_Tá se divertindo?!
– perguntou, me olhando direto nos olhos.
_Quê?!
_Perguntei se cê tá se divertindo, porra!!
_Que foi, Fernando?! – retruquei, ofendida com o tom de voz dele – Sei lá,
meu... tô, t-tá normal.
_É, tô vendo que tá mesmo... – resmungou.
_Que foi, mano??
_Como o que foi? – bateu no balcão, bravo, se virando de frente pra mim – COMO
O QUE FOI, PORRA?!?
_TÁ LOUCO,
FERNANDO?!
_CÊ TÁ LÁ
DANÇANDO COM A MIA, CARALHO, C-COMO SE...
_COMO SE O QUÊ?! – briguei de volta – HEIN?!
_VOCÊ SABE POR QUE EU TÔ PUTO, SABE MUITO BEM! NÃO VEM FAZER ESSA CARA DE
DESENTENDIDA AÍ, NÃO!
_QUE CARA?! FERNANDO, PORRA, A GENTE TÁ SÓ DANÇANDO!!
_SÓ “DANÇANDO”?? – ele gritou ainda mais alto – SÓ FALTOU VOCÊ ENTRAR DENTRO DA
ROUPA DELA, CARALHO!! VOCÊ ACHA QUE EU SOU IDIOTA, PORRA?!
_Ah, mano... – eu ri, debochando – ...pára, na boa. Puta nóia!
_CÊ NÃO FICA RINDO AÍ, NÃO! – ele me apontou, nervoso, e as pessoas em volta
começaram a olhar – Cê sabe MUITO BEM o que tava fazendo de errado!
_Você fumou, caralho?! Tá louco?! “O que eu tava fazendo de errado”?! Eu não
fiz nada!! A GENTE SÓ TAVA DANÇANDO, FERNANDO, PELO AMOR DE DEUS!
_SÓ DANÇANDO?! CÊ TAVA QUASE COMENDO A MINA NO MEIO DA PISTA! A MINHA MINA, PORRA!! – se irritou, berrando,
tão embriagado quanto eu – VOCÊ TEM MERDA NA CABEÇA, VELHO?!?!
_EU NÃO TAVA FAZENDO PORRA NENHUMA!
Senti
vontade de ir embora na mesma hora, mas o encarei, baixando a voz – numa tentativa
de acalmar os ânimos.
_Fer, me escuta.
Eu não fiz nada – ele balançou a cabeça, sem acreditar numa só palavra, puto, e
eu pedi – Olha para mim! A gente estava só dançando, eu juro. Cê acha que eu ia
pegar a sua mina? A sua mina, porra?! Na sua frente, mano?! Eu nunca ia fazer
isso, Fer, NUNCA!
_N-não sei... – ele virou para o lado, abaixando a cabeça, e se apoiou de novo
no balcão, respirando fundo – ...por que cê foi lá dançar com ela, caralho?!
_Por que eu não iria dançar com ela?!
– retruquei, indignada, levantando o tom da discussão mais uma vez, nitidamente
bêbada – É ANIVERSÁRIO DELA! Fer, todo mundo tá dançando com a Mia. Todo mundo.
Todas as minas. TODAS. Aliás, aquelas amigas dela... né, vamos concordar? Mano,
até selinho elas ficam dando e cê vem encanar JUSTO COMIGO, PORRA?!?
_Cê acha, meu... aquilo não é nada. Nada! – resmungou, revirando os olhos – Elas
tão de graça, mano... Não significa merda nenhuma!
_AH, E ELAS PODEM?? Elas podem fazer graça e cê não tá nem aí?? É isso?! –
comecei a dar bronca, com a pachorra de ainda me achar a certa na história – ISSO
É UMA PUTA HIPOCRISIA DO CARALHO E VOCÊ SABE!! Porra, Fernando, SÉRIO MESMO?! Cê
vem aí esquentar para cima de mim, que não fiz merda nenhuma, QUE EU SOU SUA
AMIGA, MANO!! – me exaltei – As meninas tavam fazendo mil vezes pior! Eu tava
de boa lá, só dancei duas, três músicas com a Mia...
_Duas ou três músicas COM A MÃO METIDA NAS COXAS DELA, CARALHO!! – tornou a
levantar o tom comigo, bravo – Olha, eu posso te garantir, garantir, que
as amigas da Mia não tavam dançando com ela daquele jeito...
_CLARO QUE TAVAM!! CÊ É CEGO?? – gritei e ele me encarou, puto da vida – CLARO
QUE TAVAM!!
_FODA-SE! NENHUMA DELAS TÁ INTERESSADA NO QUE ELA TEM NO MEIO DAS PERNAS!
_EU TAMBÉM NÃO, PORRA!!! CÊ TÁ LOUCO?? – cheguei mais perto do rosto dele,
revoltada, olhando-o nos olhos – Você está levando isso pro lado pessoal, Fernando...
Sério, porra!! NINGUÉM FEZ NADA! QUAL É O SEU PROBLEMA COMIGO?!?
_MEU PROBLEMA COM VOCÊ É QUE CÊ NÃO TEM LIMITE!
_NÃO TENHO LIMITE, CARALHO?? SEMPRE TIVE O MAIOR RESPEITO PELA SUA MULHER, MEU!
CÊ TÁ ACHANDO O QUE?? PUTA PARANÓIA, MANO! PUTA MERDA, QUE É ISSO?! EU E A MIA
SOMOS AMIGAS!
_NÃO! – ele me cortou – EU E VOCÊ SOMOS AMIGOS, EU E VOCÊ. ENTENDEU, PORRA?! – me
ameaçou – ENTÃO CÊ TOMA MUITO CUIDADO COM O QUE VAI FAZER DAQUI PRA FRENTE!
_Olha, eu não preciso ficar aqui ouvindo essa merda... – peguei minha comanda
no balcão e o encarei uma última vez – ...na boa, vai tomar no meio do seu cu,
Fernando!
Me virei e saí andando, deixando-o falar sozinho.