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janeiro 12, 2010

Coragem, coragem

_Fer... Feeer... Fernando... Fernaaando... – eu sussurrava, ajoelhada ao lado da cama, sacudindo-o no escuro – Acorda... Feeeer...
_O q-que foi? – ele murmurou, sonolento, sem abrir os olhos.
_Eu preciso roubar sua namorada.
_O quê? – ele despertou, assustado – Do que cê tá falando?!
_Só um pouquinho. Assunto de extrema importância. Eu te devolvo logo.
_Mano, puta merda – deixou-se cair de novo na cama, ainda com sono – Cê tá bêbada?
_Muito.
_Deus do céu... Você não vai vomitar, vai?
_Talvez – respondi, com um quê de verdade – Me empresta ela, vai? Chama aí pra mim.
_Fique à vontade... – ele respondeu, meio dormindo, e pude ouvi-lo a balançando no escuro – Amor, acorda, emergência aqui.
 
A Mia estava do lado da cama que encostava na parede. Fora do meu alcance. Alguns chacoalhões depois, ela despertou e se levantou, me acompanhando até o corredor, sem entender o que estava acontecendo. E nem abrir os olhos direito. Parei com ela em frente ao meu quarto e pedi que entrasse.
 
_Mas não é melhor você ir para o banheiro? – cochichou.
_Eu n-não vou vomitar – retruquei, ofendida – Eu t-tô ótima.
_Você não me parece nada “ótima”... – ela levantou as sobrancelhas – ...quanto você bebeu?
_Ah, só entra aí logo!
 
A empurrei para dentro do meu quarto e fechei a porta.
 
_Você perdeu a cabeça? Que cê tá fazendo?!
 
Se virou para sair de novo e a segurei pelos braços.
 
_Olha... – disse, a olhando nos olhos – ...se eu não estiver incrivelmente bêbada, eu não vou resolver isso nunca.
 
Ela suspirou, sabendo do que se tratava, e cruzou os braços.
 
_E-eu queria me desculpar. Por tudo. Pela f-forma como eu ando agindo, p-pela Clara...
_Você não precisa se desculpar pelas minas com quem você sai – ela me interrompeu.
 
Ah, tá. Falou a que não se incomoda.
 
_Mia...
_Faz o que você quiser, meu, eu não tô nem aí! Você não tem que se desculpar por isso...
_Mas por ter te beijado, sim.
 
Ela ficou quieta e olhou para baixo, na mesma hora. Parecia não querer falar no assunto. Droga. Não sabia o que dizer. Senti como se tivesse tocado no tema proibido – a Mia subiu os olhos novamente em minha direção, irritada.
 
_Por que você foi fazer aquilo?
 
Me perguntou irritada, aos cochichos.
 
_Eu... e-eu não sei.
_Como “não sabe”??
_Não sei, porra! Olha, Mia, eu sou uma idiota, e-eu...
_É, você é mesmo!
_Você me odeia?
 
Olhei para ela, arrependida. Sentia uma insegurança horrível – como se tivesse colocado tudo a perder. Porque não ter a Mia era difícil, sim, mas só de pensar em não sermos mais tão próximas me embrulhava o estômago. Cacete. A Mia olhou para baixo e ficou em silêncio por alguns segundos. Estava descalça e com as pernas descobertas, numa blusa velha e larga do Fer.
 
_Claro que não – disse de volta, constrangida.
 
E eu sorri.
 
A Mia me deu um abraço – desses horríveis, bem de amiga – e nos olhamos. Nós duas rimos. Ela voltou para o quarto do Fer e eu pulei na cama, feliz, como uma adolescente. O sentimento não durou muito. Amanhã vai ser o pior dia da minha vida, concluí, ao me dar conta da ressaca arrasadora que me aguardava. Ainda assim, num ato de coragem, motivada pela imensa quantidade de álcool no meu sangue, fechei os olhos. E dormi.

2 comentários:

Unknown disse...

Estava anciosa à espera de uma postagem sua .. estou adorando. Parabéns!!

Anônimo disse...

"De amiga" HAHA