dezembro 26, 2009

El Infierno

Desci a Augusta, enfrentando todo o caos degradante de sábado à noite. Em direção ao Inferno. Literalmente. Vestia uma calça skinny e uma regata preta com quase todas as tatuagens à mostra. O vento bagunçava ainda mais o meu cabelo, meio curto, repicado na altura da orelha e descolorido de qualquer jeito em casa – do mesmo jeito que eu usava desde que ouvia grunge na garagem dos meus pais.
 
Depois de um dia tão lixo, a minha esperança era de que a minha noite fosse melhor. O problema agora era só ultrapassar os tarados e todos aqueles malditos hipsters que lotavam a calçada rua abaixo. Uns caras nojentos se esbarravam em mim no meio da multidão e eu sentia que podia matar um. Ou trinta. Argh. Homens assim são definitivamente mais insuportáveis bêbados e em bando.
 
Entrei no Inferno e o lugar estava tão cheio quanto o lado de fora. A primeira coisa que vi, evidentemente, foi a Mia – em pé ao lado do Fernando. Ambos estavam encostados no bar. Me aproximei, cumprimentando todo mundo na roda, e tentei não olhar muito para ela. O Fer agia normalmente, discutindo qualquer coisa com o cara ao lado, empolgado, enquanto a Mia ria da conversa deles. Talvez esteja tudo bem, afinal?
 
Tratei de virar uns shots, em um ritmo bem pouco saudável. E logo já estava fritando na pista, dançando completamente chapada. Graças a Deus pelo Inferno. As horas passaram voando e todo o nosso juízo também. Lá pelas tantas da madrugada, vi o Fer acendendo um cigarro disfarçadamente em um canto da balada. Aí, com certa dificuldade, cortei caminho até ele e a Mia.
 
_CÊ VAI SER EXPULSO! – gritei, competindo com o som ridiculamente alto.
_Cala a boca, vou nada... Conheço todo mundo nessa porra! – se gabou, bêbado, e eu revirei os olhos – Quer?!
 
Eu ri e peguei o cigarro da mão dele, tragando duas vezes, o máximo que pude, e então soltei a fumaça para baixo na tentativa de encobrir nosso pequeno delito. Levantei a cabeça de novo e aí olhei para a Mia, encostada ali no canto. Maravilhosa. Do tipo que te desgraça a vida inteira sem nem se esforçar. Desci os olhos por aqueles seus shorts minúsculos rasgados até o seu coturno baixinho, passando centímetro por centímetro da sua perna tatuada. Ah mano, não. Assim não dá. Não dá, porra.
 
_Vem dançar comigo... – pedi, bêbada, colocando minhas mãos em volta da cintura dela – ...vai ficar parada com esse idiota a noite toda?
_Vai se foder! – o Fer me empurrou e riu, colocando o cigarro de novo na boca.
 
Eu o ignorei e olhei para a Mia, argumentando:
 
_Vem... – sorri para ela, insistindo – Vem se divertir um pouco!
 
Eu estava embriagada demais, perto demais. A Mia sorriu de volta, levemente inibida, e negou o pedido. Estava mais quieta do que o normal naquela noite – e eu sabia bem por quê. Mas estava gata pra caralho. Vai se ferrar, garota, você é bonita demais. Fiquei olhando para ela por uns segundos, meio apaixonada, depois de ter sido sutilmente dispensada. E então, puxei o Fer e sugeri que ele fosse dançar com a sua namorada.
 
_Ela tá entediada, meu! – falei, numa tentativa de disfarçar minha falta de inibição alcóolica, e saí.
 
Voltei para a pista, mas ainda troquei alguns olhares com a Mia por uns instantes. Era mais forte do que eu e a bebida juntas – acreditem. A Mia me olhava de volta com aquele jeito impossível de decifrar. E aí eu a olhava muito, muito mais. Qual é a sua, garota? O Fer colocou o seu braço ao redor dela e os dois se beijaram. Então ela sorriu para ele, já distraída. Que se dane. Decidi me distrair também. E foi quando os meus olhos encontraram algo mais interessante para se ocupar. Uma mina chamada Clara – meio argentina, meio boliviana e completamente linda.
 
Ah, é você mesmo...
 
E olha, em minha defesa, eu estava totalmente bêbada. E ela muy interessada. E sabe, também não é como se só eu estivesse com dificuldade de ficar em pé ali – então nós duas nos empurramos, aos trancos e tropeços, contra a parede. Do melhor jeito possível. Caralho. Puxei a Clara para perto e nos beijamos, no maior amasso que o Inferno já viu. Mal conseguindo nos manter em pé. Puta merda, como é bom ser sapatão. O jeito que aquela mina mordia a minha boca e depois me beijava, subindo as mãos pelas minhas costas, era tão surreal que, juro, me fazia querer agradecer de joelhos pela sorte de não ter nascido hétero.
 
