Ficar sozinha com a Mia entre quatro paredes era sempre
complicado. Mas ficar sozinha com a Mia entre quatro paredes e o Fer no
apartamento, ah, aí já era bem
mais complicado. Eu podia sentir cada batida do meu coração. Só por estar ali
com ela. Os seus dedos entre os meus, a sua pele contra a minha. Frustrada com a saída da Dani, esse era
exatamente o tipo de situação que provocava a minha impulsividade. Simplesmente
não podia confiar em mim mesma – não com a Mia.
Não posso me
meter a fazer besteira, pensei. E me segurei
para não olhar na sua direção – mas podia sentir os seus olhos em mim o tempo
todo. O seu braço junto ao meu. A sua respiração, sua atenção, a situação mal
resolvida entre nós. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Depois de eu mentir
descaradamente sobre “estar bem”, é. Bem ao lado dela. Para a
minha sorte, a música tocando ao fundo quebrava todo o possível clima que
pudesse se insinuar entre nós. O rádio ecoava pelo quarto, mudando entre faixas
gritadas.
_Cê sempre ouve isso... – a Mia riu, quebrando o silêncio –
...na fossa?
_Fossa? Olha, cê tá dando muito crédito para a Dani...
_Tô?
_Eu fiquei puta porque ela armou aquela ceninha, não porque ela foi embora... – digamos, parcialmente verdade – E que cê tem contra Stiff Little Fingers, afinal?
_Nada. Mas ouvir punk irlandês na bad é meio nada a ver, né...
_Ah, é?! – me revoltei, rindo.
_Posso? – perguntou, como se pedisse minha permissão para trocar de faixa.
Ergui as mãos dando o aval, soltando as dela por um instante. Que erro.
A Mia se levantou, ficando de joelhos, e apoiou uma das mãos para
lá das minhas pernas cruzadas no chão. Esticou o seu corpo a dois palmos acima do
meu, praticamente de quatro em cima de mim, alcançando o rádio com a outra mão –
aí começou a rodar a playlist do meu iPod lentamente, bem lentamente. E eu ali,
encurralada. Mano, eu juro, ela faz essas
coisas de propósito, me estressei, tentando ficar na minha.
Não me movia nem um centímetro, grudada contra a parede, tentando
a qualquer custo não esbarrar nela. Para não começar nada. É. Esse
é o pior sofrimento que uma garota pode passar nessa vida – ver a mina que cê
gosta, assim, e ter que se conter no lugar. Cacete. Claro que
seria bem menos agonizante se eu não insistisse em ficar a observando daquele
jeito, irremediavelmente apaixonada, mas eu não conseguia evitar. Simplesmente
não conseguia tirar os olhos daquela curva, sabe aquela, a que as suas
costas faziam, subindo para o seu quadril e... puta merda, não. Não tem como.
Respirei fundo.
Desavisada, a Mia fez qualquer comentário sarcástico sobre a minha
lista de músicas e eu forcei um sorriso meia-boca, sem realmente prestar atenção
no que dizia – a minha atenção estava toda nos quinze ou vinte centímetros de absolutamente nada que separavam o meu
corpo do dela. Caralho, viu. Ela tão
perto assim e o Fer, o Fer, ali, no cômodo ao lado. Respirei fundo até
que a Mia, por fim, escolheu uma música deprê do Velvet Underground. À medida
que começou a voltar para sentar-se ao meu lado, entretanto, a coisa toda desandou.
Estava com uma calça cinza de moletom, dessas de ficar em casa, e
uma camiseta oversized cortada em um cropped revelando a sua cintura. Notei
a sua barriga se dobrar, curvando-se suavemente. E um pedacinho do seu sutiã,
sob o tecido mal cortado com tesoura. Deslizando no ar, ela foi voltando diante
dos meus olhos, quase em câmera lenta. Apoiou uma das mãos entre as minhas
pernas cruzadas, numa ré de desgraçar a cabeça. E eu engoli seco. A Mia subiu
os olhos na minha direção e a minha expressão me denunciou. Então ela parou – bem
no meio do caminho.
_O que foi?
Me perguntou, sua respiração a denunciando de volta. Não faz isso, garota, hesitei. A uma distância pequena demais para não querer atravessar aqueles
poucos centímetros.
_O que cê disse pro Fer?
_Pro Fer?
_O que ele acha que estamos fazendo, Mia?
_Eu disse que ia ver como cê estava... – ela respondeu e eu inclinei a cabeça para trás, tentando me controlar – ...q-que, que talvez cê quisesse conversar.
O meu coração já estava prestes a sair pela boca.
_Eu não quero conversar...
Murmurei, e o olhar dela não se moveu do meu.
_E o que cê quer fazer, então?
