março 27, 2010
Old routine
março 25, 2010
Domingo Legal
_Não sei e nem quero saber – argumentei, fumando um baseado – A meta aqui é alienação completa.
_Justo – ele riu – Acho que vou me juntar a você.
_Noite difícil?
_Nossa, mano. Cê não faz ideia! – reclamou, de saco cheio – Não sei o que rola com a Mia, porra. Tá foda. Me largou aqui sozinho ontem, meu, foi embora sem falar nada! Ela tá bizarra esses dias. Cê... – me olhou, desconfiado – Cê não contou mesmo, né?
_Hein?
_Da Júlia, porra.
_Não, Fernando, não contei – resmunguei.
_É que, sei lá... Ela tá estranha.
_Vai entender...
_É, sei lá... – ele bufou – Mas e você, tava onde ontem? Não vi cê chegar...
_Lá na Marina.
_Caralho, na Marina? Mas cês não... – ele começou a rir – ...deixa quieto, vai.
_Nem faz essa cara aí pra mim! Fui lá só pra conversar.
_Sei... – ele riu – Ah! Aliás... A Roberta passou aí ontem.
_Jesus! Cê tá de brincadeira?
_Não, passou mesmo. Até tomamos umas brejas, eu disse que cê não tava e ela ficou aí um tempinho pra ver se você aparecia. Falou pra eu não te avisar, acho que queria que fosse surpresa. Sei lá eu. Deve ter ido embora lá pra meia noite ou uma da manhã... – contou e eu sacudi a cabeça, desacreditando – Eu fui dormir logo em seguida.
_Meu deus – revirei os olhos, dando mais um trago – Qual é o problema das pessoas?
_Porra, você devia dar mais bola pra ela... Puta mina gente boa, meu.
_Não, obrigada. Tô dando um tempo de mulher.
_Ah, claro. Essa é boa – ele riu – Você?! Até parece.
_É sério, Fer. Pra mim chega, só me meto em furada. E além do que, meu, a Rô pode ser ótima e tudo mais, mas é meio intensa. Não dá... Já não era nem para ela ter vindo aqui na quinta, puta merda do caralho que eu fui inventar. Mano, toda vez a gente treta e toda vez ela fica vindo atrás. A gente já passou por isso antes. Preciso parar com essas ideias idiotas...
_Como cê é sensível, não... Parece até que não tem culpa nisso.
_Ah! Falou o morador mais íntegro desse apartamento – eu ri – Hein, ô adúltero de meia-tigela?
_Vai se foder.
março 24, 2010
março 23, 2010
Insistência
_Bom... São 4 da manhã, não é? – ela me respondeu com desaforo, como se já esperasse por aquilo, o que me irritou mais ainda.
_Eu não tô nem aí, que se dane. Eu vou esperar.
_Linda...
_Vai pra casa, Má. Eu pego um táxi, sei lá...
_Não faz isso – implorou – É tarde, tá frio. Cê não sabe se ela vai descer.
_Pode ir, eu vou ficar.
março 22, 2010
O surto
_Agora?!
_Agora.
_Ihh... A essa hora não vai ter ninguém acordado, não...
_Ela tá, sim.
_Não, não. Eu conheço a família dela... O pessoal lá já vai tá tudo dormindo.
_Você não pode só interfonar e ver se ela tá acordada?
_Mas aí eu é que vou acordar todo mundo e perturbar. Você não pode voltar de manhã?
_Não! Não posso! – eu me irritei – Meu, eu acabei de falar com ela no telefone! Eu preciso falar com ela agora. O senhor pode, por favor, só interfonar logo?!
_Ah, mas aí, depois... se ela estiver dormindo... a bronca cai em cima de mim.
_Olha, a bronca vai cair em cima do senhor se ela ficar sabendo que eu vim da puta que pariu até aqui a essa hora e você não quis fazer esse esforcinho pequeno, mínimo, que é o seu trabalho, de dar dois passos, digitar três númerozinhos e interfonar pra porra do apartamento! Cê não acha?!
março 19, 2010
Mau-sinal
_O que cê quer?
_E-eu... Olha, me desculpa.
_Não posso falar agora.
_Não faz isso, meu. Me desculpa, por favor. E-eu queria ter ido hoje! Queria muito.
_Sei. Então por que não veio?
_...
_Hein?
_É complicado.
_Complicado?
_Cê sabe que é.
_Mais complicado pra você do que é pra mim? Cê acha mesmo?!