É – eu não conseguia mais tirar a boca, nem os olhos da tal da Clara. Até ela bolando um baseado num canto escuro daquela balada era um tesão – a forma como movia os dedos e passava o papel na língua. Bem devagar. Casa comigo, porra, eu a admirava, obsessivamente. E então sorria, a beijando de novo contra a parede suja, sem perceber que outra pessoa também não conseguia tirar os olhos dela. E nem de mim.

dezembro 25, 2009

Sábado à noite, e daí?!

Melhor assim, tentei me convencer.
 
Sentei em frente ao computador e, por algumas horas, procurei me distrair com as mesmas coisas de sempre. Os mesmos sites, as mesmas conversas, as mesmas pessoas. Internet é mesmo uma grande bosta, né? Uma amiga tentava insistentemente me convencer a sair, afinal, segundo ela, era “sábado à noite”. E a possibilidade de eu ficar em casa sozinha parecia um grande absurdo – pelo menos para a Thaís e as pessoas que surgiam indignadas no meu MSN, perguntando o que raios eu estava fazendo online àquela hora.
 
“Contenção de danos”, eu pensava em escrever e logo desistia, achando graça na minha capacidade de fazer merda dada a mínima oportunidade. E quando eu estava prestes a ceder ao convite da minha amiga, o de acompanhá-la numa festa dumas sapatonas da USP, no Butantã, o meu celular tocou. É a Roberta, pensei. E decidi ignorar. O telefone continuou tocando até cair. Na segunda vez que começou, tirei a bunda da cadeira, já levemente irritada, e fui procurá-lo na sala. Lá estava ele, largado no sofá. Mas a tela não indicava mais nenhuma chamada da Roberta e, sim, duas chamadas perdidas do Fernando.
 
Droga.
 
Minha cabeça foi a mil. O que ele quer? Fiquei imediatamente nervosa. Não sabia o que pensar. Meu pessimismo incorrigível chegou à conclusão de que ele provavelmente tinha se embebedado e já estava disposto a me xingar pelo telefone. E nisso, o meu celular começou a chamar de novo. Era ele, mais uma vez. Merda. Atendo ou não atendo? Comecei a andar de um lado pro outro, aflita, enquanto o celular gritava na minha mão. Sem saber o que fazer. Merda, merda, merda. Mil vezes merda. Não posso atender. Não posso. Seja lá o que ele fosse falar, eu não queria ouvir. Para de tocar, por favor. Mas que merda. Para de tocar, para de tocar... Para... Argh. Mas que droga!
 
_A-alô?
_PORRA, MANO! Cê tava dormindo?!
_Não! Quer dizer... M-mais ou menos – me enrolei, um pouco nervosa – Quase. Eu tava aqui na... Na, na sala. Digo, na Roberta! Eu tô na casa da Roberta, na sala dela. Tava quase dormindo aqui no, n-no sofá. Sabe como é... E-eu vim... ficar com ela e...
_Cê tá bem, meu? – estranhou.
_Claro! – forcei um tom indignado – Por quê?
 
Ele riu, me chamando de doida. E perguntou se eu não queria encontrá-lo na balada, umas quadras para baixo da nossa casa, na Rua Augusta. Como é que é? E precisa ligar três vezes pra isso, seu estúpido? O meu coração quase infartado começou finalmente a se acalmar. Estava quase recusando, o que talvez fosse a decisão mais sensata do dia inteiro, quando o Fer mencionou que estava lá com alguns dos nossos amigos – e claro, a Mia. Aceitei na mesma hora. É, ignorando qualquer instinto de autopreservação.
 
_Massa. Tamo no Inferno, cola aí! – ele respondeu.
 
Que apropriado.

Maldito silêncio

Tentei virar aquela chave um milhão de vezes, mas algo me impedia.
 
Tinha medo do que encontraria do outro lado. Imaginando que daria de cara com o meu melhor amigo e estimado colega de apartamento, me esperando no meio da nossa sala, puto da vida, depois de descobrir que eu havia chegado perto o suficiente para beijar a namorada dele caso eu quisesse. E eu queria.
 
Agora me via parada ali, no corredor, antecipando mentalmente cada insulto que ele cuspiria na minha direção. Sem conseguir abrir a maldita porta. A Roberta já tinha deixado dois recados na minha caixa postal e o meu celular registrava inúmeras ligações perdidas. Todas dela. Caralho. Só faço merda. Quando finalmente criei coragem, abri a porta e...
 
Nada.
 
Estranho. Entrei silenciosamente pelo escuro e, como ninguém se manifestou, acendi as luzes – o apartamento estava vazio. Sem ninguém. Sem nada. Sem reações ciumentas explosivas, sem reprovação, sem nenhuma conclusão para todo aquele rolo que eu havia começado naquela manhã. Sem porra nenhuma. Sem desfecho ou indícios do quanto havia sido falado entre aquelas quatro paredes na minha ausência. Um grande nada.
 
