setembro 08, 2012

Ganja

O restante do dia correu abarrotado de tarefas para tentar fechar o ano. Entre uma crise e outra, troquei mensagens com o Gui para me assegurar da sanidade do Du e, horas depois, quando encontrei com a Clara na saída de casa, já havia me decidido por ele. “Tem certeza?! Não é melhor procurar mais um pouco, Bo?”, ela me perguntou, fumando ao meu lado na rua. Mas eu não queria ter que ficar procurando gente para entrar no lugar do Fer – não tinha paciência ou emocional para isso – e achei que o melhor era aceitar o que o destino me arranjou.
 
Liguei para o Du quando cheguei no apê e combinamos que ele traria suas coisas depois do Ano Novo, assim que voltasse do interior. Ficou feliz com a notícia. E eu desliguei também com um sorriso no rosto, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas. “Resolvido. Num só impulso. Joguei o celular sobre o travesseiro e a Clara deslizou pelas minhas pernas, subindo pelos meus joelhos até as coxas. Aí acomodou-se entre elas. E os seus dedos foram me fazendo cócegas, me arrepiando, escorregando lentamente por debaixo da minha blusa. Meio assim, à toa.
 
Passamos horas daquele jeito. Na pele uma da outra. Nuns carinhos distraídos, numa sacanagem boba. Com aquela calma de quem tem todo tempo do mundo pela frente. Como eu gostava de passar o tempo do lado daquela mulher – puta que pariu.
 
Só lá pelas dez é que ouvimos alguém chegar. Estávamos as duas afundadas na minha cama e fumando haxixe, ouvindo o Maxinquaye no último. Bem legalizadas naquela casa, sim. Passei o baseado para a Clara assim que escutei a porta da frente – “é o Fer”, murmurei, me levantando do colchão, “preciso falar com ele”. O meu corpo parecia pesar três vezes mais, de repente. Eita. A Clara resmungou ali, com a ponta na mão e só de sutiã, sem calcinha. “Não, não vai...”, miou e eu sorri para ela, vestindo a mesma camiseta desbotada de horas antes só para sair do quarto. Abaixei e lhe dei um beijo rápido – “já volto”.
 
Fui até a sala e o Fer estava em pé na frente do sofá, abrindo uma correspondência qualquer.
 
_E aí, meu... – apoiei o joelho ali, numa das almofadas, meio chapada – ...deixa eu falar, fechei hoje com um moleque aí, amigo do Gui, pra vir morar aqui. Gente boa. Combinamos dele já mudar quando virar o ano, pode ser?
 
O Fer me olhou de volta, surpreendido pelo assunto. Ou pela rapidez com que as coisas se acertaram. Não sei bem. E me senti subitamente mal pela forma como lhe dei a notícia. Droga. Delicada que nem um elefante. Ele não esboçou reação alguma, mas podia ver que tinha se incomodado. Sabia quando o Fernando não estava bem e os seus olhos transpareciam certa frustração. Argh, eu sou uma imbecil. Eu tenho merda na cabeça ou o quê?, me condenei.
 
_Sei – ele cruzou os braços, abaixando a cabeça – Deu certo, então...
 
Droga. Tentei forçar os meus dois únicos neurônios sóbrios a formular qualquer resposta, buscando desesperadamente alguma maneira de consertar aquele clima de merda que causei, mas o que diabos eu posso dizer agora? Já tinha combinado, o cara vinha mesmo. E em pouco mais de duas semanas. Duas semanas, caralho! Mas que inferno. O pânico começou a tomar conta de mim, enquanto eu olhava para o Fer ali na minha frente – foi cedo demais? Me precipitei? Tentava articular qualquer solução na minha cabeça, mas não conseguia, completamente chapada, não saía nada dali. Nada. O meu pensamento estava tão lento que quase parava, afogado pela fumaça nos meus pulmões. Cacete.
 
_Deu, e-ele fa...
_Ok – o meu melhor amigo me interrompeu, deliberadamente grosso.
_Fer, por favor, e-eu... – me angustiei, sem saber direito o que falar.
_Não, não. Tudo bem! De boa.
_Mas eu não... m-merda, eu, e-eu não...
_Cara, foi isso que a gente combinou, não foi?! Então tá certo, porra.
_Mas v-você não... e-eu... Fer, é q-que... argh! – me enrolei toda, intensamente lesada, e me irritei comigo mesma – É q-que, sei lá... e-ele já tava, t-tava afim de vir logo e vai virar o mês também e aí eu pensei q-que...
_Relaxa. De boa, mano. É isso, vai fazer o quê... – resmungou, de cara fechada, deixando escapar certa agressividade – Pode deixar que tiro minhas tralhas e libero o quarto pro moleque entrar.
 
Largou a carta que estava olhando em cima do sofá, meio amassada, e aí saiu em direção à cozinha. Bosta.

13 comentários:

  1. título lindo, post meio tristinho.
    sdds Mia.

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  2. Aaaaahh o Fer morrendo de ciumes do novo colega de quarto. Tadinho do Fer =/ Ótimo post Mel, quero só ver o desenrolar da histórias agora xD

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  3. =/ Que foda!

    Tadinho do Fer... essa hora é foda, não poder apoiar quem se gosta por causa da merda do "dinheiro". Muito frustrante!

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  4. Nuss primeira vez que eu sinto pena do Fer, deve ser muito chata essa situação :/

    Mas voltando a parte boa.. é tão gostoso esse climinha com a Clara hehe

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  5. Ótimo post mel, mas tenho uma pergunta. Cade a mia? E qual foi o desenrolar da história do sms?

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  6. "Corri a minha mão pela cavidade das suas costas. E inclinei-me para lhe beijar os ombros, a lateral da cintura. A sua pele era mais fina sobre as costelas". Mell, vc escreve pura poesia. Me encanta a forma como vc usa as palavras, me fez sentir de novo no quarto com um caso antigo. Q saudade!!
    Adorei esse post. As citações a Hilda Hilst e ao Maxinquaye, vc sempre escolhe as melhores referencias. Vc ñ existe mulher!!

    Bjs

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  7. GANJAAAAAA!!! \O/ \O/ fm mega chapada no final kkkkkkkkk bom demaaais!!

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  8. kkkkkkkkk e esse anonimo chapado

    Muito bom quero o proximo, sdd da Mia

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  9. I wanna know about Mia. cadê? :)

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  10. Deu dó do Fer e ao mesmo tempo quero que ele saia logo do ap pra saber o que vai acontecer. hnahaha posta Mel :(

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  11. "Colada à tua boca, mas descomedida
    Árdua
    Construtor de ilusões examino-te sôfrega
    Como se fosses morrer colado à minha boca.
    Como se fosse nascer
    E tu fosses o dia magnânimo
    Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer."

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