_Não, não disse isso. Eu...
_Fala – me desafiou – Fala logo!
_Não fica brava, por favor. Eu gosto muito de você, e-eu... Eu não só sei o que fazer. Eu quero ficar com você, quero mesmo! Mas aí eu vou pra casa e dou de cara com o Fer e com você... e é horrível. Eu não queria ter me enfiado nisso, mas eu não consigo evitar. Eu e você, quer dizer, n-nós temos uma... coisa, não sei o que é. É tão...
_Olha, deixa pra lá – ela me interrompeu.
_Não, me escuta, eu quero falar com você!
_V-você... Espera, você tá bêbada?
_Ligeiramente – confessei.
_Mano, vai dormir! Outro dia a gente conversa.
_N-não, por favor. Mia... Onde cê tá?
_Que diferença faz?
_Cê tá no apê? Eu vou até aí.
_Não, não tô.
_Não? – me surpreendi.
_Eu vim pra casa.
março 18, 2010
Sem maldade
_O indicador no meio?
_Não, Marina, o dedo do meio! O indicador abre o da direita e o dedão empurra o da esquerda. O dedo do meio fica por baixo, no meio dos dois fechos.
_Isso é muito complicado...
_Não é, não. Você que não tá juntando direito, assim não vai rolar nunca! Tenta de novo.
_Ai, não vai! Como cê consegue?
_Me dá sua mão, eu te ajudo – eu ri – É tipo estalar os dedos... Pronto! Viu?
_Meu deus. Isso é fantástico!
_Agora só precisa treinar... – pisquei para ela.
_Ahh, deixa eu fazer de novo em você?
_Acho que ia ser pior. Sabe, pelo menos você avisou que não ia poder ir...
_Mas eu podia ir.
_Ok, podia. Mas você queria mesmo? Ir lá e prolongar todo aquele rolo?
_Queria! Lógico que eu queria!
_Linda, cê tava se sentindo um lixo por ela ficar com o Fer hoje, por trair a amizade de vocês. Você ia se arrepender se fosse ver ela.
_Pode ser, mas pelo menos eu ia estar com ela mais uma vez... Eu sinto que vou enlouquecer assim.
_Ah, meu deus... – a Marina suspirou – Olha, você quer que eu te leve?
_Agora? Do que adianta? São 3 e meia da manhã, porra! – balancei a cabeça, conformada – Não, deixa... Vamos ficar por aqui.
_Eu te levo, não tem problema. Ela deve estar acordada ainda.
_Dando pro Fer, né.
_Você não sabe disso...
_Sei, sim.
março 16, 2010
O step
_Não posso dizer isso!
_Por que não? Fala que vocês precisam conversar, que é melhor cês se encontrarem outro dia.
_Não, meu... Vai parecer sério demais... – argumentei, acendendo mais um cigarro.
_Mas cês precisam conversar! Ou cê acha que cês podem ir se metendo uma com a outra, assim? Sem falar a respeito, nem pensar um pouquinho no que tão fazendo?! Ela namora o Fer, meu. Não é qualquer cara, é... É o seu melhor amigo.
_O quê?! – a Marina desligou a água na pia para conseguir me escutar – O que cê disse?
_Que se, s-se a gente conversar... – falei, com o cigarro na mão e a cabeça baixa, olhando para o chão – Se a gente parar para pensar a respeito, se eu for discutir isso com a Mia... Ela não vai mais querer ficar comigo, e-ela... – lamentei – ...vai perceber que, se ficar... e-ela pode perder o Fer e... – tentei apagar a possibilidade da minha cabeça, sentindo meus olhos marejar, mas não conseguia – ...e ela nunca me escolheria ao invés dele. Nunca. Eu sou só uma porra de u-uma mina.
_Ei. Você não sabe disso, flor...
_Má, eu não teria a mínima chance.
março 15, 2010
Oh no, not you
março 14, 2010
Direto ao assunto
_Não sei, linda, sinto que cê vai acabar se enfiando cada vez mais e mais numa rede de mentiras e traições e constrangimentos. E não é fácil, flor. Eu sei o que eu falei da outra vez, mas cê não pode continuar nisso assim.
_Cê tá louca, Marina?
_Só não quero que você se machuque...