Ah, isso era bem pior.
 
Parte de mim, quase preferia a treta. Onde diabos eles se enfiaram? Andei pelo corredor até o quarto do Fer e a porta estava aberta. Entrei por um instante para constatar se realmente não havia ninguém ali. Os lençóis estavam desarrumados – argh. Como eu odiava aquilo. Odiava as coisas que passavam pela minha cabeça quando via a cama dele bagunçada depois da Mia ter estado lá. Sentia o meu coração rasgar, ficava inquieta, me incomodava. Sem direito nenhum, é, mas acontecia.
 
A minha ansiedade foi tomando conta de mim. Eu queria saber. Queria ter certeza do quanto o Fer sabia. Queria olhar nos olhos da Mia e ver se tinha feito alguma besteira irreparável. Ou se todo aquele surto era resultado da minha própria paranoia. Queria alguém ali. Queria alguma certeza. Qualquer uma – mas não tinha nada.
 
Só essa droga de silêncio.

dezembro 19, 2009

Indesculpável

_Nossa, isso foi intenso – suspirou a Roberta, enquanto eu retomava o fôlego – Cê não costuma ser tão... Ahm...
 
Babaca? Egoísta?
 
_...sei lá. Tão “intensa” – ela riu, se repetindo, sem achar outra palavra.
_Hum... – hesitei, olhando para ela do meu lado – Foi bom.
 
Sorri rapidamente de volta, sem conseguir disfarçar bem. A verdade é que aquilo não tinha adiantado de nada. Porra nenhuma. Eu tentei, tentei mesmo, tentei ao máximo tirar a Mia da minha cabeça. Tentei por horas seguidas arrancá-la, à força, de dentro de mim. À exaustão – mas ela simplesmente não foi embora. Encostada contra a parede da cozinha horas antes, me encarando com a respiração acelerada. Inferno. Alheia ao meu tormento, a Roberta se sentou no colchão e alcançou o dichavador que estava no chão do quarto, perto da cama.
 
_Ei... – me olhou de canto de olho e brincou, enquanto bolava um baseado – Até que a gente não é nada mal juntas, né?
_É – forcei outro meio sorriso, ainda com a cabeça cheia.
_Hum. E quando você vai me fazer sua namorada?
_Talvez você mesma devesse fazer isso...
_É, e-eu tento... – ela se constrangeu – ...caso ainda não tenha percebido.
 
Merda.
 
A Roberta desviou o olhar, aborrecida. Por aquela minha atitude de quem não tem nada a ver com o assunto. E eu me senti péssima, deitada ali na sua cama, sem sequer conseguir a dignar com uma resposta melhor. O que diabos eu tô fazendo?, esfreguei a mão no rosto, arrependida. Talvez eu devesse ter percebido mesmo, talvez eu devesse ter me importado mais. Mas que merda. É. E talvez não fôssemos só duas pessoas que se ligam para transar. No fim das contas, fingir amor com boas intenções é mais íntegro do que ser sinceramente filha-da-puta?
 
Não importa. A verdade é que eu tinha que aprender a deixar as pessoas em paz. Longe da minha confusão. Beijei-a carinhosamente no rosto. E suspirei, em silêncio, não é de você que eu gosto, garota. Senti o meu amor por outra entalado na garganta. E deitei de novo no travesseiro, encarando o teto. Mas, de repente, não conseguia mais ficar ao seu lado. Eu tinha feito tudo errado. Tudo aquilo – cada movimento, cada palavra. E a culpa era inteira minha. Droga.
 
_Desculpa. E-eu... – me inquietei subitamente, frustrada – Isso tá errado, eu tô errada. Eu tô errada pra caralho! – levantei da cama, angustiada, já colocando a cueca de volta – Eu não devia ter vindo aqui hoje. E-eu... me desculpa, Rô.

Medidas drásticas

40 minutos e 3 refrigerantes e 2 sanduíches e muitos cigarros e risadas depois e nós estávamos de novo no apartamento. A fome da Roberta foi embora, levando junto alguns dos meus poucos reais restantes, que gastei num novo maço no caminho de volta. Mas finalmente, sim, de volta.
 
O apartamento dela quase não tinha móveis. Numa pegada meio industrial, minimalista. Eu observava a Roberta dançando distraída de calcinha pela sala, lentamente. PJ Harvey, "Beautiful Feeling". A música pesada, de alguma forma, se misturava com a sua personalidade. As cortinas escureciam todo o cômodo, mas eu conseguia vê-la, de costas para mim, movendo-se de um lado para o outro. Com os pés descalços soltos no chão. Ela tinha uma linha reta tatuada no meio do indicador, que subia por todo o braço e até a nuca. Outra vinha do seu calcanhar até o meio da coxa. Ela se virou e sorriu para mim, de longe. Puta que pariu, pensei, eu podia me apaixonar por você, garota. E por um instante, me esqueci do que me levara até a casa dela mais cedo naquele dia. Me esqueci dos motivos, do meu único motivo. Me esqueci dela.
 
