_Me vê um cigarro... – pedi para a Mia – O meu acabou.
Estávamos a menos de um metro uma da outra, no fundo da escadinha,
apoiadas em paredes opostas daquele corredor estreito. Frente a frente. A Mia pegou
um no maço, já com outro aceso em sua mão. E sorriu, me encarando:
_Me diz... – brincou com o filtro entre os dedos, sem me entregar
a porra do cigarro – ...quem é “Marina”?
Arqueei as sobrancelhas, achando graça.
_Eu disse, minha ex-namorada.
_“Ex”? – perguntou, como se não acreditasse.
_É. Ex.
_Que tipo de ex? – continuou.
_Do tipo que não é mais minha – olhei para o cigarro, inquieta.
_Hum. Não sei como funciona... – a Mia retrucou, com um leve sorriso no canto da boca – ...com vocês, lésbicas, né... – o filtro girava entre seus dois dedos e ela prosseguia, maliciosa, sem intenção de me entregá-lo tão cedo – ...mas pro resto do mundo, sabe, não se dorme em casa de ex.
Ahh,
Fernando, seu desgraçado filho de uma égua.
_Olha, eu só falo tanto da Marina pro seu namorado... – tirei o
cigarro das suas mãos, sem ceder ao seu joguinho – ...para não falar de você,
Mia.
Os seus olhos encontraram os meus – era isso que você queria ouvir, não é, encarei-a de volta. E a Mia não
conseguiu esconder um breve sorriso, desta vez sincero. Acendi o meu cigarro e
ela me observou dar a primeira tragada, depois soltar a fumaça para o lado. Não
queria dar muita corda, preocupada com a quantidade de álcool que já circulava
dentro de mim e a minha consequente falta de autocontrole. Mas logo não
aguentei:
_Tava vendo você dançar lá em cima... – eu disse.
E traguei mais uma vez, conforme meus olhos percorriam a sua
silhueta, parada a poucos centímetros de mim, fumando também. Puta que pariu, mulher, pensei e senti
toda a minha imprestabilidade subir até a garganta, sentindo o seu gosto na
minha boca.
_E? – ela perguntou, com o cigarro aceso nas mãos.
_E nada. Só achei bonito.
_“Bonito”? – ela riu.
_Você e as suas amigas... – continuei, encarando-a com vontade contida no olhar, nitidamente querendo me referir a qualquer outra coisa que não aquilo.
_A gente, o quê?
_Dançando juntas.
_Hum. Prefiro dançar com você...
_Você tá bêbada... – desdenhei.
_Não – ela se aproximou do meu lado da parede, perdendo um pouco a noção do perigo – Eu tô tentando te dizer, pela terceira vez hoje, o quanto gostei que você veio.
_É? E de que adianta?! – ergui o queixo, a encarando – Não é comigo que cê vai ficar hoje, garota.
Traguei mais uma vez, agora amarga. Sentia o álcool começar a
afetar o nosso diálogo. A Mia encostou de novo na parede oposta, ainda me
olhando.
_Mas mesmo assim... – deixou escapar um sorriso – Você veio.
_É. Vim.
Eu vou
para qualquer lugar que você me chamar, garota.
Respirei fundo. Seus olhos continuavam fixos sobre mim. Então dei
um passo para frente, chegando realmente perto – o suficiente para causar um
problema sério caso alguém conhecido resolvesse passar pelo alto da escada e
dar uma olhada ali para baixo. A Mia permaneceu encostada na parede. E seus
lábios se entreabriram, se insinuando dum jeito desgraçado. Como incitasse uma
atitude minha. A iminência do beijo era implícita – e eu me aproximei. Mais
ainda, olhando-a de perto. Bem de perto.
Quis sentir o gosto da sua boca, desesperadamente.
