha mão ao redor da
Mia, segurando-a nas costas para que não se desequilibrasse com os trancos do
busão, enquanto eu me apoiava num dos canos de metal. Conversamos e rimos o
caminho todo, num estado bobo de felicidade, sem sequer notar o cansaço que
ficara de uma das noites mais longas – e incríveis – daquele ano.
Descemos nas redondezas do Mackenzie. Mas aquele já não era o meu
lugar – estava abarrotado de amigos dela e de gente que conhecia o Fer. Uns
prováveis dedos-duros. Ou seja, eu
não podia me meter à besta – uma tendência na minha vida. Então calculei os
meus passos. Queria aproveitar o máximo de tempo possível ao lado dela. Observei
atenciosamente cada esquina e porta e comércio fechado ao longo do caminho,
freneticamente movimentado pela massa paulistana. Até encontrar um esconderijo:
um bar fechado, cuja porta entrava cerca de dois metros parede adentro. Sem
pensar duas vezes, meti a Mia ali dentro e lhe roubei um último beijo.
Meu deus. Eu precisava disso.
A Mia sorriu. E voltamos para a rua com na mesma rapidez com que
sumimos dela. Acompanhei-a até a entrada do Mackenzie que ficava na R. Itambé e
tentei não me despedir mais. Apenas voltei os passos, andando de costas na
calçada, e sorri para ela. A Mia se
virou e entrou, atrasadíssima para a aula.
Caralho. Aquilo tinha sido maravilhoso – tudo aquilo. Eu era a mina mais
feliz de toda a porra do mundo. Voltei até a Consolação repassando na minha
cabeça cada segundo daquela noite, cada centímetro daquela mulher. Eu nunca
estive tão feliz.
Entrei e saí do busão, sem sequer perceber, completamente imersa
nos meus próprios botões. Não sei como cheguei no estúdio, mas cheguei; e passei
por todo mundo sem abrir a boca, apenas sorrindo de ponta a ponta do rosto. Sentei
na minha cadeira e olhei para a frente, dando de cara com um dos meus colegas
engraçadinhos de trabalho, que me observava pacientemente.
_Você não dormiu hoje, né? – ele riu.
Eu ia dizer que dormir é para os fracos, mas o último dia em SP me queimaria com essa informação.
ResponderExcluirEntão, só digo que reconheço esse sorriso. De longe. E reconheço de longe quando fingem um sorriso desses.
Tomara que as coisas continuem bem pra Devassa... porque, né?! =x hehe
Legal! Pelo menbos ela curtiu esse momento, nem pensou em ratos, gatos ou esgotos! Não posso dizer q prefiro ela assim, pq a Devassa tem um humor ácido q eu adoro! mas o clima pede essa leveza d´alma! :)
ResponderExcluirai gente. me dói ver alguém tão feliz assim e eu aqui, nessa fossa. haha
ResponderExcluircara que delicia tudo isso *_*
ResponderExcluirto ficando tensa quando o fer entra nos post também :B
fer, pq já sou super intima
riri
"Mano, eu sou a mina mais feliz da porra desse mundo."
ResponderExcluirEu adoooro seu texto!
=*
Quero ser como a Devassa quando crescer.... hehehe adoro o blog! parabéns ai!
ResponderExcluirSó sei que eu quero um beijo assim, puxado, escondido... que faz tudo em volta SUMIR! *----*
ResponderExcluirEsses momentos de ter que se fazer de amiga na frente da família são tããão legais. ¬¬
ResponderExcluirTer a pessoa que se desejou por tanto tempo é uma sensação incrível e causa esse transbordamento de felicidade, meesssmo. Mas, agora trazendo o meu lado pessimista a tona, acho que ela vai ser "a mina mais feliz da porra desse mundo" até ver a Mia nos braços do Fer.
que lindinhas ^^
ResponderExcluir(L)
ResponderExcluirEu adoro o blog... Mas duas coisas são impagáveis: as falas da Devassa e a Pri agourando a Devassa! :P
ResponderExcluirComentário tipico de domingo de manhã!
ResponderExcluirTa gostoso de ler tamanha felicidade (:
A Priscilaaa era uma otimista nos velhos tempos. Garanto! Ahh, essas desilusões amorosas.Rs...Culpa das "Mias" da não-ficção! ;)
ResponderExcluirLendo esse post, relembrei de uns momentos da minha vida.
ResponderExcluirMel, você é foda. <3
Não estou agourando, Lu. Estou sendo realista... hahaha!
ResponderExcluirE Carlinha, eu era mesmo, bons tempos aqueles...rs! A "minha Mia" é beeem diferente dessa!
=)
Aii essa demora de novos post ta judiando..rs
ResponderExcluirF.M. Apaixonaaaaadaaaaaa!!!!!!
ResponderExcluirQue bunitinho!!!!!!Linda!!!
Tá ótimo!!! Adoro isso aki!!!
Bjaum,
Juliana F.
Carã adorooo esses momentos com os sogros, lembro me dos da infância, dos velhos tempos...
ResponderExcluirem Pri venk qê te mostro uma "MIA" beeim diferente das que ja conheçeu...
O que está havendo Mel?
ResponderExcluirSaudades dos posts...
ela não está indo pra alemanha? acho que é por isso que faz tanto tempo que ela não posta
ResponderExcluirCansou do blog??? q saudades de entrar aqui e ver coisa nova..
ResponderExcluirPra mim ela já estava na Alemanha...mas obrigada!
ResponderExcluir