A Mia.
 
E assim, do nada, ela voltou. Por que eu fui pensar nisso, porra?! Mia. Mia. Mia – argh. De repente, a desgraçada tomou conta de todos os meus pensamentos. De novo e de novo. Contra a minha vontade. Você tá estragando isso, que inferno, me irritei. E ela estava. A Mia estragava a Roberta, estragava tudo. E sabe, se a namorada hétero do seu amigo é capaz de arruinar uma garota tatuada dessas dançando sem roupa numa sala vazia, meu bem, você tá perdida. E eu já era. Droga.
 
Larguei o cigarro, incomodada, e me levantei do sofá. Vamos lá. Eu consigo fazer isso. Fui até o meio da sala e segurei a Roberta com todas as minhas melhores intenções. As suas mãos subiram a camiseta pelas minhas costas. Mordi seu queixo e subi a minha boca até a sua. No entanto, quanto mais eu a beijava, mais a Mia invadia a minha cabeça. Os meus dedos seguravam a Roberta com vontade e apertavam a sua pele, numa tentativa de que a porra da Mia desaparecesse. Eu queria que ela desaparecesse. Que sumisse de todas as extensões do meu corpo. E do meu coração – sobretudo do coração.
 
Mas não. Nada. Ela continuava lá. Em mim. Insistentemente. Mia. Mia. Mia. Mia. Mia. Argh. Senti minhas emoções se descontrolarem, aquilo estava me dominando – mas resisti.
 
Eu vou fazer você sumir, porra.

dezembro 18, 2009

Roberta

Desembarcamos, eu e as minhas más intenções, numa ruazinha inclinada de Perdizes. Apto 42. Roberta. Esse era o nome da garota que eu estava prestes a sacanear por motivos totalmente egoístas. A mesma que provavelmente me chutaria de volta para Baixo Augusta caso descobrisse que alguma vez a imaginei como uma vítima indefesa da minha própria falta de integridade – que era exatamente o que eu estava pensando, parada em frente ao interfone do seu prédio.
 
Quarto andar e nem um fucking elevador. Como eu odeio esses prédinhos namastê de Perdizes. Muitos degraus depois e a Roberta abriu a porta. Encostou no batente como se já me esperasse há algum tempo e eu sorri. Um sorriso sincero, feliz de revê-la. A Rô tinha aquele jeito dyke de ser, cabelo curtinho descolorido e uns braços fortes. Irresistível. Com o tempo, tínhamos desenvolvido certa cumplicidade uma com a outra, mas algo me impedia de estar realmente com ela – minha falta de maturidade, provavelmente.
 
Ela tinha crescido no interior de São Paulo. Foi uma dessas adolescentes meio pós-punk que ouvem EBM, vêm para a capital e aí entram na cena hardcore eletrônica. Sabe? Uns anos depois, caiu nuns sons experimentais depressivos – não sei bem explicar. Mas eu gostava. Gostava de tudo nela. E o sexo era de fazer qualquer uma agarrar os lençóis até rasgar. Também gostava de pensar que era para isso que nos ligávamos, de tempos em tempos, ainda que provavelmente essa fosse só a minha perspectiva. E não a dela.
 
_Então quer dizer que você ainda tá viva? – ela perguntou de braços cruzados, rindo, ainda encostada no batente.
_É... E-eu andei meio ocupada, sabe como é. Puta correria no trampo.
 
Mentira. Ela levantou a sobrancelha como se não acreditasse em mim, ainda rindo, e em resposta eu a beijei contra o batente. Meu deus, me afundei no seu gosto, como eu precisava disso. Tem umas bocas que simplesmente se encaixam, não é? É. E é viciante. Ela me puxou na sua direção e eu sorri, assim que o beijo terminou.
 
_E aí, posso entrar? – perguntei, fazendo graça; e como se já soubesse a resposta, fui me dirigindo para dentro do apartamento.
_Na verdade... – a Roberta me segurou, tirando as chaves do bolso – Eu tava saindo agora mesmo pra almoçar. Vamos?
 
Espera. Quê?, fiquei parada olhando para ela.
 
Não. Não, não. Não! Não, a encarei sem reação, pega de surpresa. Você não tá entendendo, gata, eu preciso de horas intermináveis de sexo lésbico da mais baixa categoria. Sujo. Sujo mesmo. E preciso agora! Lembra da vez que você apareceu de madrugada na minha casa sem avisar, interrompeu um encontro meu e a gente se comeu na escada do prédio, às escondidas? Pois eu preciso disso. Pior do que isso. Cem vezes isso. O mais sujo de nós duas juntas, eu preciso atingir novos níveis de inconsequência. Trepar até esquecer a porra do meu nome, entende?
 