Mas me contive – sabia do risco. Dei um passo de volta. E a encarei
por mais alguns segundos, em silêncio. O frio, vindo da porta ao nosso lado, já
começava a incomodar. A Mia ainda me olhava, imprestável, e eu tentava
não me deixar convencer pelo meu corpo inteiro, que a desejava de volta. Que porra eu vim fazer aqui, traguei
mais uma vez. E soltei a fumaça
lentamente, inquieta com a minha dificuldade de ficar perto dela. Nisso, de
repente, a voz da Brody Dalle invadiu o som da balada:
“This is not a love song”.
Os olhos da Mia brilharam automaticamente, numa felicidade de bêbado, conforme os alto-falantes nos ensurdeciam com o começo de “Beat your heart out” dos Distillers. Nossa primeira reação foi correr para a pista – jogamos os cigarros no chão, pisando na brasa o mais rápido possível e subimos apressadas pelos degraus. Ao chegar em cima, todavia, a segurei pela mão e a puxei para o lado oposto, na direção da outra escada. Ouvi-a reclamar qualquer coisa, e ignorei, arrastando-a à força junto comigo até a pista escura do segundo andar, onde uma massa não-identificável de pessoas dançava ao som de um hip hop qualquer. Em meio ao escuro absoluto, encostei-a na primeira parede que minhas mãos encontraram, perdidas entre as batidas graves que saíam dos amplificadores.
_O QUE DIABOS CÊ TÁ FAZENDO?! – ela brigou comigo, revoltada.
Busquei-a no escuro, com as mãos, e segurei o seu rosto perto do
meu, aproximando a minha boca do seu ouvido.
_Estou roubando sua música favorita.
_“Ex”? – perguntou, como se não acreditasse.
_É. Ex.
_Que tipo de ex? – continuou.
_Do tipo que não é mais minha – olhei para o cigarro, inquieta.
_Hum. Não sei como funciona... – a Mia retrucou, com um leve sorriso no canto da boca – ...com vocês, lésbicas, né... – o filtro girava entre seus dois dedos e ela prosseguia, maliciosa, sem intenção de me entregá-lo tão cedo – ...mas pro resto do mundo, sabe, não se dorme em casa de ex.
_E nada. Só achei bonito.
_“Bonito”? – ela riu.
_Você e as suas amigas... – continuei, encarando-a com vontade contida no olhar, nitidamente querendo me referir a qualquer outra coisa que não aquilo.
_A gente, o quê?
_Dançando juntas.
_Hum. Prefiro dançar com você...
_Você tá bêbada... – desdenhei.
_Não – ela se aproximou do meu lado da parede, perdendo um pouco a noção do perigo – Eu tô tentando te dizer, pela terceira vez hoje, o quanto gostei que você veio.
_É? E de que adianta?! – ergui o queixo, a encarando – Não é comigo que cê vai ficar hoje, garota.
_É. Vim.
Os olhos da Mia brilharam automaticamente, numa felicidade de bêbado, conforme os alto-falantes nos ensurdeciam com o começo de “Beat your heart out” dos Distillers. Nossa primeira reação foi correr para a pista – jogamos os cigarros no chão, pisando na brasa o mais rápido possível e subimos apressadas pelos degraus. Ao chegar em cima, todavia, a segurei pela mão e a puxei para o lado oposto, na direção da outra escada. Ouvi-a reclamar qualquer coisa, e ignorei, arrastando-a à força junto comigo até a pista escura do segundo andar, onde uma massa não-identificável de pessoas dançava ao som de um hip hop qualquer. Em meio ao escuro absoluto, encostei-a na primeira parede que minhas mãos encontraram, perdidas entre as batidas graves que saíam dos amplificadores.
21 comentários:
Eu digo pra mim mesma q tenho q deixar os posts acumularem para então lê-los, mas as 3:58 am, fui obrigada a ler =P
Ouuunnnn *-*
"Eu falo da Marina pra não falar de você"
"Estou roubando sua música preferida.."