Eu quero
arrancar sua roupa e te colocar na parede, porra.
_Fossa? Olha, cê tá dando muito crédito para a Dani...
_Tô?
_Eu fiquei puta porque ela armou aquela ceninha, não porque ela foi embora... – digamos, parcialmente verdade – E que cê tem contra Stiff Little Fingers, afinal?
_Nada. Mas ouvir punk irlandês na bad é meio nada a ver, né...
_Ah, é?! – me revoltei, rindo.
_Posso? – perguntou, como se pedisse minha permissão para trocar de faixa.
_Pro Fer?
_O que ele acha que estamos fazendo, Mia?
_Eu disse que ia ver como cê estava... – ela respondeu e eu inclinei a cabeça para trás, tentando me controlar – ...q-que, que talvez cê quisesse conversar.
29 comentários:
porra digo eu, né? hahaha delícia de post! quero maaais!
Já pode morrer? Peraí que vou ler tudo de novo mais uma vez.
Aí, esquentou! Ufa....
Como "O" rabo de saia faz a diferença, não!?
heuauehasa quero o prooximo!!!!
Aconteceu. Juro. Aconteceu isso comigo hoje e eu tenho testemunhas.
Mas eu não gosto tanto assim dela, como a protag da Mia.
Mas aconteceu. E reler isso, me tira o folêgo! (Ah, ok, ninguem estava mexendo no som e não houve o dilogozinho bonitinho no final, mas ela tava ali, assim como a Mia... AIAIAI!)
porra...é....ela é sensata...
e espero que ela faça o que ela quer no próximo post *-*
Voltei aqui pq tive de ler de novo! Cara, ela realmente considera o Fer, né! Q controle! Tem TeamFM? Tô nele! A sim, se ela se descontrolar eu continuo nele!
AEAE a Mia voltou COM FORÇA, literalmente! Adoro a sintonia dessas duas. (6)
um dia vc ainda me mata do coração.
A GFM já pode ensinar a Mia como se faz tudo certinho hihihi
Parece aqueles finais de episódio de Lost. Sacanagem... rssss...
a mia nao tá rindo na cara do perigo, como diria o simba (tá, a comparação "fucking mia-rei leão" nao foi muito feliz)
isso tá arriscado demais, nao façam nada, vocês duas!!!
Já que elas estão se controlando até agora, da pra aguentar mais um pouquinho até a Mia ir no quarto do Fer e mandar ele ir comprar cigarros, cerveja, sei lá, qualquer coisa que o coloque pra fora do apartamento, né?
TeamDevassa!
que lindo alguem que compara finais de Fucking Mia com os de Lost.. assim como eu.. (ps. lost ta tenso) hehe
ahh, a Mia está muiiiiiito errada sobre Dropkick Murphys.. muiito, ok?!
sem mais,
RrRrr! ;*
Ai...que coisa hein!
UI!
Tenso é poko!
É melhor mesmo elas darem um jeito do Fer sair do AP. pq isso está me cheirando a um flagra daqueles!
Vivendo perigosamente by F.M.!
Hhauhuahauh!!!MEGA BOM!!!
ah!! preciso comentar.... preciso... meu primeiro pensamento, desculpem a indelicadeza mas foi: CARALHO! assim ... de boca cheia... sabe a sensação? daquele c... bem dito... que post... perfeito.
Men,que delicinha de leitura \o/
... PERFEITO!
Podia ter atualizações diarias hein?? ahahhahaha principalmente nesses momentos!!!
às vezes eu acho q conheço a FM... sei lá, ela simplesmente me vem à mente como se fosse uma amiga, ou conhecida ou whatever... post magnífico! posta MAIS e MAIS! beijinhos
Fato... Tá ten-so. Caralho, hahahaha.
Bem #lostfeelings mesmo +_+
Como o Fer não desconfia dela? ela é tão vadia ...
Como assim vadia?!?! Acho que perdi o conceito da palavra...
O Fer também dormiu com a Júlia, porque só a Mia é vadia?! Machismo da sua parte?
As relações humanas são complicadas e isso é uma das coisas que eu procuro explorar no blog... tome cuidado com os julgamentos simplistas, ok?
Caralho!
Fiquei uns dias poder ler nada, aí chego aqui e, além de todos os posts anteriores estarem geniais, esse aqui tá... caralho! :P
Muito bom. Agora, please, nada de cortar a alegria do pessoal no próximo post. *-*
Os detalhes das relações do blog me inspiram pra caralho. Amo. <3
"Fiquei grudada na parede, sem me mover um centímetro para frente, tentando a qualquer custo não encostar nela. É o pior sofrimento que uma garota pode passar: olhar para aquela mulher, assim, e não poder se mexer, ter que se controlar, se obrigar a ficar na sua."
:/
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