Sim – arrumamos um colchão no chão, mas ainda
assim a Marina deitou na cama comigo. Por horas, conversamos sobre o que ela
estava vivendo com a Vivian. Tinha passado o fim de semana na casa dela e chegou
na minha sem conseguir parar de sorrir. Vê-la tão bem assim me fazia feliz. “Cê
tem que trazer ela aqui um dia”, murmurei, checando as horas no visor do
celular, “pra eu conhecer a tão famosa”. Ela acenou com a cabeça e eu sorri, largando
o telefone sobre a mesinha de cabeceira, ao lado dos seus óculos dobrados.
Então a minha mente divagou. Uns minutos antes, eu tinha levantado
para pegar um copo d’água na cozinha. E ir até lá sozinha me induziu a uma bad
incômoda, sentindo a ausência silenciosa do Fer ecoar pelo apartamento
vazio, estupidamente. Agora as mãos da minha ex abraçavam a minha barriga – e era
reconfortante tê-la ali comigo.
_Foi... foi tão estranho, Má... – suspirei, afundada no
travesseiro – ...deixar o Fer na casa dos pais dele hoje. E vir pra cá.
_Eu imagino.
_É diferente, não sei... – lamentei – ...toda lembrança que eu tenho, aqui ou quando morava em Santo Amaro, de qualquer merda que fiz na minha vida, meu, ele tava sempre comigo. No quarto do lado ou na rua debaixo. E agora eu tenho que pegar uma porra de um ônibus que leva quarenta minutos para ver o Fer. O Fer, mano! Não dá, é bizarro.
_Mas cês ainda vão se ver, linda... – ela me olhou e sorriu, com a cabeça ainda apoiada no meu ombro – Só vai ser estranho agora, mas amanhã cê vai se sentir melhor. E logo vocês dois vão se acostumar, até conseguirem mudar a situação pra algo que funcione melhor.
_É. Sei lá...
Eu gostava de ouvi-la falar. A Marina tinha os seus jeitos
delicados, pacientes de me escutar e de me dar os seus conselhos. Apertando os
braços ao redor de mim. A tristeza, todavia, perdurava em meus pulmões.
_Mas ainda... me sinto mal, não sei. Eu podia ter feito tanta
coisa diferente, Má. E-eu... – senti minha garganta apertar – ...só fiz merda
atrás de merda. E não é justo que ele tenha que passar por esse lixo, que seja ele
quem tem que sair, porra. Eu é que devia tá me fodendo!
_Flor, não fala assim! – me repreendeu – Eu sei o quanto você ama o Fer e o quanto você tentou ajudar ele, você fez tudo o que podia esses meses todos. É uma situação complicada...
_É. Mas...
Ia retrucar, mas me calei, me sentindo culpada demais.
_”Mas” o quê?
_Nada.
_Linda? – a Marina insistiu – O que aconteceu?!
_E-eu... – respirei fundo – ...meio que... f-fiquei com a Mia de novo, ontem.
_Com a Mia? ONTEM???
A Marina se levantou, indignada, se sentando ao meu lado no
colchão. E aí me encarou, descrente. Inferno. “Foi sem pensar”, murmurei,
na mesma hora. Então ela me pediu os seus óculos e eu os alcancei na mesa, lhe
entregando. Suspirei fundo. Aí a Marina os colocou, como se precisasse olhar
direito na minha cara de pau – e eu quis afundar no colchão, sumir dali.
_Eu sei, eu sei – adiantei a bronca – Não precisa falar, tá...
_Na boa, eu não sei como você consegue.
_A, a Mia que veio pra cima, meu! – me justifiquei, já sabendo que estava errada – E e-eu... eu gosto dela, porra, você sabe que, que eu... não sei. Não sei! Tá? A, a gente tinha bebido e... – passei a mão no rosto, frustrada – ...não foi planejado, a g-gente... Argh!
_Mas, e a Clara?
_Não é assim, Má, isso não vai mudar nada. Ontem foi, f-foi um erro... – garanti – ...é, é isso. Eu tô com a Clá.