_Tá. Mas primeiro... – a encostei de volta contra o batente da porta, sem me dar por vencida – ...p-primeiro, vamos só lá dentro um pouquinho, vai? Aí a gente decide direito o que vai comer...
 
Cafona, eu sei. Mas a Roberta riu e colocou os braços ao meu redor, de novo. E nos beijamos demoradamente. Nuns beijos assim, gostosos, desses que te fodem a cabeça. Eu estava pronta para tirar a roupa ali mesmo. Danem-se os vizinhos e os bons modos, a porra toda. Estava desesperada por qualquer coisa que me ocupasse a boca as mãos a mente o corpo o coração. Mas enquanto eu descia pelo seu pescoço, deslizando os lábios pela sua pele na maior sacanagem, a Roberta se aproximou do meu ouvido e respondeu:
 
_Hum. Eu tô morrendo de fome... – sussurrou bem lentamente e aí me olhou, mais séria, segurando o riso – É sério. Eu tô mesmo morrendo de fome. Vamos?!
 
Filha da puta. Aquilo era vingança. Eu podia ver ela se divertindo com a situação e achando graça na minha nítida cara de frustração. Isso porque, dez minutos antes, eu estava plantada em frente ao seu prédio imaginando-a como uma vítima indefesa da minha arrogância. Pois é. Agora eu que era arrastada para um almoço totalmente inoportuno, a três quadras dali, com fogo nas calças e a cara mais emburrada do mundo. Isso não tá acontecendo, comecei a rir, indignada.
 
Que ironia.

dezembro 15, 2009

Merda, merda

Não sabia por que estava tão irritada, de repente, mas sentia que havia feito uma besteira muito grande. Acendi um cigarro e tentei não me preocupar. Em vão. A minha cabeça estava cheia de pensamentos sobre a porra da Mia e como tínhamos ficado próximas nos últimos meses. E como pude interpretar as coisas de forma tão equivocada. Mas... Estou tão errada assim? Nunca tinha me enganado antes, não desse jeito. O que porra a Mia tinha que me confundia tanto?
 
Não interessa, me forcei a esquecer aquilo e meti os fones no ouvido. Chega. Não importava se eu estava certa ou errada sobre ela, era uma péssima ideia. Péssima. Eu sabia que não podia dar em cima da mina que namorava o Fernando – o que me perturbava era o quanto eu não conseguia evitar. Liguei a primeira música que surgiu e desci a rua impaciente, nervosa, judiando dos meus lábios, que eu mordia compulsivamente entre uma tragada e outra do cigarro. Estou exagerando, pensei, tentando me acalmar, é só uma garota. Não foi nada. Vai passar.
 
“Só uma garota” – argh.
 
Por que diabos eu tinha que gostar dela assim? Inferno. Ah, Mia. Mia. Mia. Mia. Mia. Era tudo o que vinha na minha cabeça enquanto eu descia a Frei Caneca. Ela namora, eu insistia mentalmente, com meu melhor amigo, cacete. Mas quanto mais eu tentava não pensar em mulher nenhuma, mais a minha cabeça se enchia com cada pedacinho da droga da Mia – a forma como sua boca movia quando ela falava ou como deitava ao meu lado na cama, descascando o esmalte preto das unhas enquanto a gente ouvia música juntas; o jeito como as suas pernas esbarravam nas minhas, as suas mãos e o seu sorriso e o seu cheiro e o jeito como o seu cabelo escorregava pelo seu ombro quando ela se abaixava, tudo. Tudo naquela porra de garota. “And I want you now! I want you nooow!”, o Muse gritava no meu iPod, piorando ainda mais a angústia no meu coração, “I feel my heart implooode!”. Eu estava prestes a enlouquecer.
 
Parei de repente de andar e respirei fundo, tirando os fones do ouvido. Estava em uma esquina e a senhora ao meu lado me olhava esquisito, como se eu fosse uma descontrolada. Ótimo, revirei os olhos, tô assustando velhinhas agora. Olhei em volta e vi que havia descido mais do que imaginava, já quase no buraco sujo da Rua Augusta que segue o final da Frei Caneca. O sol indicava impiedosamente que já passava de meio dia.
 
Merda. Vou ter que subir tudo de novo nesse calor insuportável.
 
O pessimismo e um desânimo preguiçoso – resultante da minha vida como uma paulistana sedentária, cujo esforço físico se limitava a levantar copo de cerveja e foder em banheiro de balada – afastaram meus pensamentos inapropriados por um instante. Mas eles logo voltaram, empurrando mais um cigarro para dentro da minha boca. Preciso esquecer ela, concluí. E precisava esquecer naquele segundo. Analisei rapidamente as minhas opções, peguei o celular e, após minha segunda ligação, subi no primeiro táxi que parou.
 