_Mas ficar longe dela também me machuca! – eu ri de nervoso, sem achar graça – E e-eu não consigo, Má! Eu já tentei. Eu juro. Já tentei de tudo pra ficar longe da Mia, mas não dá! Ela tá lá o tempo todo, porra, eu moro com o Fer! Vejo ela quase todos os dias, a mina não sai daquela droga de apartamento. É insuportável!
_Tá, mas...
_Não, escuta – argumentei – A Mia... Ela não é só uma garota que eu quero comer, sei lá. Eu nunca me senti assim antes, meu. Cê não tá entendendo! Ela... e-ela me fode a cabeça, não sei! Eu passo o dia sonhando acordada com ela, cada minuto, cada segundo, o tempo inteiro. E eu nunca fiquei assim, meu! Mas não consigo evitar... Tudo nessa mina é incrível e e-eu, eu sei que a gente ia dar certo juntas. Eu sei. E eu acho que ela também sente isso, ela só tem medo. E-eu, eu tô apaixonada, Má.
_Bom, então você precisa falar com o Fer, flor.
_Não. Isso não é uma opção.
_Ou um ou outro.
_Não... – passei as mãos no rosto, angustiada – ...tem que ter outro jeito.
_Gata, escuta o que eu tô te falando – a Marina me olhou com carinho – Você vai se dar muito mal nessa história. O Fer não vai te perdoar. A bomba vai explodir inteira em cima de você. Você não faz ideia de onde tá se enfiando por causa dessa garota!
_MANO, MAS ELE TAVA TRAINDO ELA!
_ELA TAMBÉM TAVA!
_É, s-só que...
_Só que o quê?! – me cortou – Flor, você não sabe como são as coisas entre eles. E uma coisa é o Fer trair com uma mina nada a ver, outra é ele descobrir que você tá com a namorada dele. Não tô dizendo que ele tá certo, mas cê entende que pode dar muito mais errado pro seu lado? Vocês tão se envolvendo muito rápido, meu amor. E eu sei que cê ama ela e que pode parecer impossível, mas você tem que se afastar enquanto ainda consegue.
_E-eu, eu sei, mas... Uma coisa é falar e, meu, no dia-a-dia, não tem como. Não dá. Ela quer, Má, cê não tá entendendo, ela me quer. Ela quer ficar comigo! Eu vi na cara dela hoje, mano, quando ela segurou minha mão, quando a gente se beijou! Porra. Não é como se eu tivesse alimentando uma paixão platônica por uma pessoa que não tá nem aí para mim! Ela quer! Ela me quer! E se, s-se você visse ela ontem, mano, o jeito como a gente se encaixou, como ela me beijava, foi, f-foi tão bom, cê não tem noção. Eu não consigo tirar ela da cabeça, velho. Eu, e-eu sei que foi de verdade, Má, não é só um casinho, uma brincadeira, sabe?
_Não pra você, meu amor, porque você não vê as coisas assim...
_O que diabos isso quer dizer?
_Quer dizer que cê já se apaixonou antes, meu, cê já namorou com outras meninas, já dormiu com mulher, levou pra casa dos seus pais. Cê sabe o que é ser sapatão... – argumentou – Mas a Mia nunca ficou com outra garota, linda. Ela não sabe o que é gostar de mulher. É muito cedo ainda! E eu n-não sei se ela tem noção do que realmente significa amar outra garota, de tudo que vem junto. Você acha que ela sabe, porque quer que ela fique com você, mas as coisas te afetam de outro jeito... – suspirou – Não é a mesma coisa, flor. Como cê pode ter certeza de que ela sente o mesmo que você? Como cê sabe que não é só porque, sei lá, p-porque é uma parada nova? Porque é proibido? – comecei a balançar a cabeça, a ouvindo, como se negasse o que dizia, tragando meu cigarro irritada – Olha... Me escuta. Pra mim, pra você e pra todas as lésbicas do planeta, meu, o que uma mulher faz do nosso lado tem um significado muito mais forte. Nós damos sentido a cada gesto das garotas que gostamos.
_Marina, eu não tô tendo um delírio – rebati – Ela gosta de mim!
_Linda, não tô dizendo que ela não tem vontade de ficar com você, só... só q-que talvez... – hesitou – ...talvez não seja tudo isso na cabeça dela, não como é pra você. Ela não sabe o que realmente significa, entende? Não sei se a Mia tem plena consciência do que tá fazendo, do que faz com você, flor. E nem se ela tá pronta para encarar isso agora. Ela namora, meu. E pior, ela namora o Fer! É muito complexo...
