Duas derrotas depois e eu perdi o ânimo de jogar. Sapatão de merda. E aí desandou – o
excesso de bebida e a falta recorrente de dinheiro começaram a ter o efeito
contrário em mim. Droga. Toda
distração momentânea daquele rolê escapava por entre meus dedos, o barulho no
bar parecia aumentar com as horas, as cervejas não paravam mais de vir e a
minha cabeça já rodava de um jeito desagradável. E o que é pior, o meu coração
começava a ficar sóbrio.
Me larguei sentada numa cadeira qualquer, mergulhada nuns
pensamentos errados. E então, fiz o que não deveria – peguei o celular na mão e
o segurei ali. Como se fosse tocar a qualquer momento, numa insistência bêbada
e burra. Inconscientemente desejando que a mensagem daquela tarde não fosse a
última. Que ela mudaria de ideia e me escreveria, que me salvaria de mim mesma.
A Mia. Ah, a Mia. Eu nunca deveria ter me esforçado tanto para
não pensar nela. Não por tanto tempo. O tiro começava agora a sair pela culatra
e a desgraçada voltava violentamente para o meu peito. Como se nunca o tivesse
deixado.
E de fato, não tinha.
Inferno. Me
ajeitei contra o encosto, desconfortável. Então larguei o celular na mesa à
minha frente e meti as mãos nos bolsos da calça, me afundando naquela cadeira
de plástico. Encarava o telefone fixamente, sentindo a cerveja se misturar com
a lembrança ainda viva de duas noites antes, dos nossos beijos e de como eu a
amava, como a queria, e não a tinha, embriagando os meus sentimentos
mais amargos. E o resultado é que eu tive que sair dali. Não podia mais ficar. Não
assim – emburrada e calada em um canto, contemplando obsessivamente a ausência
da Mia no meu telefone na minha vida. Não. Insisti até não dar mesmo
para aguentar, aí inventei qualquer desculpa para a minha amiga – que a esta
altura já estava pegando a caminhão do chinelo – e me coloquei a caminho de
casa.
Como deixei
chegar a esse ponto, porra, pensei, enquanto acendia um cigarro, irritada.
Me revoltava a saudade que eu sentia de estar com ela, a solidão que me tomava
de repente, conforme soltava a fumaça no ar e atravessava a rua em direção à
Frei Caneca. Droga. Então tentava me
lembrar do que a Marina costumava dizer, que “ninguém sabe o que tá fazendo,
todo mundo tá na mesma merda”, mas aquilo não me fazia sentir melhor.
Passei em frente à banca próxima ao meu prédio e, em poucos
minutos, já estava de volta em casa – de onde eu sequer deveria ter saído. Atravessei
pela sala, pelo corredor e entrei no quarto. E não, não havia ninguém ali. De
novo. Sábado à noite, concluí a
contragosto. Eu já havia aprendido a lógica, mas parte de mim não queria se
lembrar. Deixei a carteira e o maço em cima da cama e fui para o banheiro, numa
tentativa de esfriar os ânimos.
Eu não devia ter falado nada, me arrependia, enquanto arrancava a
camiseta do corpo e a largava no chão, não devia ter mandado porra de
mensagem nenhuma. Argh. Me sentia uma idiota. Uma porra duma idiota. Como
se tivesse me exposto à toa, dizendo que queria vê-la, o quanto tinha gostado,
perguntando se estava com ele, quando o seu silêncio na sexta e naquela manhã
já tinha sido claro o suficiente. Por que eu não fiquei quieta? Pelo menos
eu ia me poupar de... Argh. Tirei o celular do bolso da calça e o abri, num
impulso, olhando para a mensagem da Mia mais uma vez. Caralho. E se ela se
arrependeu?
Não. Coloquei o telefone de lado. Chega. Eu não posso entrar nessas. Tirei a calça e entrei no chuveiro frio, determinada a não remoer mais os meus sentimentos. E por uns minutos, deixei a água escorrer na minha nuca para amenizar a dor de cabeça e aquele peso nos meus ombros. Saí do banho me sentindo melhor e desliguei o telefone, indo para o quarto me trocar. De camiseta-de-ficar-em-casa dos Stooges e banho tomado, por fim, tentei me forçar a dormir para acabar logo com aquele dia de merda.
Uma hora,
tem que passar.
Não. Coloquei o telefone de lado. Chega. Eu não posso entrar nessas. Tirei a calça e entrei no chuveiro frio, determinada a não remoer mais os meus sentimentos. E por uns minutos, deixei a água escorrer na minha nuca para amenizar a dor de cabeça e aquele peso nos meus ombros. Saí do banho me sentindo melhor e desliguei o telefone, indo para o quarto me trocar. De camiseta-de-ficar-em-casa dos Stooges e banho tomado, por fim, tentei me forçar a dormir para acabar logo com aquele dia de merda.
4 comentários:
pior que eh assim mesmo.... =/ =/
Um dia toda essa perturbação vai passar, Devassa. Acalme-se.
Um dia toda essa perturbação vai passar, Devassa. Acalme-se.
Isso passa sim, mas infelizmente passa na hora em que nos damos conta de que estamos fazendo papel de boba, esperando e lutando por alguém que nunca vai assumir os riscos de tal relação, que nunca vai se assumir, te assumir, que não vai dar à cara a tapa e que indiretamente te dá a entender que; por mais "amor"(ou atração) que exista entre vcs; tu não vale tais atos. Aí é tarde, pq tu já sofreu horrores, talvez tenha sentido na pele teu próprio veneno, mas aprendeu a lição com a dor e viu que vai chegar o momento em que tu vais cansar e o amor acabar. E aí, tudo é festa de novo FM!
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