_Perdizes, por favor.
 
Eu não tinha dinheiro para aquilo. Digo, não para o que eu estava prestes a cometer – uma fuga desnecessária e custosa para o apartamento de um casinho meu que não tinha culpa de nada naquela história. E a quem eu provavelmente ia acabar machucando. É. Eu poderia pensar em um milhão de maneiras de gastar melhor o meu restrito dinheirinho do que naquele táxi – mas se enrolar nas pernas de uma garota era a melhor forma de tirar a boca e todo o resto de outra da minha cabeça. Foda-se, contestou o meu ego ferido, é uma emergência.
 
Perdizes, baby, aqui vou eu.

dezembro 14, 2009

80's kids

_Mas espera, quantos anos cê tem mesmo?
_23 – respondi.
_Ai, como você é ridícula... aí falando que “na sua época”, mano, se toca!
_Quê?!
_São três a mais que eu. Três! E daqui uns meses, só dois...
 
Tá bom, gata, quando chegar em dois a gente dá uns beijos pra comemorar.
 
_Que foi? – indagou, como se eu risse dela.
_Nada, deixa pra lá...
 
A Mia continuou me olhando, insatisfeita com a resposta. Uns minutos antes, a conversa tinha ido parar nas tranqueiras que comíamos na infância e eu a provocava deliberadamente, falando dos comerciais que passavam na TV como se ela não tivesse idade para ter visto nenhum deles. Agora ela me encarava, contrariada.
 
_Cê acha que eu nasci nos anos 2000, né? Eu sou de 89!
_Desculpa aê, gente grande, mas semana passada você me perguntou que música era a...
_EU JÁ DISSE QUE CONHECIA, SÓ NÃO SABIA O NOME!
_Era Blondie. BLONDIE! Quem não conhece Blondie?
_Eu conheço Blondie. Eu só não sab...
_É a coisa mais pop dos anos 80! – interrompi, rindo.
_Não é a coisa mais pop dos anos 80...
_É a coisa mais pop que eu ouço dos anos 80.
 
A Mia revirou os olhos, achando graça na minha atitude.
 
_Você deve me achar uma pirralha...
_Acho – respondi e levantei da mesa, rindo.
_Babaca.
 
Caminhei até a pia e abri a torneira, jogando água sobre o prato. Olhei por cima do meu ombro e vi a Mia ainda sentada em cima da mesa, indignada, me encarando de volta. Achei graça.
 
_Olha... – pisquei na sua direção, a provocando – Mas até que eu gosto dumas novinhas assim, que nem você.
 
“Cala a boca! Novinha o caralho!”, ela protestou, rindo. Terminei de lavar o prato e sequei a mão na lateral das coxas – meio na minha camiseta, meio molhando as minhas pernas. Então agachei para pegar o filtro de café sob a pia e me levantei, em seguida, procurando qualquer coisa limpa no escorredor onde eu pudesse ferver água. A Mia me observava, em toda a minha caminhoneirice, a uns metros dali.
 
_Ô. É bonita essa sua cuequinha aí, hein... – comentou.
 
Olhei para baixo para lembrar o que estava vestindo e aí balancei a cabeça, rindo.
 
_É assim? Um xaveco meu e você já é sapatão?
_Ah, nossa, aquilo foi um xaveco?!
_Poderia ser...
 
E ela revirou os olhos mais uma vez, negando com a cabeça.
 
_Triste, hein?! Essa é a sua melhor cantada?
 
Não, a respondi em pensamento. E a Mia pulou em pé no chão, pegando o meu maço sobre a mesa. A observei, conforme ela acendia um cigarro do outro lado da cozinha. Ao fundo, ainda podia ouvir a TV ligada na sala. Ela fechou os olhos por um instante, dando a primeira tragada, e depois os reabriu, me olhando de volta por trás da fumaça. Assim – encostada na parede de ladrilho, quase me desafiando. E o clima mudou. Apoiada contra a pia, observei as suas pernas naquele vestido, numa vontade desgraçada de entrar ali. A Mia me encarava de volta. E o silêncio parecia transformar toda estática do ar em tensão entre nós.
 
Por um segundo, senti uma abertura. Por uma porra de segundo. Então desencostei da pia e andei na sua direção, apoiando a mão por cima do seu ombro, até chegar bem perto, quase a prendendo contra a parede. Os seus olhos se fixaram nos meus. E de repente, já não parecia mais tão brincadeira assim. Eu estava confortável, a encarava de volta – mas podia sentir a sua respiração ficando mais intensa. Que vontade de te dar um beijo, garota. Puta merda. O meu corpo estava quase encostando no seu. Podia sentir o ar sair do seu peito, inquieto, até a sua boca entreaberta. Ali, atenta a cada movimento meu.
 