Respirei fundo e apaguei o cigarro no cinzeiro, a escutando falar, a contragosto, e encarando o chão. Mesmo com todos os argumentos, todos os sinais evidentes e todo o maldito bom senso me indicando que a Marina provavelmente estava certa... Alguma coisa dentro de mim ainda discordava.
março 13, 2010
Enrolando
A Marina foi na cozinha buscar um copo daquele líquido-gelado-zen-intomável e sentou ao meu lado na volta, dobrando os joelhos perto do corpo, com os pés descalços em cima do sofá. Olhei o vestido dela descendo delicadamente pelas suas coxas e, por um instante, me senti realmente nada confiável.
_Não me lembro de você assim quando a gente saía...
_Assim como?
_Assim de vestido, cabelo preso, toda bonitinha aí... – olhei para ela.
_Cê tá querendo dizer que eu era um horror antes, é isso? – ela riu.
_Cala a boca. Cê sempre foi gata, meu! Não quis dizer isso!
_Olha, eu não tenho tanta certeza do que cê quis dizer... – ela brincou, tomando um gole do chá.
_Não é isso, Má, só tô falando q-que... sei lá, meu, cê tá diferente – expliquei – E cê parece feliz, acho que essa tal de Bia aí tá te fazendo bem.
_É, acho que sim...
_Hum, então a Bia é mesmo a sua nova namorada – concluí – E não só “uma menina” aí?
_Para – ela riu – A gente não tá namorando ainda.
_Ainda?
_Ai, como você é chata... Meu deeeus...
_Desculpa. Parei.
_Besta.
_Hum... – hesitei – Mas e-eu... Eu te fiz feliz, não? Por um tempo pelo menos?
_Fez – ela respondeu – Mas é diferente, cê foi minha primeira namorada.
_Que tem?
_Tem q-que é difícil pra mim separar o nosso relacionamento desse, sei lá, d-desse momento na minha vida, de como foi importante. Sabe? Acaba tudo meio junto: aquela época, você, o processo todo de me entender lésbica, não sei. E-eu acabei completamente apaixonada por você e você...
_...e-eu sempre fui uma idiota, né?
_É, algumas vezes – ela riu.
_Eu fui muito trouxa, cê sabe, né? – a olhei carinhosamente, com o cigarro aceso na outra mão – Eu me arrependo pra caralho, Má.
_É. Eu sei – ela sorriu – Talvez a gente devesse ter sido amigas desde o começo.
_Acho que ia dar mais certo mesmo... – concordei e aí arqueei as sobrancelhas, brincando – ...quer dizer, amigas com alguns “benefícios”.
_Não, sem benefícios para você – fez graça.
março 12, 2010
Nostalgia
_É.
_Olha, nem começa... – ela riu, tirando a última blusa de cima de uma almofada.
_Ihh, que foi? Não fiz nada!
_Sei...
_Nossa! Não posso fazer um comentariozinho inofensivo que cê já acha que eu tô com más intenções?
_Nenhum comentário seu é inofensivo.
março 11, 2010
911
_“Oi” pra você também, sua mal-educada...
_Desculpa, oi! – consertei rapidamente – Onde cê tá?
_O que tá acontecendo?
_Eu fiz merda, Má. Fiz merda mesmo, das grandes.
_Xiiii...
_Onde cê tá, meu?
_Na casa da Bia.
_Quem é Bia?
_Uma menina.
_Que menina?! – me incomodei.
_Não muda de assunto, ô intrometida. Me conta, o que cê fez dessa vez?
_Não posso falar pelo telefone, vem me encontrar. Que horas cê sai daí?
_Não, hoje não dá...
_Marina, por favor.
_Nem vem – ela riu – Eu quase nunca tenho tempo livre e eu já tinha combinado...
_Meu, é sério. Eu preciso muito falar com você!
_Ei... – me deu bronca – Você não é a única pessoa na minha vida, sabia?
_Mas você é a única que presta na minha. Por favor, por favor... Por favor...
_Meu deus, isso é um absurdo. Não.
_Por favoooooooooooor!
_Isso só pode ter mulher no meio. Só pode – eu podia quase vê-la revirar os olhos do outro lado da linha – Tenho certeza, não sei nem se eu quero saber o que aconteceu. Cê se mete em cada uma também, viu... E depois ainda sobra pra mim!
_Eu não sei o que fazer, Má. De verdade. Vem me encontrar? Por favor. Eu tô precisando muito de você, meu...
