- »

março 08, 2010

Sobrecarga

Voltamos do supermercado 80 reais mais pobres cada. Com comida suficiente para quase um mês, considerando que nos alimentávamos terrivelmente mal. Bastava uns pacotes de macarrão e pizza congelada. Os engradados de cerveja davam para o fim de semana – ou talvez só para aquela noite, dependendo da nossa disposição. O Fer deixou todas as compras comigo e enquanto eu chutava, digo, carregava cuidadosamente todas as sacolas elevador adentro, ele deu um pulo na boca da Paim para arranjar o estoque da semana.
 
Cheguei no nosso andar, atolada de sacolas, empurrando um dos engradados com o pé. Completamente sobrecarregada. Por que fui insistir pra irmos no mercado?, resmunguei mentalmente, atribuindo a culpa a mim mesma. Virei o corredor com certo esforço, destruindo as compras pelo chão, e dei de cara com a Mia. Parada ali, em frente à porta do nosso apartamento. É claro, respirei fundo, com quem mais essas merdas iam acontecer?
 
_Oi – ela disse, enquanto eu equilibrava as compras e tentava virar a chave na porta.
_Oi, Mia...
 
Respondi, indiferente.
 
_O porteiro me deixou subir, mas cheguei aqui e cês não tavam. O Fê... – me olhou, desconfortável, como se o nome dele fosse proibido de repente – ...n-não foi com você?
_Como cê pode ver... – falei, ainda tentando virar a chave – ...a gente foi no mercado. Mas o Fer quis passar lá na Paim, já, já ele deve chegar...
_Cê quer ajuda aí? – me perguntou, como se eu estivesse prestes a derrubar todas as sacolas.
_Não.
 
Respondi e, enfim, consegui virar a porra chave.
 
_Só traz o engradado, por favor – pedi, entrando no apartamento.
 
Fui direto para a cozinha e deixei todas as sacolas sobre a mesa. A presença da Mia ali me irritava. Alojamos todas as compras em seu devido lugar, a começar pelas de geladeira. Ela tentou iniciar a conversa várias vezes, mas eu cortava todas as suas iniciativas. Não tô afim dessa merda. A verdade é que eu não queria falar com ela. Não depois de passarmos uma noite daquela juntas e ela ter a cara de pau de aparecer na casa do namorado, no instante seguinte, como se nada tivesse acontecido. Vai se foder, na moral. Terminei tudo numa velocidade impressionante, disposta a sair logo dali.
 
E aí me fechei no quarto.
 
A Mia ficou sozinha na cozinha, por um tempo – mas não demorou muito, claro, até vir bater na minha porta. Por favor, só vai embora. Eu não queria atender, não queria abrir a droga da porta. Segurei a maçaneta com uma das mãos, relutante, mas sabia que não tinha escolha – eu já tinha a deixado entrar, antes mesmo dela sequer bater.

3 comentários:

Mari disse...

Sensação estranha. Misto de frio na barriga com vontade de bater em alguém ou sair correndo. O.o iiirgh

Anônimo disse...

eu gosto taaaaaanto das suas metaforas :}

Juliana Freitas Toque de SPA disse...

Meeeeeeeeeeeu deus...........