_O dia que eu der em cima de você, Mia – falei baixinho para ela – Você vai saber.
 
Ela não se moveu, nem um milímetro mais. Não piscou, sequer respirou. Céus, tô dando em cima da namorada do meu melhor amigo. Qual é meu problema?, achei certa graça. E meio sem jeito, após intermináveis segundos de silêncio, a Mia forçou um sorriso. Passei a mão na sua cabeça, bagunçando propositalmente o seu cabelo, como se indicasse que estava só brincando. Não estava. Mas, né – que opção eu tenho?
 
_Ei, quer ver TV? – mudei rapidamente de assunto e dei uns passos até a porta da cozinha, como se nada estivesse acontecendo.
_Não, e-eu... – ela murmurou, um tanto confusa – ...acho q-que, que vou para o quarto esperar o... o Fê chegar.
 
Não me virei para ouvir a sua resposta, apenas continuei até a sala e religuei a TV. Instantes depois, a Mia passou pelo corredor atrás de mim e entrou no banheiro, fechando a porta. Merda. Deitei no sofá e passei a mão no rosto, me forçando a cair na real. Merda. Merda. Merda. Decidi ignorar minha vontade de desaparecer e afundei o corpo numa almofada. Olhei para a televisão e ela continuava na droga da TV Jockey. Inferno. Me arrependi de ter feito falado sonhado insinuado qualquer coisa para a Mia.
 
Agora ela estava lá, trancada no banheiro, pensando sabe-se-lá o quê de mim. Argh. Preciso me controlar, repeti para mim mesma, me sentindo uma idiota. Olha o que você tá fazendo, porra. Isso vai dar ruim. Muito ruim. Olhei novamente para a TV e as malditas corridas de cavalo continuavam lá. Aquilo me irritou profundamente e, num impulso, eu desliguei a televisão. Preciso sair daqui. Subitamente impaciente. Coloquei a calça que estava largada no chão, peguei dinheiro, o iPod, o maço e fui para rua. Puta comigo mesma.

dezembro 13, 2009

Muffins e cavalos

Era sábado, quase onze da manhã. O Fernando saiu para tirar a segunda via de um dos seus documentos – que tinha perdido na madrugada anterior, enchendo a cara comigo. Enquanto isso, eu morria deitada só de camiseta na sala, deliberadamente me torturando com os meus próprios pensamentos. O calor parecia impregnar todo o nosso pequeno apartamento, vencendo a luta contra um ventilador velho de chão que girava lentamente e ia empurrando o ar quente.
 
Passou algum tempo, não sei bem quanto, até que a Mia saiu do quarto no fim do corredor e apareceu detrás do sofá. Arrastou os pés até ali, nitidamente de ressaca, usando o mesmo vestido da noite anterior – o tecido tão amassado quanto seu cabelo. Estava sem os alargadores nas orelhas e com olheiras enormes sob os olhos. Os esfregou com as costas das mãos, como quem acaba de acordar, e então olhou para frente.
 
_Mano – ela riu, levemente indignada – O que diabos cê tá assistindo? 
 
Olhei para a televisão e vi um monte de cavalos correndo com uns homenzinhos montados em cima. Mas que porra é...?
 
_Nossa – estranhei – Não sei. Quer dizer, à TV Jockey aparentemente...
_Cê não tava vendo, meu? 
_Não... t-tava brisando aqui.
_Ah, é? – ela passou as pernas tatuadas por cima do sofá e sentou ao lado dos meus pés, curiosa – Sobre o quê?
 
Sobre você, pensei.
 
E lá estava aquele olhar de novo. Desgraça. É – era realmente patético. Acho que não ficava tão idiota por alguém desde quando, sei lá, eu ainda levava lancheira para a escola e tinha uma queda mal resolvida pela minha amiguinha de sala. Lá na 3ª série B. Agora, em pleno 2010, ali estava eu, me segurando para não me declarar para ela com um bilhetinho tosco escrito a lápis.
 
O que você quer de mim, garota?
 
A Mia me observava, à espera da resposta. Com aqueles olhos castanhos gigantes. Cacete, como ela era linda. Só o jeito como ela sentava ao meu lado no sofá, com as pernas cruzadas em cima da almofada e aquele sorriso maldito no rosto, já era suficiente para me deixar desconfortável. Ali, a poucos centímetros daquela encrenca toda que eu definitivamente não devia comprar, puta que pariu. Nada de tão bom pode ser hétero. Não dá. A heterossexualidade é sempre meio brega e a Mia... A Mia ainda me olhava. E o silêncio entre nós começou a crescer, incômodo.
 
_Ah, nada demais... – desconversei, antes que o clima ficasse estranho – ...tava, sei lá, pensando na vida.
 
Mentira.
 
_Hum... sei.
 