Perfeito Mel! Perfeito! *-*
Criss Huhs
Sensacional Mel :)
Sou fã da FM Cara, essa menina tem uma atitude Fdp.. #Adoroooo
Parte pra cima dela FM.. a mia vai enloquecer!! huahuahuahah
Que forma sexy de terminar o post.
x)~
se prefere aqui, aqui será,rss
massa a Mia se insunuar, e a FM se segurar, não pode dar mto moleza não,hahaha..Como eseses posts conseguem ser cadaaa vez melhores?!
Caraca MEul, "Estou roubando sua música favorita", ai, ai...
Está cada vez melhor, mas não sei como isso é possivel...Totalmente elouquente...Adoro 8 x.
@Edflavia_ems
Bjs, e boa semana!!!
Mel esse post ta perfeito!! *-*
sério, não sei nem o que falar direito xD
gogo FM haha
bjs :*
Os ultimos post foram sensacionais!!! Não tem como não ser sua fã Mel, gostei demais dos detalhes dos ambientes e da tensão do momento.
Congrats Mel you Rock!
bj's
Tha
Sem palavras. Só... sem palavras.
FODA DEMAIS.
PER-FEI-TO. FM safadchênha se vingando da Mia por ter roubado as músicas dela, rs. Mas é pura maldade terminar o post assim hein. Esperando o próximo já *-* Parabéns, Mel.
MEU DEUS, EU NÃO ACREDITO QUE MEU COMENTÁRIO NÃO MANDOU. QUE ÓDIO. EU NÃO QUERO ESCREVER TUDO DE NOVO, MEL. TÕ MORRENDO E GRITANDO AQUI ATÉ AGORA. ):
ME LEMBROU UMA HISTÓRIA MINHA... TUAS FRASES, MEU DEUS... MEU DEUS,M EU DDEEEEEEEEEEEEUS! TÔ LOUCA AQUI. ESSE FOI O POST MAIS PERFEITO E EU NAO CONSIGO FALAR SEM GRITAR E... AH, MEU DEUS ):
adoreeeei como terminou...
mas estou começando a não gostar tanto assim da mia...
ela tem ciúmes da Devassa, mas largar o Fer q é bom nada, né?
tá na hora de tomar uma posição..
Perfeito esse post .. parabéns!!
Agora eu sofri, esse post tá fodão, nem queria ter conseguido acompanhar pra não ter que ficar nessa apreensão esperando post, gostava da liberdade de ler quando bem quisesse sem dependências, mas teu modo de escrever meu atraiu de tal maneira que não consigo mais...
Tu arrebenta menina, meus parabénss ;)
"Gente que se vinga", aaah como eu amo a FM ♥♥♥ *-*
"Estou roubando sua música favorita...", que feeling vc tem; maravilhosa metáfora aqui.Ótima!
Só pra constar: sou mestre em roubar músicas favoritas. Hahaha.
No momento em que elas estava, fumando, senti um misto de vontade da parte de ambas e impossibilidade. As reações do corpo da Mia demonstravam isso com clareza. Encostar na parede tradicionalmente faz parte do contexto ''me beija agora, porra!''
Parabéns pelo post, Mel. Você é incrível.
"_Estou roubando sua música favorita - justifiquei."
D-E-M-A-I-S Mel!
Acho que no fundo, todo mundo fica meio que imaginando as cenas e tal, mas esse trecho eu achei FODA DEMAIS! kkkkk foi mais do que só imaginar, foi ver a coisa acontecendo de fato! kkk
Acho que foi esse é um dos meus 'finais de post' favoritos!
Adorei, tá super bacana ;)
Nossa cara, eu amo a FM. Perfeito! As ideias, os fatos... O jeito como ela consegue guiar as ações para os seu (e nossos) desejos.
"-Estou roubando sua música favorita"
Adoro essa "serie". =]
Esse post tá FANTÁSTICO Mel.
parece que eu to ouvindo The distillers,parece que eu estou lá!
Como eu AMO esse post! <3
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