_De mim? Cê tá uns anos atrasada, gracinha.
_Para! – eu ri – Poxa, Má. Sem brincadeira, preciso mesmo de você...
_Sei.
_E da sua infinita sabedoria, vai... – implorei – Por favor, linda!
_Você é inacreditável...
_Onde cê está? Fala que eu vou aí te encontrar.
_Não – ela suspirou – Deixa que eu vou aí.
março 10, 2010
Fervendo
_E por que não? – retrucou, soando bem mais irritado do que a situação justificava – Cê não tava fazendo um puta drama de que tava com fome, hein? De que não tinha porra nenhuma pra comer? Que a gente precisava ir lá comprar as merdas pra casa?
_Perdi a fome, Fernando – menti, sendo grossa.
_Nada! – cochichei de volta.
_Então por que cê está assim?
_Assim como?!
_Não se faz de idiota! Tem alguma coisa rolando! – ele disse, puto, tentando não subir o tom de voz – A Mia tá toda constrangida lá na cozinha, cês duas tão agindo estranho, porra. Qual é?!
_Eu não falei nada!
_Do que cês tavam falando quando eu cheguei?
_Não é da sua conta.
_O CARALHO QUE NÃO É!
_Fernando, eu não contei porra nenhuma. Não tem nada a ver com você!
_Então é só uma coincidência do cacete, né?
_Ah, velho. Não enche! – retruquei, brava – O que cê acha que eu ganho contando? Antes de qualquer coisa cê é meu amigo, caralho. Cê acha que eu vou te dedurar? Cê tá paranoico, porra! Vai sair me acusando??
março 09, 2010
"Pode vir quente, que eu estou..."
março 08, 2010
Portas destrancadas
_Por que você tá assim? – a Mia me olhou de volta, chateada.
_Meu, por que diabos cê tá aqui?
_Porque eu quero falar com você.
_Não no quarto. No apartamento, Mia!
_O que cê quer que eu faça?
_Eu não tenho a resposta, Mia.
_Eu não posso simplesmente t-terminar com ele... – ela sussurrou – Eu não posso, e-eu... Não dá pra pôr um fim em tudo, do nada, só porque...
_“Só porque” o quê? – retruquei, tentando esconder a minha tristeza.
_Você não entende, e-eu... eu precisava vir. Não dava pra eu dizer não! Não dava. Ele ia... i-ia perceber que alguma coisa não tava certa.
_Porque não tá mesmo, Mia! – argumentei, com raiva.
_Vamos fazer o que você quiser – respondi, como se não pudesse evitar.
_Eu quero ficar com você – ela disse.
_Então é isso que vamos fazer.
Sobrecarga
_Oi, Mia... – respondi, indiferente a ela.
_O porteiro me deixou subir, mas cheguei aqui e cês não tavam. O Fê... – ela me olhou desconfortável, como se o nome dele de repente fosse proibido – ...n-não foi com você?
_Como cê pode ver... – falei, ainda tentando virar a chave sem que nenhuma sacola caísse – ...a gente foi no mercado. Mas o Fer tá dando uma passada lá na Paim. Já, já ele deve chegar...
_Cê quer ajuda aí? – ela perguntou, como se eu estivesse prestes a derrubar tudo.
_Não. De boa.
março 05, 2010
Les Misérables
_Ah, jura? – ele riu – Mas, e aí, fala... O que cê quer?
_Não tem comida.
_Claro que tem! Comi hoje cedo aí com a Júlia. Tinha sucrilhos e... err, bom, o leite acabou.
_Não quero sucrilhos e não tem mais nada, meu. Precisamos ir comprar.
_Agora não dá, meu... – respondeu – ...a Mia tá vindo aí.
_Tá, eu liguei para ela... – estranhou – Por quê?
_Não, por nada... É só q-que... Ela tinha comentado... Digo, o-ontem... – me enrolei, confusa – Q-que talvez ela fosse... f-fosse sair hoje, m-mais tarde... À noite, não sei, não me lembro. Ah, deixa pra lá!
_É, ela disse que ia sair mesmo. Mas eu falei para ela passar aqui pra comer...
_E comer o quê, meu? – argumentei, como se pudesse impedir que ela viesse – Não tem comida!
_Ah, sei lá, a gente pode pedir alguma coisa...
_A gente vai ficar sem grana, Fer. A gente só come delivery a porra da semana inteira! – resmunguei – Vamos comigo no supermercado, vai? Antes que feche o shopping da Frei...