Ela riu e eu levantei um pouco o corpo, me apoiando nos cotovelos. Olhei na sua direção, a admirando por um instante, apaixonada. A Mia tinha uns ares de porralouca – era uma dessas garotas que, com treze ou catorze, já se trancavam no quarto ouvindo riot grrrls e se tatuavam com isqueiro, agulha e tinta de caneta. Bem o tipo de garota que eu costumava pegar escondido no banheiro da escola. O problema é que, naquela época, a Mia não se ocupava pegando garotas como eu – ela tinha passado a adolescência toda em estacionamentos de supermercado, enchendo a cara de vinho barato e se agarrando com caras como o Fer. Argh.
 
Agora suas tatuagens caseiras tinham sido substituídas pelas de estúdio. Minhas favoritas eram umas flores de cerejeira que desciam do seu ombro pelas suas costas e acompanhavam as suas curvas até o alto da sua coxa. Eram bonitas. Observei os traços na sua pele, conforme se escondiam sob o seu vestido, meio distraída, e ela pareceu se constranger. Então dei um sorriso amarelo e mudei bruscamente de assunto, perguntando se ela não queria alguma coisa da cozinha. Ia pegar algo para comer.
 
_Não, mas te acompanho – ela respondeu – Acho que o Fê ainda vai demorar...
_Ah, certeza. Esse Poupa Tempo aí é na puta que pariu e não poupa porra de tempo nenhum...
 
Ela concordou, revirando os olhos como se já tivesse passado por isso. Fomos até a geladeira e eu peguei um pedaço de lasanha que tinha sobrado do jantar. Acendi uma das bocas do fogão com o meu isqueiro e joguei aquele resto de comida numa frigideira. A Mia observava todo o processo, recriminando a minha estratégia:
 
_Cê vai mesmo esquentar isso assim?
_Quê?! Que tem? – respondi, rindo da cara de horror dela, e acendi um cigarro com o mesmo isqueiro – Ah, meu... Puta preguiça de pôr no forno. Demora muito!
 
A Mia deu com as mãos para cima, como quem não ia mais dar pitaco, e eu me virei para o fogão. Fresca. A família dela era dessas bem burguesas – ao contrário da filha desvirtuada. E o seu irmão, além de tudo, trabalhava como chef em um restaurante da Lapa. Podia sentir, portanto, certo julgamento pairando no ar. Ainda que a Mia fosse, notoriamente, bem pior do que eu na cozinha. Coloquei uma tampa consideravelmente maior do que a frigideira por cima, para aprisionar o calor, e encostei na pia para fumar.
 
A Mia se sentou na mesa. E digo, literalmente em cima da mesa – apoiou os pés numa das cadeiras e a barra do vestido desceu pelas suas pernas. Aos pouquinhos, é, como se tudo no mundo existisse só para me torturar. Cacete. Imediatamente cansei de esperar ali, desconfortável. Que se foda, apaguei o cigarro na bancada e tirei a lasanha daquele jeito mesmo da frigideira. Ainda fria por dentro.
 
_Parece horrível isso aí, mano! – a Mia riu, assim que me sentei na mesa.
 
Coloquei uma garfada na boca, fazendo graça, como se a desafiasse, e mastiguei aquela inhaca mal requentada. Credo, tá horrível mesmo, pensei, ainda que jamais fosse admitir a verdade.
 
_Meu, ninguém come comida boa todo dia... – argumentei então, entre uma mastigada trágica e outra – Refeições industrializadas foram cientificamente projetadas para serem mais gostosas.
_Tá. Mas essa sua aí é realmente triste... – a Mia riu.
 
“Ah, vá!”, resmunguei de boca cheia, “falou a que desce às 4 da manhã pra ir comer salgado de procedência duvidosa no boteco aí da esquina toda vez que damos festa no apartamento. É ou num é, mano? E agora vem achar ruim o meu ranguinho honesto!”. Meti mais uma garfada para dentro, aí eu e ela nos olhamos e rimos. Iniciamos então um papo sobre as melhores laricas para se comer chapada de madrugada. Me peguei olhando para a Mia, de tempos em tempos, fascinada, enquanto a ouvia falar sobre sucrilhos com requeijão e muffins recheados com batata palha.
 
É. Isso não vai acabar bem.

dezembro 12, 2009

Me chama de louca, mas...

Quanto mais tento me convencer de que é só coisa da minha cabeça, mais pareço notar sinais de uma verdade não revelada. Não, não pode ser. Ela, ela tem aquela vontade retida no olhar, aquela... ahm, fome. Sabe? Que outras minas não têm, porra. Garotas como ela não me olham assim, elas me veem com indiferença – eu simplesmente não tenho nada a lhes oferecer. Mas a Mia, não. Os olhos dela são interessados, interessados demais. Só que não me provocam, não me dizem nada. E é isso que não faz sentido.
 
A dúvida vai me enlouquecer.