_Hum. Foi isso que você disse da última vez, não foi?
Merda, tá.
_Olha, mas eu tô mesmo apaixonada pela Clara, a gent...
_E você não acha que ela tem direito de saber? – a Marina me interrompeu, me fitando os olhos, apreensiva – Hein?!
_Acho. Mas é que e-ela, ela não entenderia... – senti o meu coração doer – ...quer dizer, ela... diz que sim, mas eu sei que não. Nem a pau! Não a Mia. E eu não quero foder as coisas entre a gente. Não por uma noite, não por isso. Eu sei o que parece, mas você tem que acreditar em mim, Má. Eu amo mesmo a Clá, é com ela que eu quero ficar. É só que... – balancei a cabeça, confusa – ...às vezes, com a Mia, e-eu... não sei, eu não consigo evitar. Eu amei ela por, por tanto tempo e, e me fode demais a cabeça.
_Eu acredito, linda. Só acho que você não pode continuar assim, querendo as duas coisas... – argumentou – ...ou alguém vai se machucar.
Eu sei, caralho.
_E-eu... – hesitei – ...tô com a Clara. É, é isso.
_Espero que saiba o que vai fazer, flor...
_Eu imagino.
_É diferente, não sei... – lamentei – ...toda lembrança que eu tenho, aqui ou quando morava em Santo Amaro, de qualquer merda que fiz na minha vida, meu, ele tava sempre comigo. No quarto do lado ou na rua debaixo. E agora eu tenho que pegar uma porra de um ônibus que leva quarenta minutos para ver o Fer. O Fer, mano! Não dá, é bizarro.
_Mas cês ainda vão se ver, linda... – ela me olhou e sorriu, com a cabeça ainda apoiada no meu ombro – Só vai ser estranho agora, mas amanhã cê vai se sentir melhor. E logo vocês dois vão se acostumar, até conseguirem mudar a situação pra algo que funcione melhor.
_É. Sei lá...
_Flor, não fala assim! – me repreendeu – Eu sei o quanto você ama o Fer e o quanto você tentou ajudar ele, você fez tudo o que podia esses meses todos. É uma situação complicada...
_É. Mas...
_Nada.
_Linda? – a Marina insistiu – O que aconteceu?!
_E-eu... – respirei fundo – ...meio que... f-fiquei com a Mia de novo, ontem.
_Com a Mia? ONTEM???
_Na boa, eu não sei como você consegue.
_A, a Mia que veio pra cima, meu! – me justifiquei, já sabendo que estava errada – E e-eu... eu gosto dela, porra, você sabe que, que eu... não sei. Não sei! Tá? A, a gente tinha bebido e... – passei a mão no rosto, frustrada – ...não foi planejado, a g-gente... Argh!
_Mas, e a Clara?
_Não é assim, Má, isso não vai mudar nada. Ontem foi, f-foi um erro... – garanti – ...é, é isso. Eu tô com a Clá.
_Hum. Foi isso que você disse da última vez, não foi?
_E você não acha que ela tem direito de saber? – a Marina me interrompeu, me fitando os olhos, apreensiva – Hein?!
_Acho. Mas é que e-ela, ela não entenderia... – senti o meu coração doer – ...quer dizer, ela... diz que sim, mas eu sei que não. Nem a pau! Não a Mia. E eu não quero foder as coisas entre a gente. Não por uma noite, não por isso. Eu sei o que parece, mas você tem que acreditar em mim, Má. Eu amo mesmo a Clá, é com ela que eu quero ficar. É só que... – balancei a cabeça, confusa – ...às vezes, com a Mia, e-eu... não sei, eu não consigo evitar. Eu amei ela por, por tanto tempo e, e me fode demais a cabeça.
_Eu acredito, linda. Só acho que você não pode continuar assim, querendo as duas coisas... – argumentou – ...ou alguém vai se machucar.
_Espero que saiba o que vai fazer, flor...