_Ah, velho... Puta preguiça de sair agora!
_Por favor! Vai, pelo menos para comprar umas cervejas e um pouco de macarrão, meu. Senão fica difícil...
_Tá... – se deu por vencido – Mas vamos logo, que daqui a pouco a Mia chega aí.
março 03, 2010
Não é por mal...
março 02, 2010
Os pilantras
_Relaxa, meu... O que você vai fazer agora? Já foi, né?
_Eu sabia, sabia que tava fazendo bosta. Eu devia ter ignorado. Ela me mandou mensagem ontem e e-eu... Caguei tudo! Tudo. Burro do caralho. E o pior é que agora a Jú vai ficar cheia de nhé-nhé-nhé para cima de mim, me enchendo o saco... Puta merda, vai ser um inferno – passou a mão no rosto, nervoso – Eu sou um idiota, mano.
_Calma, Fer, também não é o fim do mundo. Foi uma vez só. Logo, logo passa... Só não vai dar uma de honesto agora e ir lá contar, a Mia ia ficar arrasada – eu me estiquei até a ponta do sofá e alcancei o meu maço, tirando um cigarro e o isqueiro lá de dentro – Juro. Eu te arrebento.
_Cê tá doida?! É óbvio que eu não vou contar – ele riu – Mas, porra... Se esse negócio vazar...
_Não vai vazar.
_É, mas se...
_Não vai vazar! – o interrompi, garantindo.
_Argh, sei lá. Vou ter que prestar muita atenção no que eu falo daqui para frente – ele roubou o cigarro da minha mão e deu um trago – Acho que a Jú não vai fazer nada, né?
_Olha... Daquela ali eu não duvido bosta nenhuma.
_Quem? – respondi, sem entender – Sabendo do quê?
_Como “do quê”? – ele riu – Nunca vi ninguém ir e vir de uma para outra que nem você, mano... Elas não ficam sabendo, não? Não te encontram por aí com outra? Porque, porra, não é possível!
_Ah, sei lá... Às vezes dá umas tretas – dei de ombros e pisquei para ele, exagerando – Mas todas elas acabam voltando para mim.
_Ah! Tá bom! Vai nessa...
_Desculpa aê, Rainha do Vacilo... – me zombou.
_Cala a boca, babaca – dei um soco de leve no seu braço, rindo – Mas, tá, agora falando sério: por que diabos você foi fazer isso? Essa mina já tava até com poeira de tanto tempo que vocês terminaram. Que raios deu na sua cabeça pra ir mexer nesse rolo, meu?
_Ah, sei lá... É que... N-não sei, faz o quê? Um ano que eu tô com a Mia e... e é só a Mia, manja? O tempo inteiro – respirei fundo, eu te odeio – Daí eu vi a Júlia lá no Marcos e ela tava toda, sei lá, interessada, mano, ficou dando mole. Porra. Não sei, eu não pensei muito na hora... E ontem a Mia me ignorou a noite toda, mano... – ops – Eu só queria fazer uma graça. Dar corda para ver onde chegava – ele esfregou o rosto, arrependido – E sei lá, quando eu fui ver já tinha feito a merda.
_Sei. E valeu a pena, pelo menos?
_Não – ele riu, tragando logo em seguida – Foi um lixo.
_Mano, como você é idiota.
_É. Bastante – ele passou a mão na cabeça e me devolveu o cigarro – Mas, e aí? Foi legal lá ontem? O que vocês fizeram?
_Ah, nada. A gente viu as lutas, bebeu, ficou conversando...
_Nossa, a Mia sumiu, porra... Morreu. Não manda notícia desde ontem à tarde. Deve ter sido bom o negócio, não?
Enfim
_É, fez.
março 01, 2010
O pau oco
_Ah! Fernando... Porra, mano! – reclamei, sabendo que era uma mentira descarada – Joga a real. Qual é?
_Tá bom! Tá bom! Comi, sim! – admitiu – MAS QUE PORRA! Eu n-não... Eu não queria que... Não foi planejado, e-eu... MERDA! – ele sentou na minha cama e passou a mão na cabeça, arrependido – Eu tô fodido. Fodido. A Mia vai me matar se ficar sabendo dessa bosta.
_Velho, por que cê foi fazer isso?!
_Ah, caralho. Sei lá! Você... v-você não pode falar nada pra ela. Nada! Tá me ouvindo?